A lei marcial é um regime de exceção adotado por algumas nações em situações emergenciais, como guerras, quando ocorre a substituição temporária de leis e direitos civis por leis militares.
No Brasil, embora não haja previsão legal para a implantação de lei marcial, a Constituição Federal de 1988 prevê três medidas excepcionais: estado de defesa, estado de sítio e intervenção federal.
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Neste artigo, traremos uma visão ampla da lei marcial, falando sobre o seu contexto histórico, países que já a aplicaram, quais as suas vantagens e desvantagens, o impacto nos direitos civis e na democracia e, ainda, casos recentes de sua aplicação.
O que é a lei marcial?
Conceitualmente, a lei marcial é um regime jurídico que suspende as leis civis em situações de emergência. É geralmente declarada pelo presidente ou por outro oficial de alto escalão, com a aprovação do Congresso ou de um órgão semelhante.
A lei marcial pode ser aplicada em casos de guerra, rebelião, desastres naturais ou outras situações que ameacem a ordem pública.
Com a implementação da lei marcial o controle das funções administrativas e judiciais ordinárias passa a ser exercido pelas forças armadas.
Quando a administração do Estado está sob o controle civil, podemos dizer que o exercício do poder é baseado em princípios democráticos.
O poder reside no povo e é exercido por seus representantes eleitos, que são responsáveis por garantir o funcionamento das instituições civis e o respeito aos direitos humanos. As decisões tomadas pelos representantes civis são públicas e passíveis de questionamento e debate pela sociedade.
Agora, quando a administração do Estado está sob o controle militar, ocorre a concentração do poder nas mãos das Forças Armadas. O poder reside em uma minoria de indivíduos, geralmente com base em hierarquia e disciplina, e não em princípios democráticos.
As decisões tomadas pelos militares podem ser feitas em segredo e não há mecanismos claros para questioná-las ou responsabilizá-los por seus atos. O controle militar representa uma ameaça à democracia, pois coloca em risco a representatividade, a transparência e o accountability.
Em resumo, a diferença entre o controle civil e o controle militar reside na distribuição de poder, na transparência e na accountability (controle/fiscalização/responsabilização).
O controle civil é fundamental para garantir a democracia, a proteção dos direitos humanos e a estabilidade social. Ao compreender essas diferenças, você pode se conscientizar sobre os riscos da lei marcial e a importância de defender o controle civil.
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Contexto histórico
A lei marcial remonta à Roma Antiga, de onde origina-se o seu nome, que em latim é lex militar.
Na Idade Média, era comum a decretação de lei marcial em tempos de guerra ou revolta.
No século XVIII, a lei marcial foi adotada por alguns países, na América e na Europa, para lidar com distúrbios civis.
Durante a Guerra Civil Americana, por exemplo, o presidente Abraham Lincoln implementou a lei marcial em diversas áreas, assim como na França durante a Revolução Francesa.
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Já no século XX, a lei marcial foi muito utilizada durante a Primeira e Segunda Guerra Mundiais.
Atualmente, a lei marcial tem sido usada em uma variedade de contextos, incluindo guerras, conflitos internos, desastres naturais e pandemias, no entanto, o seu uso é comumente criticado por violações de direitos humanos.
Lei marcial no mundo: países que aplicaram a lei
Como já vimos, ao longo da história, a lei marcial já foi utilizada em diversas situações e por diversos países, dentre os quais podemos citar: Estados Unidos, Rússia, China, França, Inglaterra, Argentina, Colômbia, dentre outros.
O caso mais recente, e que ganhou bastante destaque nas mídias, foi a implantação da lei marcial pela Ucrânia após os ataques coordenados pela Rússia. No dia 24/02/2022, após o país de Putin iniciar os ataques à Ucrânia, o presidente Volodymyr Zelensky implantou a medida em todo o território nacional.
Com a implantação da lei marcial na Ucrânia, foi instituído o toque de recolher e homens de 18 a 60 anos de idade foram proibidos de deixar o país, facilitando, assim, o recrutamento de civis para combater na guerra.
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Antes disso, em 23/05/2017, o governo das Filipinas implantou a lei militar para conter uma “revolta islamista”. Na ocasião, homens armados assumiram o controle de vários bairros de Marawi, no sul do país, alegando pertencerem ao Estado Islâmico.
Diante da invasão, o presidente Rodrigo Duterte decretou a lei marcial pelo prazo de 60 (sessenta) dias, tal como é permitido pela Constituição Filipense, medida que acabou sendo prorrogada pelo Congresso até 31 de dezembro daquele ano.
A história mostra, no entanto, que a lei marcial não é aplicada somente em casos de conflitos externos. Em 1973, quando a Grécia estava sob regime militar, comandado por Georgios Papadopoulos, houve a implementação da lei marcial com o objetivo de combater uma rebelião iniciada por universitários em Atenas.
Segundo notícias divulgadas pela Folha de São Paulo, o protesto começou quando estudantes passaram a discutir temas como a democratização do ensino, participação dos estudantes na vida pública, diminuição dos gastos militares e aumento das verbas públicas para a educação.
Com essas bandeiras, os alunos ocuparam a Escola Politécnica e controlaram a estação de rádio da universidade para pedir apoio ao povo.
A ação foi combatida com tanques e tropas do exército e culminaram na implementação da lei marcial com toque de recolher.
Vantagens e desvantagens da lei marcial
A implementação da lei marcial suscita debates intensos sobre suas vantagens e desvantagens.
Por um lado, ela é vista como uma ferramenta eficaz para restaurar a ordem em momentos de caos. Por outro, levanta preocupações sobre o abuso de poder, violações dos direitos humanos e a potencial fragilização das instituições democráticas, como ocorreu na Tailândia, em 2015, quando um golpe militar ocorreu.
A lei marcial pode ser eficaz para restaurar a ordem em situações de crise, como guerras, rebeliões ou desastres naturais. Isso ocorre porque ela concede poderes adicionais às forças armadas, que podem ser usados para reprimir a violência e o caos.
Ela também pode ser aplicada para proteger vidas em situações de emergência. Por exemplo, pode ter a finalidade de impor toques de recolher, restringir a circulação de pessoas ou armas, ou até mesmo evacuar áreas perigosas.
Importante mencionar, ainda, que a lei marcial permite que o governo tome medidas rápidas e eficazes para responder a uma crise. Isso é importante em situações em que a demora pode resultar em perda de vidas ou danos materiais.
No entanto, ela possui um impacto negativo nos direitos civis e na democracia.
Com a implementação da lei marcial, geralmente, ocorre a suspensão das garantias constitucionais, com redução das liberdades individuais, como a liberdade de expressão, liberdade de reunião e associação e a livre locomoção.
Devido à limitação desses direitos e liberdades e ao acúmulo de poder no Executivo, a lei marcial pode fortalecer o poder do governo e dificultar o controle do poder pelo povo e sua participação na tomada de decisões. Isso, por sua vez, gera o risco de autoritarismo e de violação dos direitos humanos.
A lei marcial implica na militarização da sociedade, com o aumento da presença de militares nas ruas e a imposição de toque de recolher. Isso cria um clima de medo e intimidação, desestimulando a participação popular e dificultando a organização de qualquer tipo de resistência ao governo.
A aplicação da lei marcial pode prejudicar a imagem de um país no cenário internacional, pois pode ser vista como uma violação dos direitos humanos e da democracia, enfraquecendo, assim, a sua economia.
E você, o que acha da lei marcial? Conte sua opinião nos comentários!