Assim como o Brasil, os países da América Espanhola, ou América Hispânica, passaram por um longo processo de colonização que durou aproximadamente 300 anos, porém, nesse caso, a dominação foi por parte do Império Espanhol.
Igualmente, esses países passaram por processos de conquista da sua independência que refletem as particularidades históricas, culturais e políticas desses territórios.
Mas, como ocorreram esses processos de independência? Quais foram as grandes motivações? Neste texto, a Politize! responde a todas essas perguntas, explicando como foi a independência da América Espanhola.
Breve panorama histórico da colonização da América Espanhola
A colonização da América Hispânica possuía um caráter exploratório. Dessa forma, o grande objetivo das colônias era gerar lucro para a metrópole através da exploração dos recursos naturais presentes na região.
O território colonizado compreendia parte do que conhecemos hoje como América do Norte, Central e do Sul, e com o tempo, passou a ser dividido em quatro grandes vice-reinados e quatro capitanias gerais:
- Vice-Reinado da Nova Espanha: corresponde principalmente ao atual território do México, partes dos Estados Unidos e da América Central;
- Vice-Reinado do Peru: compreende o moderno Peru e parte da Bolivia;
- Vice-Reinado do Rio da Prata: Faz correspondência principalmente a Argentina, Paraguai, Uruguai e a Bolívia;
- Vice-Reinado de Nova Granada: compreende majoritariamente a Venezuela, Colômbia, Equador e Panamá.
Já as capitanias gerais correspondiam aos territórios de Cuba, Guatemala, Venezuela e Chile.
Os vice-reinados possuíam um vínculo majoritariamente comercial, e funcionavam de forma bastante autônoma, apesar de, claro, responder sempre a Coroa.
A partir do século XVI, as colônias assumem um papel duplo: possuíam o dever de fornecer matérias-primas, metais preciosos e força de trabalho escravizada, além de servir como consumidoras das manufaturas produzidas pela metrópole.
Antecedentes do processo de independência
Os movimentos de separação da América Espanhola podem ser subdivididos em três: México, América Central e América do Sul. Entretanto, eles compartilham das mesmas motivações externas.
As Reformas Borbônicas
O primeiro acontecimento importante foram as Reformas Borbônicas, aplicadas pelo rei espanhol Carlos III durante o século XVIII. As reformas possuíam como objetivo aumentar a extração de riquezas nas colônias para financiar as guerras em que o império espanhol estava envolvido.
Para isso, foram inseridas uma série de medidas que expandiram os privilégios dos peninsulares, os colonos nascidos na Espanha, enquanto afetaram profundamente os interesses das elites criollas, os descendentes de espanhóis, porém já nascidos e criados no território colonial. Fomentando assim, uma rivalidade que já existia anteriormente.
Essas reformas geraram uma série de revoltas em boa parte do continente.
Um exemplo disso seria a grande revolta indígena realizada na região andina, atual Peru, pelo Tupac Amaru II, um curaca, ou seja, um nobre de origem inca. Esses nobres indígenas, que inicialmente viram seus privilégios serem conservados pelos espanhóis, também passam a perder espaço com essas reformas, o que os leva a se rebelarem.
A resposta da Espanha foi reprimir violentamente essa revolta, executando e esquartejando Tupac Amaru II.
Entretanto, segundo Gabriela Pellegrino Soares, professora de História da América Independente da Universidade de São Paulo, os historiadores debatem se as Reformas Borbônicas realmente podem ser consideradas o grande estopim para o processo de independência. De acordo com a professora, a historiografia recente diz que o estabelecimento de uma consciência realmente independentista surge apenas depois.
Independência dos Estados Unidos, Revolução Francesa e Haitiana
A Independência dos Estados Unidos, do Haiti e a Revolução Francesa também podem ser destacadas como fatores importantes para os processos de independência latino-americanos.
Esses três movimentos acabaram se tornando uma grande referência de luta pela liberdade e autodeterminação, além de ser uma consequência dos ideais que circularam ao longo do século XVIII e que levaram a mudanças muito significativas.
Napoleão Bonaparte
O fator de maior importância foi a invasão da Espanha por parte do imperador francês Napoleão Bonaparte no ano de 1808.
Após a invasão, Napoleão força o rei Carlos IV e seu filho, Fernando VII, a abdicar do trono em favor de seu irmão, José Bonaparte. Entretanto, os espanhóis não reconheceram sua autoridade, o que levou a um processo de resistência dentro do território contra a ocupação francesa.
