Quais são as línguas africanas faladas no Brasil?

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O Brasil é um caldeirão cultural onde diversas influências se misturam para formar a identidade nacional. Entre essas influências, as línguas africanas ocupam um lugar de destaque.

Explorar as línguas africanas faladas no Brasil é compreender a profundidade e a resiliência de um legado cultural que, apesar de enfrentar séculos de opressão, continua a resistir e a enriquecer a diversidade linguística do país. Quer saber mais sobre a influência dessas línguas no nosso português? Continue com a Politize que te explicamos!

A Diáspora Linguística: Raízes Africanas no Brasil

Antes de tudo, é necessário mencionar que o nosso país não tem apenas o português como o único idioma, pois, de acordo com a linguista Terezinha Maher (2013), temos mais de 200 línguas, entre línguas de imigração, indígenas e as de origem africana, as quais são consideradas línguas plenas ou especiais.

As línguas africanas chegaram ao Brasil por meio da dolorosa história da escravidão, que trouxe milhares de africanos, especialmente de duas regiões da África subsaariana: a região banto, situada ao longo da extensão sul da linha do equador, e a região oesteafricana ou “sudanesa”, que abrange territórios que vão do Senegal à Nigéria.

Escravos africanos eram misturados pelos senhores, desde o tráfico, para que não se comunicassem em suas próprias línguas.

Saiba mais: Entenda como ocorreu a abolição da escravatura no Brasil

Quais são as línguas africanas faladas no Brasil?

Segundo levantamento linguístico e etnográfico de Nina Rodrigues feito junto aos escravos da Bahia, no final do século XIX (lê-se 19), seis línguas africanas eram faladas naquele estado: nagô ou iorubá, jeje ou ewe, hauçá, canúri, nupê, grúnci ou grunce.

Atualmente, uma das línguas africanas mais conhecidas no Brasil é o Yorubá (ou iorubá), originário da região que hoje compreende a Nigéria, Benin e Togo. O Yorubá é amplamente utilizado em práticas religiosas do Candomblé, especialmente nas comunidades de Salvador, Bahia. Suas palavras e cantos sagrados são essenciais nos rituais, mantendo viva uma conexão espiritual e cultural com a África.

O iorubá é uma língua única, constituída por um grupo de falares regionais concentrados no sudoeste da Nigéria (ijexá, oió, ifé, ondô, etc.) e no antigo Reino de Queto (Ketu), hoje, no Benim, onde é chamada de nagô, denominação pela qual os iorubás ficaram tradicionalmente conhecidos no Brasil.

Outra língua é o Kimbundu, que influenciou fortemente o português brasileiro, especialmente em termos culinários e nomes de plantas e animais. A primeira Gramática de quimbundo no mundo foi escrita em 1694, na Bahia, e publicada em 1697, em Lisboa. Boa parte da população escrava da Bahia era falante de quimbundo.

Já o Kikongo, é mantido vivo em várias comunidades quilombolas, onde tradições orais são passadas de geração em geração. E a língua Ewe-Fon é outra presença africana no Brasil, particularmente nos rituais do Candomblé Jeje. Cânticos e rezas em Ewe-Fon são comuns, preservando aspectos importantes da língua e da cultura africana no contexto religioso.

Quais são as influências das línguas africanas na Língua Portuguesa?

As línguas africanas tiveram um impacto significativo no vocabulário do português brasileiro. Termos do dia a dia, especialmente relacionados à culinária, música, e religião, têm raízes africanas.

No vocabulário, os exemplos mais conhecidos, são relativos a instrumentos musicais (berimbau, cuíca, agogô), à flora (dendê, moranga, jiló), à fauna (camundongo, minhoca, marimbondo), ao corpo humano (bunda, corcunda, banguela), à culinária (mocotó, moqueca, canjica) etc.

Além de palavras isoladas, as línguas africanas também influenciaram expressões idiomáticas e estruturas gramaticais no português brasileiro. A entonação e o ritmo da fala, especialmente nas regiões onde a presença africana foi mais intensa, refletem essa mistura linguística.

De acordo com Yeda Pessoa de Castro, as influências africanas se fazem perceptíveis na pronúncia rica em vogais da nossa fala (ri.ti.mo, pi.néu, a.di.vo.ga.do), na tendência a não marcar o plural do substantivo no sintagma nominal (“os menino”, “as casa”), na dupla negação (“não quero não”), no emprego preferencial pela próclise (“eu lhe disse”, “me dê”).

