A pandemia causada pela Covid-19 foi considerada a maior crise sanitária do último século. Em decorrência do avanço da doença pelos países, vivemos longas medidas de quarentena, superlotação de hospitais, corrida pelo desenvolvimento da vacina em tempo recorde, dentre uma série de acontecimentos.
Em 5 de maio de 2023, a OMS anunciou o fim da pandemia de coronavírus que deixou pelo menos sete milhões de pessoas como vítimas fatais do vírus em todo o mundo. Entretanto, a declaração da entidade é encarada como um fim simbólico. Afinal, o que isso significa? A pandemia acabou ou não?
Acompanhe este texto da Politize! e saiba o que significou o anúncio de fim da pandemia declarado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Veja também o nosso vídeo sobre o mundo pós coronavírus!
O que a OMS disse sobre o fim da pandemia?
Em 5 de maio de 2023, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o fim da Emergência de Saúde Pública da pandemia da Covid-19 em todo o planeta. O anúncio ocorreu mais de três anos depois que a pandemia foi decretada pela entidade, em 2020, quando o quadro era de explosão do número de casos e mortes pelo vírus.
“É com grande esperança que declaramos que a covid-19 não é mais uma emergência global”, foi o que disse o diretor-geral da entidade, Tedros Adhanom.
A decisão de declarar uma doença como emergência de saúde global ocorre em um comitê formado dentro da OMS no qual os membros do conselho se reúnem para debater se a situação representa ou não uma emergência global.
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Foi o que ocorreu em janeiro de 2020, quando os membros do comitê concluíram que a infecção pelo vírus representava um risco mundial. Em 2023, durante reunião do dia 4 de maio, o grupo entendeu que a doença já não representava mais uma preocupação para o mundo.
Ao longo de três anos, foram quase sete milhões de mortes e, em 2023, a Covid-19 já não é mais considerada Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII). O próprio diretor-geral da OMS considerou a decisão como esperançosa, porém essa conclusão não significa que a pandemia chegou ao seu final, pois a doença ainda representa um risco.
Além disso, durante a entrevista coletiva de anúncio da OMS, o líder do comitê de emergência, Didier Houssin, afirmou que a Covid-19 permanece como uma endemia, ou seja, uma doença recorrente em uma determinada região e que, mesmo que não haja aumento significativo no número de casos, a população convive com ela. Um exemplo de doenças de caráter endêmico é a dengue no Brasil, pois há aumento de casos recorrentes durante o verão em determinadas regiões do país.
O que fez a OMS declarar o fim da Emergência de Saúde Pública
Didier Houssin afirmou que o debate já estava sendo feito há alguns meses e a decisão possui três motivos:
- Apesar do vírus permanecer em circulação em todos os países, a mortalidade diminuiu e os níveis de imunidade cresceram devido a vacinação em massa;
- A OMS acredita que esse seja o momento de mudar a estratégia e diz que a ferramenta para lidar com a Covid-19 deve estabelecer recomendações mais permanentes, já que as recomendações existentes até o momento eram temporárias. A adoção de uma medida permanente permitirá analisar melhor os riscos e emergências;
- O comitê compreende que a OMS pode convencer o mundo de que o momento não é de baixar a guarda, apenas de adotar uma estratégia diferente.
O Comitê de Emergência sobre a Covid-19 levou em consideração, ao longo de 15 reuniões, a tendência decrescente nas mortes por Covid-19, a queda no número de hospitalizações e internações devido à infecção e o alto nível de imunização da população.
Emergência de Saúde Pública e pandemia são coisas diferentes
Em vídeo publicado no canal da OMS, Maria Van Kerkhove, diretora técnica responsável pelo combate à Covis-19, explicou que há diferença entre uma Emergência de Saúde Pública de Interesse Nacional e uma pandemia.
“Na situação da covid, estamos tanto em uma emergência de saúde pública de interesse internacional quanto em uma pandemia. Embora tenhamos ouvido o diretor falar sobre a capacidade do mundo de se unir e acabar com a emergência este ano, em 2023, ainda podemos estar em uma pandemia por algum tempo, porque esse vírus está aqui conosco para ficar”, afirmou a diretora.
