Dá para acreditar que o futebol feminino, já foi tratado como caso de polícia no “país do futebol”? Apesar de o futebol feminino ser jogado no Brasil há mais de 100 anos, ele só foi legalizado em 1979, após 38 anos de proibição.
Neste texto, você vai conhecer um pouco da história do futebol feminino no Brasil e entender por que as mulheres foram proibidas de jogar futebol por tantos anos.
A chegada do futebol feminino no Brasil
As primeiras referências de partidas de futebol disputadas por mulheres surgiram nos anos 20. Registros mostram a prática, ainda de forma tímida, em circos e celebrações de festas juninas, em São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte. O futebol feminino era tratado como uma performance, um show e não uma partida.
Até a década de 40, o futebol entre mulheres existia longe de clubes ou grandes ligas. Havia prática em periferias, mas não há registros de uma seleção. Apesar de ainda não ser proibida, a modalidade era considerada violenta e ideal apenas para homens.
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A proibição
Em abril de 1941, o presidente Getúlio Vargas assinou um decreto-lei (3199, art 54) que proibia as mulheres de praticarem esportes que não fossem “adequados a sua natureza”. Neste mesmo ano, o Conselho Nacional de Desportos publicou uma lista de esportes proibidos para as mulheres, entre eles o futebol, o halterofilismo, o beisebol e as lutas.
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O discurso que acompanhava o veto desses esportes era de que eles poderiam afetar as funções orgânicas, o equilíbrio psicológico e até prejudicar a capacidade das mulheres serem mães.
A historiadora Aira Bonfim, especializada em futebol feminino, supõe que ninguém estava, de fato, preocupado com a saúde biológica ou com que as mulheres se machucassem.
Segundo a especialista, tudo não passou de uma tática para limitar a liberdade das mulheres, suas atividades no tempo livre e suas capacidades de expressão. Além disso, havia preconceito, já que muitas jogadoras eram de estratos sociais mais baixos e algumas eram homossexuais.
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A regulamentação do esporte
Apesar da proibição, mesmo durante o período em que o decreto estava em vigor, muitas mulheres nunca deixaram de jogar futebol. Elas criaram estratégias para burlar a lei. Algumas se vestiam de homens, jogavam à noite, em espaços privados ou em eventos beneficentes.
A historiadora Giovana Capucim e Silva, autora do livro “Mulheres Impedidas: A proibição do futebol feminino na imprensa de São Paulo” acredita que a resistência do Estado tenha sido um dos menores obstáculo que elas encontravam para jogar futebol.
Na opinião de Giovana, os olhares e comentários repressores recebidos da família, amigos e companheiros(as) pesavam muito mais do que qualquer resolução de órgãos estatais.
O tal decreto foi revogado em 1979, porém, o futebol feminino só foi devidamente regulamentado em 1983. Foi o início de uma nova jornada para a modalidade entre as mulheres. A partir daí, elas puderam competir, criar calendários, utilizar estádios e jogar nas escolas.
No entanto, o fim da proibição não mudou o cenário milagrosamente. O futebol feminino permaneceu sem estímulo de clubes e federações e sem investimentos.
A história da Copa do Mundo do Futebol Feminino
A Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA) realizou, em 1988, um Mundial de caráter experimental na China. O campeonato foi chamado de “Women’s Invitational Tournament”. Doze seleções participaram deste torneio e o Brasil ficou com o bronze nos pênaltis.
No entanto, a primeira Copa do Mundo de Futebol Feminino oficial ocorreu apenas no ano de 1991. Nesta estreia, o Brasil teve menos de um ano de preparação e foi eliminado logo na primeira fase. Embora a equipe tenha tido uma vitória diante do Japão, perdeu jogos para Estados Unidos e Suécia.
Já a primeira medalha em Copas do Mundo veio em 1999. A seleção brasileira teve resultados expressivos nas primeiras fases, porém, acabou perdendo a semifinal para os EUA. Na disputa pelo terceiro lugar, venceu a Noruega nos pênaltis e conquistou o histórico bronze.
Na Copa de 2007, na China, o Brasil fez a sua melhor campanha. Ficou com a segunda colocação, já que perdeu para a Alemanha na decisão. Neste torneio, a jogadora Marta fez um gol na semifinal contra os Estados Unidos que é considerado um dos gols mais bonitos da trajetória da atleta.
O Futebol Feminino vem, então, crescendo constantemente ao longo das edições da Copa do Mundo. No entanto, sempre acaba esbarrando em escassez de profissionalismo, falta de oportunidades e bastante preconceito.
A Copa do ano de 2019 também marcou. Foi a primeira vez que a Copa Feminina foi transmitida em canais abertos. A grande atenção da imprensa para o evento resultou em recordes de audiência, levando o futebol feminino a caminhar rumo ao devido reconhecimento.
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O futebol feminino na Copa do Mundo de 2023
Nesse momento, a seleção feminina de futebol do Brasil chega à Copa do Mundo de 2023 com oito títulos na Copa América, três medalhas de ouro nos Jogos Pan-Americanos, duas medalhas de prata nas olimpíadas e muitos elogios, que consideram o momento atual como o melhor do time.
Apesar de tudo isso, as atletas do futebol feminino, ainda enfrentam muitas dificuldades e desafios. Falta incentivo, investimento, profissionalização e valorização quando se fala em futebol feminino.
Além disso, ainda persiste o imaginário de que a mulher não entende de futebol e não sabe jogar futebol. Sem falar nos assédios que elas sofrem nos estádios, muitas vezes na forma de violência verbal.
Para tentar driblar as dificuldades e as diferenças em relação ao futebol masculino, muitas jogadoras brasileiras optam por fazer carreira fora do país. Das 23 convocadas para a Copa do Mundo 2023, 16 atuam no exterior.
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Referências:
- BBC Brasil – Futebol feminino: os pretextos usados para proibir prática no Brasil e no exterior
- ge.globo – A História do Futebol Feminino no Brasil
- Jornal da USP – Mulheres passaram 40 anos proibidas por lei de jogar futebol no Brasil
- SILVA, Giovana Capucim. Mulheres Impedidas: A proibição do futebol feminino na imprensa de São Paulo. Rio de Janeiro: Multifoco, 2017.
- Super Interessante – A ascenção do futebol feminino no Brasil