Conjunto de letras do alfabeto coloridas com padrões decorativos, exibindo uma variedade de estilos e cores vibrantes.
Alfabeto relacionado as línguas africanas. Freepik.

Quais palavras brasileiras têm origem africana?

Muitos ingredientes e pratos tradicionais brasileiros têm nomes de origem africana. “Acarajé” (do Yorubá, significando “comer bola de fogo”), “vatapá” e “mungunzá” são alguns exemplos de como a gastronomia brasileira foi enriquecida pelas influências africanas.

Nomes e Títulos Nomes próprios e títulos também mostram a influência africana. Palavras como “ogum” (um orixá do Candomblé), “xangô” e “oxum” são frequentemente usadas não apenas em contextos religiosos, mas também em nomes de pessoas e lugares.

Outras palavras do cotidiano: dengo, cafuné, caçula, moleque, quitanda, muvuca, abadá, bunda, minhoca, axé.

Veja também: Existem palavras de origem africana na língua portuguesa? Conheça

Uma tigela de alimentos fritos, acarajé, repousa sobre uma mesa.
Acarajé = comer bola de fogo. Imagem: Pixabay.

Existe alguma ameaça de extinção dessas línguas?

Apesar da rica herança cultural, muitas línguas africanas no Brasil enfrentam o risco de extinção. A urbanização, a globalização e a predominância do português ameaçam a sobrevivência dessas línguas. Iniciativas de preservação, como a documentação e o ensino em escolas, são cruciais para manter vivas essas tradições linguísticas.

As comunidades quilombolas desempenham um papel vital na preservação das línguas africanas. A transmissão oral de histórias, músicas e rituais ajuda a manter essas línguas vivas. Contudo, a falta de apoio institucional e recursos representa um grande desafio para essas comunidades.

Dados Interessantes

  • Estudos mostram que cerca de 3.000 palavras do português brasileiro têm origem africana. Isso reflete a profundidade da influência africana na formação da língua e da cultura brasileira.
  • O samba tem fortes influências das línguas africanas em suas letras e ritmos, demonstrando a integração e a influência cultural africana na música brasileira.
  • O batuque, a capoeira e o jongo são manifestações culturais que preservam elementos das línguas africanas, como ritmos, danças e expressões linguísticas.
  • A palavra axé (de étimo fon/iorubá), tem os fundamentos sagrados de cada terreiro, sua força mágica, usada como termo votivo equivalente a “assim seja”, da liturgia cristã ou então “boa-sorte”.
  • O “jó”, da faixa Escravos de Jó, advém das línguas quimbundo e umbundo e quer dizer “casa”, “escravos de casa”.

Falando dessa forte influência das línguas, conheça mais sobre a capoeira.

Copo de cachaça com limão.
O termo cachaça veio dos povos africanos. Imagem: Pixabay.

As línguas africanas faladas no Brasil são um patrimônio cultural de inestimável valor. Elas representam não apenas a riqueza da diversidade linguística, mas também a resiliência e a força das comunidades africanas que, apesar de séculos de opressão, conseguiram manter vivas suas tradições.

Pensando nisso, está aberta ao público, desde o dia 24 de maio de 2024 até janeiro de 2025, a exposição temporária Línguas africanas que fazem o Brasil, com curadoria do músico e filósofo Tiganá Santana e realização do Museu da Língua Portuguesa, instituição da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Estado de São Paulo. Ela mostra como canções populares no Brasil foram criadas a partir da integração entre línguas africanas e o português, como Escravos de Jó e Abre a roda, tindolelê, além de palavras oriundas pertencentes ao nosso português.

Para quem quiser se aprofundar mais um pouco, recomendamos a leitura do livro “Um defeito de cor”, de Ana Maria Gonçalves e também está disponível pelo HBO o documentário “Línguas da nossa língua”, do diretor Estevão Ciavatta com participação de Caetano Veloso, Maria Bethânia e Yeda Pessoa de Castro.

E aí, conseguiu compreender a importância das línguas africanas? Quais dessas palavras você sabia que eram de origem africana? Deixe seu comentário sobre o tema!

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Jequieense, nordestino até no frio, filho de dona Maria Lúcia, pai da Amora, técnico de Informática em constante aprendizado, instalador de sistemas fotovoltaicos, apaixonado por esportes, vegano, antifascista, anticapitalista e defensor dos direitos humano. Formação humana moldada pelo Heavy Metal e Hardcore. Gosto de ler e escrever quando dá tempo.

Quais são as línguas africanas faladas no Brasil?

18 set. 2024

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