Crítica, investigação e história: conceitos tão importantes para a filosofia e que, dependendo da combinação, podem assumir diferentes conclusões sobre a realidade e as relações sociais. Para o filósofo e professor alemão Friedrich Nietzsche, noções capazes de esclarecer determinadas “verdades” referentes tanto à individualidade como à convivência entre os seres humanos.
Conhecido como filósofo do martelo, Nietzsche deixa em seu legado filosófico a metáfora de abordar polêmicas socias “a marteladas”, ou seja, desmembrando determinadas premissas sociais, a fim de verificá-las como verdades ou falsas opiniões.
Ao longo do tempo, o pensamento de Nietzsche tem sido amplamente lido, ensinado e debatido, influenciando significativamente os conhecimentos dos séculos XX e XXI.
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Quem foi Friedrich Nietzsche?
Friedrich Wilhelm Nietzsche nasceu em 15 de dezembro de 1844, na região da Saxônia, então parte do antigo territótio da Prússia (Alemanha hoje). Filósofo, filólogo (analista histórico de documentos escritos) e professor, ele demonstrou ao longo de sua formação uma profunda atenção à arte, música e teatro.
Nietzsche também escreveu diversos livros, sendo alguns dos principais: A Gaia Ciência (1882), Assim falou Zaratustra (1883), Além do bem e do mal (1886), Genealogia da Moral (1887) e O Anticristo (1888). Iniciou seus estudos em Teologia e Filologia na Universidade de Bonn, transferindo em seguida para a Universidade de Leipzig, ambas na Alemanha. Tornou-se professor universitário com apenas 24 anos de idades, lecionando na Universidade de Basileia, na Suíça.
Filho de um pastor luterano, e descendente de avós protestantes, o filósofo desenvolveu uma relação complexa com a religião. Ele buscava entender as estruturas de crença e a moralidade que moldavam o pensamento ocidental, desafiando os valores estabelecidos e propondo novas perspectivas sobre a vida e a existência.
Além disso, Nietzsche foi um leitor assíduo de Arthur Schopenhauer, sendo inicialmente inspirado por suas ideias, mas, com o tempo, passou a desenvolver críticas e discordâncias filosóficas em relação a ele.
Seu falecimento ocorreu em 25 de agosto de 1900, em meio a complicações de enfermidades adquiridas enquanto jovem e episódios de delírio psicológico. Nos seus últimos anos de vida foi cuidado por sua irmã, Elisabeth Förster Nietzsche. Após a morte de Nietzsche, ela obteve os direitos sobre seus manuscritos e se dedicou a preservar e divulgar seu pensamento, mas também o reinterpretou de maneira a se alinhar com suas próprias crenças.
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As principais ideias de Nietzsche
O pensamento de Nietzsche passa por muitas questões voltadas, principalmente, para a investigação da moral e dos valores. Atravessando o ramo da filosofia, da história e da psicologia, o autor investigou a origem da estrutura de ideias e preferências dominante de seu tempo, escrevendo sobre a sociedade em seus sentidos mais profundos.
Entender de onde vem a vontade humana, sob quais influências os seres humanos baseiam suas decisões, o que é a vida e qual a melhor forma de vivê-la são algumas de suas principais indagações. Ao examinar os conceitos de niilismo, super-homem, eterno retorno e potência, podemos compreender melhor os pensamentos e ideias de Nietzsche.
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O niilismo de Nietzsche
O termo niilismo, de modo geral, diz respeito à relação de negação, não aceitação ou descrença em propósitos, valores e princípios. Na filosofia elaborada por Nietzsche, há o reconhecimento da existência e consequências do niilismo, mas o filósofo não se considerava niilista.
Para Nietzsche, o niilismo não é apenas uma negação da realidade, mas uma crise cultural que surge quando as bases morais e espirituais da sociedade são abaladas.
Nietzsche critica os valores morais predominantes em sua época, especialmente a maneira como as pessoas interpretavam o mundo. Ele via a religião, um dos pilares da moralidade, como algo que esconde a verdadeira essência da vida. Segundo ele, a religião e suas teorias sobre a morte funcionam como “muletas” que afastam as pessoas das preocupações e angústias existenciais.
Essa influência da religião, de acordo com o filósofo, impede que as pessoas confrontem a realidade e busquem conhecimento, já que não questionam completamente as crenças estabelecidas. Por isso, Nietzsche afirma que “Deus está morto”. Essa expressão se refere a todas as crenças dominantes que precisam ser questionadas para que as pessoas possam reagir criticamente à realidade.
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Genealogia e Transvaloração
Nietzsche propõe os conceitos de genealogia e transvaloração para investigar as ideias amplamente aceitas. Ao entender a origem, os objetivos e as consequências dessas ideias, podemos avaliar se o que é considerado verdade realmente é válido.
A noção de Super-Homem
Após criticar a moral cristã e suas consequências de medo e culpa, Nietzsche acredita que é necessário um questionamento individual para criar novos valores. Ele apresenta o conceito de “Übermensch” (Super-Homem), um ser humano que supera as limitações impostas pela moral tradicional.