Esse cenário gerou uma enorme crise nas relações entre a Espanha e seus vice-reinos americanos, levando os cabildos, que eram as instâncias de poder local, a liderar a tarefa de autogestão, uma vez que o rei espanhol estava ausente e a autoridade de José Bonaparte estava sendo questionada.
Essa experiência de autogestão, somada ao descontentamento das elites criollas, que queriam negociar diretamente no mercado internacional, e a efervescência dos ideais iluministas, levaram ao surgimento dos movimentos independentistas.
Independência da América Hispânica
Em 1809, começaram uma série de revoltas em toda a região, e apesar da tentativa de Fernando VII, que seria recolocado no trono em 1914, de retomar o poder sobre as colônias, as revoltas durariam até 1829, e resultariam na independência da América Espanhola.
Porém, esse processo de ruptura não ocorreu de forma linear. A região passou por um enorme período de instabilidade devido às guerras civis movidas por disputas territoriais entre as elites criollas, além da disputa com a Coroa.
Ademais, as circunstâncias também variavam muito de região para região.
No México, a guerra de independência começou em 1810 e chegou ao fim somente em 1821.
O Peru também proclamou a sua independência no mesmo ano, sob a liderança de José de San Martin, um militar argentino que liderou também o movimento independentista do Chile.
Costa Rica, Guatemala, Honduras, Nicarágua e El Salvador se tornaram independentes também em 1821, e formaram as Províncias Unidas da América Central, que se dissolveu em 1838.
Na Argentina, o processo de libertação começa em 1810, mas é oficialmente declarado somente em 1816.
Antes conhecida como Alto Peru, a Bolívia se tornou o último país da América do Sul a conseguir sua independência, em 1825.
Simón Bolívar e a ‘Gran Colombia’
Inicialmente, quem lidera o primeiro movimento independentista venezuelano é Francisco de Mirando, porém, o movimento foi sufocado e Francisco foi levado para a Espanha e preso.
A partir deste momento, Simón Bolívar se torna o grande líder do movimento independentista.
Bolívar nasceu em Caracas, a atual capital da Venezuela, e é reconhecido como o grande líder da independência da América Latina, o que lhe rendeu o apelido de ”El Libertador” ou “O Libertador”.
No exílio, ele escreveu o “Manifesto de Cartagena”, visando conseguir adesão ao seu projeto de uma América Espanhola livre. Ele passa, também, a realizar alianças políticas que seriam importantes para o seu projeto.
Sob a sua liderança, a Venezuela se torna o primeiro país a proclamar a sua independência, no ano de 1811. Entretanto, essa situação não dura muito, pois a Espanha consegue retomar o território.
Assim, ele se exila novamente, mas continua a trabalhar no processo de independência. Nesse momento, ele passa a dialogar, também, com os setores mais populares da sociedade, como os índios e os escravos, que participariam ativamente na luta pela independência.
Simón Bolívar se torna a figura central na independência do Vice-Reino de Nova Granada e do Peru.
Ele é o idealizador da Gran Colombia, ou a Grande Colômbia, um projeto de união dos territórios da Venezuela, Colômbia, Panamá e Equador. O projeto se concretizou em 1819, porém se dissolveu em 1830.
Auxílio britânico
Além de auxiliar durante todo o processo de independência com o envio de oficiais, soldados e navegantes, a Grã-Bretanha foi a primeira grande nação europeia a reconhecer a independência desses novos países hispano-americanos.
A então potência industrial e comercial, vê na região uma grande oportunidade de investimento devido a seus recursos minerais e matérias-primas.
América Latina independente
Após o processo de independência da América Espanhola, ainda se percorreria um longo caminho até que o continente latino-americano chegasse a formação geográfica e política que conhecemos hoje.
Os desafios continuaram e continuam, mas agora sob a perspectiva de um continente independente.
Você conseguiu compreender quais foram as grandes motivações e como ocorreram os processos de independência da América Espanhola? Nos conte nos comentários qual ponto você achou mais interessante!
Referências:
- BBC News Brasil – Por que o Brasil continuou um só enquanto a América espanhola se dividiu em vários países?
- Biblioteca Nacional de Colombia – Independencias de Hispanoamérica
- FFLCH USP – Independência da América Espanhola
- La Vanguardia – Ocho claves de las independencias hispanoamericanas
- Politize! – Escravidão na América Espanhola: um olhar sobre a mão-de-obra colonial.
- UNIVESP TV – Movimentos de independência na América Espanhola – Gabriela Pellegrino.