Existem vários indicadores, cada um utilizado para medir e avaliar algo em específico. É assim com o PIB (Produto Interno Bruto), o qual mede o crescimento econômico, e com o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), destinado a avaliar o bem-estar de uma população. E o que mede o Índice de Gini?
Com a finalidade de analisar o nível de igualdade ou desigualdade (grau de concentração de riqueza) de uma região ou país, o matemático italiano Corrado Gini criou o Índice de Gini ou Coeficiente de Gini.
Neste artigo da Politize, você saberá melhor sobre o que é este índice, como ele é medido e quais os resultados obtidos para o Brasil (a nível regional e estadual) e para o mundo.
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O que é o Índice de Gini?
Em 1905, o economista norte-americano Max Lorenz elaborou um gráfico chamado de curva de Lorenz. Este gráfico era formado pelas várias camadas da população e sua renda. Eram criados os extratos. O primeiro ponto do gráfico era formado pela renda total dos 10% mais pobres. Depois, dos 20% mais pobre. Assim, sucessivamente até atingir 100%.
Conheça outro indíce relevante no artigo: O que é o IDH?
O gráfico formava uma parábola ou curva à medida que subiam as rendas (conforme imagem abaixo). Era traçada uma linha diagonal do ponto de partida até o ponto que atingia 100%. Quanto mais distante a curva da linha diagonal, maior seria a desigualdade.
A partir deste estudo, o italiano Corrado Gini, em 1912, publicou o artigo “Variabilità e Mutabilità”, o qual continha uma metodologia estatística capaz de medir o grau de desigualdade na distribuição da renda, utilizando-se da curva de Lorenz.
O índice de Gini é definido como a razão entre a área de desigualdade e o máximo valor que ela pode assumir. Também é usado em estudos econômico-políticos para outros fenômenos, como riqueza ou itens de despesa, e também pode ser usado para subpopulações.
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Vantagens do Índice de Gini:
Uma das vantagens do índice de Gini é que pode ser calculado de modo independente de outra variável calculada, necessitando apenas de seus dados. Por exemplo, a renda per capita, para ser calculada, depende do quantitativo de cidadãos e também do produto interno bruto (PIB), o qual é uma variável calculada.
Outra facilidade em se utilizar este coeficiente, está em comparar diferentes setores ou grupos da própria população (por exemplo, analisar as diferenças entre a população urbana e a população rural) ou contrapor diferentes regiões (por exemplo, avaliar o sudeste e o nordeste brasileiro).
Por fim, sua interpretação é fácil de ser feita, como você verá no tópico “Como se mede o Índice de Gini?”, o indicador traz resultados de zero (0) até um (1), com uma lógica bem tranquila de atribuir respostas à conclusão obtida.
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Desvantagens do Índice de Gini:
Quanto às desvantagens, não há como saber se um índice de Gini adequado realmente significa uma boa distribuição de renda e pouca pobreza ou se um índice ruim indica muita pobreza da população.
Por exemplo, pode haver uma grande lacuna entre ricos e pobres no país “A”. Enquanto isso, a lacuna no país “B” é menor. Todavia, existem muito mais pobres em “B”. Logo, uma igualdade maior não significa menos pobreza.
Há também a incapacidade de se avaliar a perda ou não de oportunidades por parte da população avaliada. Isso seria um diferencial importante para avaliar os países e concluir se há barreiras culturais ou sociais para a ascensão econômica das pessoas.
Como se mede o Índice de Gini?
Como dito antes, a lógica do cálculo se baseia na curva de Lorenz. Além disso, o cálculo é obtido pelo(s) trapézio(s) gerado(s) após a aplicação da curva. A fórmula utilizada para o cálculo deste índice é a seguinte:
Assim, o “T” é calculado pela área do(s) trapézio(s) formado(s) a partir da curva de Lorenz. E o restante da fórmula gerarão o índice de Gini (G).
O indicador varia de zero (0) até um (1). Quanto mais perto de zero (0), menos desigual é o país ou região. Por outro lado, quanto mais perto de um (1), mais desigual. Ou seja, o ideal é possuir um índice próximo de zero (0).
Lembre-se, como dito anteriormente, um índice próximo a zero (0) não necessariamente representa que o país ou região não possui pobreza. Logo, como a maioria dos indicadores econômicos, o ideal é analisar o resultado, juntamente com outros índices.
Qual é o índice de Gini do Brasil e dos seus estados?
Atualmente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realiza a mensuração do índice de Gini por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua).
Dentro desta pesquisa, existe uma divisão chamada “rendimento de todas as fontes”. Nela, é possível verificar o resultado do índice de duas formas:
- Pelo rendimento médio mensal real das pessoas de 14 anos ou mais de idade, habitualmente recebido em todos os trabalhos, a preços médios do ano; ou
- Pelo rendimento domiciliar per capita, a preços médios do ano.
Em 2021, foram obtidos os seguintes resultados de acordo com a forma utilizada pelo IBGE na análise:
Também foi possível observar o panorama nacional e os resultados por região no Brasil. Neste contexto, verifica-se que a região nordeste apresenta a maior desigualdade, enquanto, no Sul, há uma maior igualdade.
Com estes resultados, o Brasil permanece entre os 10 (dez) países mais desiguais do mundo. Além disso, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em publicação realizada em 2019, o Brasil ocupava o 2º (segundo) lugar em concentração de renda entre mais de 180 países.