Esse Super-Homem representa indivíduos que não dependem de moralidades estabelecidas para compreender a vida e a realidade. Com o avanço da ciência e da tecnologia, Nietzsche sugere que os seres humanos devem revisar seus valores sociais e criar seu próprio sistema de valores, com foco em suas próprias qualidades e sem depender de afirmações divinas ou religiosas.
A vontade de potência
Em sua filosofia, Nietzsche analisa a moral humana fora do contexto sagrado, focando na vontade como característica central para entender as ações humanas.
Quando analisa os valores constituintes da moral humana, Nietzsche considera a noção de vontade como central para entender as ações do ser humano. Ou seja, o conceito de vontade como meio de relacionar a moral construída na sociedade e o instinto humano.
Ao interpretar o mundo por meio de sua própria vontade, o ser humano pode questionar sua realidade e alcançar seu verdadeiro potencial. Assim, a “vontade de potência” pode ser definida como a força interior que motiva o indivíduo a agir e a criar valores.
A vontade de potência também implica uma vontade de poder, que ajuda a entender quais valores dominam e como questioná-los se estiverem baseados em julgamentos preponderantes.
Amor Fati e Eterno Retorno
Nietzsche também reflete sobre como viver a vida após rejeitar a moral religiosa tradicional. Ele propõe duas ideias principais:
- Eterno Retorno: a questão central é se você estaria feliz em repetir as mesmas ações da sua vida eternamente. Isso leva a uma reflexão sobre onde você coloca sua energia e se suas ações realmente contribuem para uma vida boa, de acordo com seus próprios valores.
- Amor Fati: Significa “amor ao destino”. É a ideia de amar a própria vida e aceitar tudo que ela traz, valorizando sua potencialidade e construindo sua moral sem medo de enfrentar a realidade social e os acontecimentos que estão além do seu controle.
Críticas ao pensamento de Nietzsche
Ao longo da trajetória percorrida na Filosofia Contemporânea, a teoria de Nietzsche suscitou diferentes opiniões e críticas. Entre autores e acadêmicos da filosofia e da teoria social, também.
O filósofo alemão Jürgen Habermas, por exemplo, critica Nietzsche por rejeitar totalmente a racionalidade iluminista, argumentando que essa postura pode abrir caminho para o irracionalismo e para a desvalorização dos valores universais de justiça e igualdade.
O filósofo francês Michel Foucault, em outro sentido, dialoga e diverge de Nietzsche, ao adotar a noção de genealogia em suas análises sobre o poder. No entanto, Foucault propôs que o poder está em todas as relações sociais, diferentemente de Nietzsche.
Correntes universalistas, como o liberalismo e o marxismo, criticaram Nietzsche por rejeitar valores comuns como igualdade e racionalidade, propondo reflexões que desafiam seu niilismo e a transvaloração de valores.
O pensamento de Nietzsche e sua influência hoje
As ideias de Nietzsche influenciaram profundamente a filosofia moderna, a psicologia, a arte, a literatura e até mesmo a política.
Por ter se tornado um pensador tão influente, interpretações de suas obras e ideias frequentemente desviam das intenções originais do autor, levando a apropriações ideológicas diversas. Isso inclui tanto críticas de correntes universalistas quanto distorções por movimentos totalitários no século XX.
No campo político, em razão da ideologia defendida por sua irmã, o conceito de super-homem acabou por influenciar muitos grupos totalitários no século XX, como o fascismo e o nazismo e discursos ultranacionalistas em geral.
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No campo das artes e, principalmente, na literatura, o trabalho genealógico de Nietzsche permitiu que muitos escritos pudessem ser elaborados com maior profundidade e avaliação de conceitos, refletindo as transformações sociais.
Nietzsche, enquanto filósofo, escritor, filólogo e professor foi capaz de promover uma real virada linguística para a sociedade contemporânea. Suas ideias desafiam continuamente as gerações atuais a questionarem suas crenças, a buscarem autenticidade e a criarem seus próprios significados e valores, promovendo uma reflexão constante sobre o papel do indivíduo na sociedade e na construção de sua própria existência.
Muitas das críticas feitas em relação ao autor fazem referência ao modo como Nietzsche teorizou questões da filosofia política. Há em Nietzsche diversas reflexões consideradas não finalizadas sobre a relação entre o indivíduo e o Estado, e variadas formas de governo (democracia, socialismo e anarquia, por exemplo).
Expostas de maneira não sistemática, as ideias de Nietzsche acabam por refletir a sua própria teoria, onde há coerência de sentido de suas propostas, mas organizadas de uma forma diferente da filosofia dominante nos espaços acadêmicos do século XIX e XX.
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Referências:
- Casa do Saber: As críticas à obra de Nietzsche, por que falaram mal dele? | Scarlett Marton.
- Colunas Tortas – Friedrich Nietzsche: biografia, principais ideias e livros
- FFLCH/USP – Nietzsche: o filósofo que contestou a superioridade de Deus
- Filho, P. D. F.; Bernardes, S. T. A. Friedrich Wilhelm Nietzsche: Vida, Obra e a Luta contra o sofrimento. Cadernos da Fucamp, v.16, n.28, p.117-132/2017
- Razão Inadequada – 4 Formas de Niilismo
- Revista Galileu – Reflexões que vão te introduzir ao pensamento de Nietzsche