Ao falarmos sobre o poder de um país e sua superioridade aos demais, utilizamos muitas vezes a palavra hegemonia. Neste conteúdo, o Politize! te explica os principais aspectos deste termo, a fim de entender suas origens e como ele se aplica na sociedade em que vivemos.
O que é hegemonia?
A palavra hegemonia, do grego “egemonía”, significa a supremacia entre cidades, nações ou povos. A utilização do termo no meio político se iniciou por meio das concepções de Lênin, mas tomou forma a partir dos estudos realizados pelo filósofo marxista Antonio Gramsci (1891-1937).
Enquanto Lênin ao falar de hegemonia se limitou a discutir a ditadura do proletariado, Gramsci propôs uma discussão mais abrangente sobre o tema. Posteriormente, outros autores como, Ernesto Laclau e Chantal Mouffe também levantaram questões importantes a fim de expandir a noção gramsciana e analisar como se desenvolvem as disputas hegemônicas dentro espaço social do capitalismo tardio.
Porém, para pensar como o conceito é aplicado na análise das relações sociais, neste conteúdo iremos focar na visão de Gramsci sobre hegemonia. Segundo o autor, a hegemonia é a capacidade de um ou mais grupos sociais de comandar outros. Esse domínio pode ser alcançado tanto pela introdução cultural e persuasão quanto pelo poder coercitivo, ou seja, o uso da força. Quanto mais difundida é uma ideologia mais estável se torna a hegemonia, havendo menor necessidade de violência.
“A supremacia de um grupo se manifesta de dois modos, como domínio e como direção intelectual e moral. Um grupo social domina os grupos adversários, que visa a liquidar ou a submeter inclusive com a força armada, e dirige os grupos afins e aliados – Antonio Gramsci
Na visão gramsciana, em uma sociedade capitalista, os grupos que possuem melhores condições econômicas podem eventualmente exercer seu poder sob aqueles em situações mais vulneráveis. Neste caso, o proletariado composto pela classe trabalhadora e os assalariados acaba se submetendo e adotando a concepção de mundo da burguesia que é majoritariamente formada por membros da elite e com alto poder aquisitivo.
Essa hegemonia cultural que a burguesia estabeleceu ao longo dos anos faz com que grande parte da sociedade os considere como um grupo relevante, enxergando seus interesses como prioritários.
E por que se fala em hegemonia dos Estados Unidos?
A aplicação de hegemonia na análise das relações internacionais é muito recorrente. Nesse sentido, o significado está voltado à dominação de um Estado sobre outro, podendo ser no âmbito físico, moral e até mesmo intelectual. O termo é frequentemente utilizado em referência aos Estados Unidos e sua posição internacional.
Após a vitória da Guerra Fria contra a União Soviética, o país sofreu um grande desenvolvimento tecnológico, possibilitando também maior poder econômico e destaque no mercado internacional.
Neste período, por exemplo, os Estados Unidos passou a implantar microprocessadores em maquinários industriais, facilitando a manipulação de máquinas desse tipo. Isso fez dele um dos primeiros países capitalistas a obter êxito por meios econômicos impondo sua hegemonia.
Após liderar o mercado de microprocessadores, os norte-americanos começaram a buscar soluções para outros problemas que não fossem isolados e que atendessem as necessidades do restante do mundo. Foi, então, que passaram a investir em softwares e desenvolveram a interface do Windows – o monopólio da Microsoft foi rapidamente integrado a diversas empresas, gerando bons resultados pelo seu processo de automação e facilidade de uso.
Essa ascensão no meio da tecnologia da informação, além das vantagens em termos bélicos, possibilitou e ainda vem contribuindo até hoje para o estabelecimento dos Estados Unidos como uma potência mundial. A construção da liderança norte-americana têm favorecido o uso de seu poder hegemônico, fazendo com que este obtenha margem decisiva de superioridade aos demais países.
Desse modo, o estudioso Robert Cox argumentou que a hegemonia no contexto internacional ocorre a partir de um modo de produção dominante e expansivo. Como observado por Cox, o exercício do poder hegemônico norte-americano é notável, uma vez que o país é contemplado mundialmente pela sua música, moda e pela cultura como um todo.
“As instituições econômicas e sociais, a cultura e a tecnologia associadas a essa hegemonia nacional tornam-se modelos a serem imitados no exterior” – Robert Cox
Que impactos uma hegemonia pode causar?
Apesar do processo hegemônico ser bastante complexo, podendo ser utilizado para a análise de diversos campos da sociedade, existem alguns mecanismos que caracterizam os impactos causados pela presença de uma hegemonia, tais como:
- A diminuição da capacidade de se pensar criticamente.
- Os principais elementos que compõem as classes dominadas passam a agir como defensores da ideologia hegemônica e do sistema em que estão inseridos.
- A constante possibilidade de conflitos contra a ideia hegemônica.
- E a dificuldade de se enxergar outras alternativas como viáveis, a não ser aquela que já está em curso.
Independente das consequências listadas acima, é importante ressaltar que para que uma hegemonia permaneça como tal ela precisa ser constantemente sustentada pelos grupos dominantes e consentida pelos dominados.
Para construção desse processo, o teórico Gramsci entende como aparelhos responsáveis os meios de comunicação, as escolas, as igrejas, os sindicatos, entre outros. Isso significa que esses instrumentos são os encarregados de gerar o consenso necessário para o exercício da hegemonia.
Ainda, na sua visão, os veículos de comunicação em massa possuem um papel de destaque na consolidação da teoria hegemônica, já que geram informação e são fundamentais nos processos de construção de significados culturais. Ele afirma, por exemplo, que ao optarem por dar uma notícia à outra, a mídia estaria trabalhando a favor da sustentação e amplificação da ideologia dominante. Porém, mesmo com o alcance e influência que os grandes veículos de comunicação têm, nem todos que consomem as informações destes meios acatam a suas ideias, podendo haver brechas nesta concepção.
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Referências:
Artigo “O conceito de hegemonia: de Gramsci a Laclau e Mouffe”, de Ana Rodrigues Cavalcanti Alves
Carta Capital: Promessas e desafio do novo governos dos Estados Unidos