Aprenda mais sobre a desigualdade brasileira lendo: Desigualdade no Brasil: os mapas da desigualdade de São Paulo e do Rio de Janeiro
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e Desigualdade Social:
Dentro dos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), criados pela ONU (Organização das Nações Unidas), existe um tópico específico sobre desigualdades, o tópico “10. Redução das Desigualdades”. Nele, constam 10 (dez) metas:
- Meta 1: Até 2030, progressivamente alcançar e sustentar o crescimento da renda dos 40% da população mais pobre a uma taxa maior que a média nacional;
- Meta 2: Até 2030, empoderar e promover a inclusão social, econômica e política de todos, independentemente da idade, gênero, deficiência, raça, etnia, origem, religião, condição econômica ou outra;
- Meta 3: Garantir a igualdade de oportunidades e reduzir as desigualdades de resultados, inclusive por meio da eliminação de leis, políticas e práticas discriminatórias e da promoção de legislação, políticas e ações adequadas a este respeito;
- Meta 4: Adotar políticas, especialmente fiscal, salarial e de proteção social, e alcançar progressivamente uma maior igualdade;
- Meta 5: Melhorar a regulamentação e monitoramento dos mercados e instituições financeiras globais e fortalecer a implementação de tais regulamentações;
- Meta 6: Assegurar uma representação e voz mais forte dos países em desenvolvimento em tomadas de decisão nas instituições econômicas e financeiras internacionais globais, a fim de produzir instituições mais eficazes, críveis, responsáveis e legítimas;
- Meta 7: Facilitar a migração e a mobilidade ordenada, segura, regular e responsável das pessoas, inclusive por meio da implementação de políticas de migração planejadas e bem geridas;
- Meta 8: Implementar o princípio do tratamento especial e diferenciado para países em desenvolvimento, em particular os países menos desenvolvidos, em conformidade com os acordos da OMC;
- Meta 9: Incentivar a assistência oficial ao desenvolvimento e fluxos financeiros, incluindo o investimento externo direto, para os Estados onde a necessidade é maior, em particular os países menos desenvolvidos, os países africanos, os pequenos Estados insulares em desenvolvimento e os países em desenvolvimento sem litoral, de acordo com seus planos e programas nacionais;
- Meta 10: Até 2030, reduzir para menos de 3% os custos de transação de remessas dos migrantes e eliminar os corredores de remessas com custos superiores a 5%.
Cada meta é composta por um conjunto de indicadores para avaliar o progresso do país. Esses objetivos não são exclusivos do Brasil. No entanto, diante dos resultados observados para o índice de Gini, verifica-se a necessidade urgente de que nossos governantes tomem atitudes para o cumprimento dessas metas e a redução das desigualdades.
Leia mais a respeito em: Desafios para combater a desigualdade social no Brasil: Dados pandêmicos #3
Você sabia?
- De acordo com o site de estatísticas Country Economy, os países com os menores índices de Gini, ou seja, menor desigualdade, atualmente, são a Eslováquia (0,209), a Eslovénia (0,230), a Islândia (0,232), a Bélgica (0,241) e a Bielorrússia (0,244);
- Do outro lado, os mais desiguais são a África do Sul (0,630); a Namíbia (0,591), o Suriname (0,579); a Zâmbia (0,571) e a República Centro-Africana (0,562);
- Neste ranking, o Brasil aparece com a 16ª (décima sexta) pior colocação;
- Em 2021, mais de 10 milhões de brasileiros sobreviviam com apenas R$ 1,30 por dia, conforme estudo do IBGE;
- Conforme o IBGE, em 2021, o rendimento domiciliar per capita caiu ao menor nível desde 2012;
- Segundo a PNAD Continua de 2018, pessoas com ensino superior completo ganham o triplo daquelas com nível médio.
Então, conseguiu entender a importância do Índice de Gini? Quais as medidas que você entende necessárias para reduzirmos as desigualdades no Brasil? Deixe suas sugestões, ideias e comentários. É sempre muito útil debatermos os assuntos mais relevantes.
Referências:
- Adriano Gilardone – Indice di concentrazione di Gini: calcolo e significato
- Agência IBGE – Em 2021, rendimento domiciliar per capita cai ao menor nível desde 2012
- Agência IBGE – PNAD Contínua 2018: 10% da população concentram 43,1% da massa de rendimentos do país
- Agência Senado – Recordista em desigualdade, país estuda alternativas para ajudar os mais pobres
- Country Economic – Socio-demografia: Índice de Gini
- Estadão – Mais de 10 milhões sobreviviam com R$ 1,30 por dia em 2021, diz IBGE
- IPEA – O que é? – Índice de Gini
- IPECE – Entendendo o Índice de Gini
- PrePara Enem – Coeficiente de Gini
- SIDRA / IBGE – PNAD Contínua: Tabela 7435 – Índice de Gini do rendimento domiciliar per capita, a preços médios do ano
- SIDRA / IBGE – PNAD Contínua: Tabela 7453 – Índice de Gini do rendimento médio mensal real das pessoas de 14 anos ou mais de idade, habitualmente recebido em todos os trabalhos, a preços médios do ano
- UDESC / ESAG – COEFICIENTE DE GINI: uma medida de distribuição de renda
- USP (Antonio C. Roque) – Estatística Aplicada à Educação: Desigualdade
1 comentário em “Índice de Gini: um indicador da desigualdade”
Índice de Gini é mais ou menos assim: jogar pedra na Geni, ela representa a massa infinita de pobres, a “pedra” é o calabouço que vivem a pobreza sobre a pedra pesada em cima de nós, e para inverter as pedradas contínuas é necessário que o patrão(governo)mexa na administração de quem pratica, mas como não há política direcional, os senhores de engenho continuam a massacrar, por isso que uma revolução é necessário já, com desapropriação e apropriação, aí começa a mudar o mundo Brasil.