Segundo Kerkhove, a Emergência de Saúde Pública representa o alerta máximo que a OMS pode dar, de acordo com o Regulamento Sanitário Internacional, que define como “evento extraordinário determinado a constituir um risco de saúde pública para outros estados através da disseminação internacional de doenças e potencialmente requerer uma resposta internacional coordenada”. Dessa forma, o alerta representa uma situação grave, repentina, incomum ou inesperada.
Já uma pandemia ocorre quando uma nova doença infecciosa afeta a população mundial. Declarar uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional faz parte do processo de coordenar uma ação imediata para evitar que o evento tenha efeitos ainda maiores, podendo tornar-se uma pandemia.
Por isso, o fim da situação de emergência de saúde pública não significa que a Covid-19 não possa mais ser classificada como pandemia, pois a disseminação ainda ocorre em nível global.
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Mas, então, o que significa esta declaração, afinal?
Esse é o momento dos países realizarem a transição do modo como está sendo feito o gerenciamento da Covid-19, ou seja, é o momento de adotar estratégias de combate ao vírus juntamente a outras doenças infecciosas.
O que os países não devem fazer após esta declaração é diminuir os cuidados em relação à doença, nem informar que à população a Covid-19 não deve mais ser motivo de preocupação.
É possível que a pandemia volte a ser uma emergência global caso surja uma nova variante com alto impacto. Adhanom diz que “Esse vírus veio para ficar. Ainda está matando e ainda está mudando. Permanece o risco do surgimento de novas variantes que causam novos surtos de casos e mortes.”
Nesse contexto, o diretor informou que o comitê de emergência voltará a ser convocado novamente caso a doença volte a representar um risco global. Além disso, o diretor usará uma disposição do Regulamento Sanitário Internacional para estabelecer um Comitê de Revisão a fim de criar recomendações permanentes de longo prazo para orientar os países a como gerenciar a Covid-19 de forma contínua e eficaz.
Ainda precisamos tomar a vacina contra a Covid-19?
Apesar de ter sido declarado o fim da emergência global, o diretor da OMS destaca que a Covid-19 não deixou de ser uma ameaça à saúde global. Portanto, o fim da pandemia não significa o fim das vacinas.
Segundo Adhanom, na última semana de abril registraram cerca de uma vítima a cada três minutos, milhares de pessoas seguem na UTI e milhões vivem sob os efeitos da síndrome pós-covid.
A imunização é, portanto, a principal estratégia de prevenção, principalmente para os grupos considerados de risco, como idosos e imunossuprimidos, por exemplo. O Ministério da Saúde ressalta que vacinar segue sendo fundamental contra casos graves e mortes, mesmo com o fim da emergência. A ministra da saúde, Nísia Trindade, aponta que o anúncio da OMS é uma comprovação de que “a vacinação salva vidas”.
De acordo com o boletim InfoGripe, da Fiocruz, houve crescimento de casos de covid em 17 estados, o que evidencia que é preciso a mobilização para ampliar a cobertura vacinal e, em nota, o Ministério da Saúde defende ainda que é preciso combater a desinformação que questiona a segurança e a eficácia da vacina.
E o que muda efetivamente após a declaração da OMS?
Sobre o cenário, a ministra disse ao Estadão que isso significa que “muda apenas a ideia de que estamos em um novo patamar […]. O Brasil e vários países já vinham com recomendações para situações de aglomeração, mas sem mais as mesmas restrições do início da pandemia.”, conclui a ministra.
Em resumo, a vacinação em massa mostrou-se segura e eficaz para a proteção contra internações e mortes, porém ainda não detém a transmissão do vírus, por isso, os cuidados devem permanecer já que novas variantes, com maior eficiência de transmissão, continuam a surgir.
Qual é a situação do Brasil em relação à Covid-19?
Desde 2020, de acordo com a OMS, o vírus Sars-CoV-2 provocou cerca de 765,2 milhões de casos e quase sete milhões de mortes em todo o globo. Especialistas ainda lembram que, devido ao acesso desigual a testes e ao sistema de saúde, muitos casos foram subnotificados, portanto, esses números podem ser ainda maiores. Adhanom acredita que em relação aos óbitos, o total pode ser de pelo menos 20 milhões.
O Brasil, nesse contexto, foi um dos mais afetados pela doença desde de fevereiro de 2020, período em que a Covid-19 chegou ao país. O Ministério da Saúde registra mais de 37,4 milhões de infecções e 701,4 mil mortes até abril de 2023.
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As primeiras doses do imunizante começaram a ser aplicadas em janeiro de 2021 e, com isso, foi possível notar a queda de casos e mortes.
Segundo o Estadão, 10 países foram responsáveis por 58,6% das mortes por Covid no mundo e sete países representam mais da metade dos casos.
Confira nas tabelas abaixo os 10 países com maior número de casos e mortes.
Mortes | |
EUA | 1.124.063 |
Brasil | 701.494 |
Índia | 531.564 |
Rússia | 398.366 |
México | 333.908 |
Reino unido | 224.106 |
Peru | 220.122 |
Itália | 189.738 |
Alemanha | 173.044 |
França | 162.868 |
Casos | |
EUA | 103.266.404 |
China | 99.248.443 |
Índia | 44.952.996 |
França | 38.930.489 |
Alemanha | 38.403.667 |
Brasil | 37.449.418 |
Japão | 33.720.739 |
Coréia do Sul | 31.176.660 |
Itália | 25.788.387 |
Reino Unido | 24.581.706 |
Há riscos de outra pandemia?
A OMS afirma que o fim da emergência global não significa que novas doenças epidêmicas possam aparecer. Exemplo disso foi o avanço da varíola dos macacos, embora seu impacto tenha sido em escala menor que a Covid-19.
Segundo a Folha de SP, o desmatamento, o tráfico e consumo de animais selvagens ou produtos derivados deles, o avanço indiscriminado da agropecuária e até mesmo a crise climática, são uma máquina de geração de pandemias.
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Entretanto, há solução para algo que parece não ter saída. O monitoramento de potenciais riscos e o investimento em vacinas podem evitar danos a longo prazo.
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O que esperar do futuro a partir de agora?
A OMS desenvolveu um plano estratégico de resposta à Covid-19 para ser aplicado no período de 2023 a 2025. No documento, a entidade orienta que os países devem trabalhar arduamente para vacinar pelo menos 70% da população mundial.
O quadro até o primeiro semestre de 2023 é de grande lacuna na imunização de países de baixa e média renda, além disso, a cobertura de reforço está muito baixa globalmente, de acordo com a OMS.
Portanto, por mais que a Covid-19 volte a causar novas crises, os países devem ter ferramentas para garantir que não resultem em doenças mais graves ou em ondas de morte.
O diretor da OMS também pede que países não baixem a guarda:
“O que esta notícia significa é que é hora de os países fazerem a transição do modo de emergência para o gerenciamento da covid, junto a outras doenças infecciosas.”, diz Adhanom em entrevista coletiva de anúncio da OMS.
O próximo passo da Organização Mundial da Saúde é estabelecer um Comitê de Revisão para criar recomendações permanentes de longo prazo para orientar os países sobre como lidar e gerenciar a doença a partir de agora.
E aí, conseguiu entender o que a OMS declarou como fim da pandemia? Deixe sua opinião nos comentários!
Referências:
- Estadão – OMS decreta fim da emergência de saúde da pandemia de covid-19 após três anos
- Folha de São Paulo – OMS declara o fim da emergência de saúde da pandemia de Covid, a mais devastadora deste século
- CNN Brasil – Anúncio da OMS ainda não significa o fim da pandemia de Covid-19; entenda
- GZH Saúde – OMS declara o fim da emergência global de saúde de covid-19
1 comentário em “Fim da pandemia da Covid-19: entenda a declaração da OMS”
Maior pandemia “do último século” ? Não seria do século atual ?