Metaverso: o que saber para não subestimar a nova camada da realidade

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Horizon Worlds, o metaverso do Meta em realidade aumentada (RA). Imagem: Facebook/Reprodução.

Encontramos o ambiente que reúne várias tecnologias, como a realidade virtual, os hologramas, as criptomoedas e compusemos um mundo novo: o Metaverso. A diversão vem primeiro à mente, mas o Metaverso é mais do que isso.

A nova camada da internet (e da realidade) atrai os olhares de investidores pois está cada dia mais desenvolvida, apresentando uma experiência na internet mais interessante, pessoal e imersiva que aquela da web como conhecemos.

Pode parecer uma internet sofisticada ou um mero jogo de realidade virtual para os mais leigos, mas as proporções que o Metaverso vem tomando, e promete tomar, merecem o texto que você vai ler.

O que é Metaverso?

Antes de tudo, Metaverso não é um programa criado pela empresa Meta, quando ainda se chamava Facebook. Metaverso é um conceito amplo e representa um espaço virtual que simula nossas experiências reais atreladas a uma imersão que vai além da web como conhecemos, esta que se limita ao texto, vídeo e a duas dimensões.

As empresas, como a Meta, criam suas próprias plataformas de Metaverso, não o Metaverso em si. E não, não vale dizer que qualquer jogo, como The Sims, ou qualquer experiência inspirada na vida real se enquadra no conceito.

Ficou confuso? Por sorte a criatividade humana já nos deu o exemplo perfeito (e talvez o único capaz de explicar). Pense no filme Matrix, nele os personagens são reféns de uma inteligência artificial e vivem uma vida paralela em um ambiente virtual, situação difícil de sair por causa da verossimilhança alcançada pelo sistema.

Quer entender mais sobre inteligência artificial e sustentabilidade? Confira o conteúdo do Projeto Direito ao Desenvolvimento: Inteligência Artificial e sustentabilidade: o poder transformador da tecnologia!

Tal qual a Matrix, o Metaverso é mais complexo que as demais interações virtuais que conhecemos. Porém, ainda não alcançamos a sofisticação que vemos no filme, hoje o Metaverso se assemelha mais a um jogo como Roblox – um universo onde o usuário cria um avatar e personaliza sua experiência através do acesso a inúmeros jogos, compras virtuais e funções de rede social.

No Metaverso não acessamos somente informações ou simplesmente realizamos atividades comuns à rotina, mais que isso, é o lugar em que estamos fazendo virtualmente o mesmo ou muito mais do que fazemos no mundo real.

Por falar nisso, esse último ponto é motivo de discussão, afinal, não seria o metaverso uma extensão da realidade? Não é nele que se realizam reuniões de negócios, fechamento de contratos, compra e venda de coisas que só podem ser usadas no metaverso ou só no mundo real?

Veja também: Inclusão e Diversidade Digital para um futuro saudável sustentável

Como surgiu o Metaverso?

O termo “Metaverso” foi utilizado pela primeira vez em 1992 por Neal Stephenson em seu livro de ficção científica “Snow Crash”. A obra conta a história de “Hiro Protagonist”, personagem que na “vida real” é um entregador de pizza, mas no mundo virtual – chamado na história de metaverso – é um samurai. Assim como na história de Stephenson, hoje uma pessoa pode ser e fazer no metaverso aquilo que não pode no mundo real.

Quais as aplicações do Metaverso?

As aplicações do Metaverso são várias sendo a mais comum até agora os games, como Second Life, Roblox e Fortnite. Mas empresas de tecnologia já usam o metaverso para reuniões em hologramas, é o caso da plataforma Mesh da Microsoft, ou para simulações e colaboração como o Nvidia Omniverse da Nvidia. Além disso, o Metaverso difunde a aplicação de tecnologias que já existem como os NFT’s e as criptomoedas.

A “construção” de sedes virtuais no metaverso por empresas que existem no mundo real é uma aplicação que ganha novos adeptos a cada dia. Não importa o ramo, mesmo empresas de áreas mais tradicionais já enxergaram o potencial de captação e atuação proporcionados pelo metaverso. No Brasil, o escritório paulista Viseu Advogados foi pioneiro ao lançar uma sede virtual no metaverso, em fevereiro de 2022.

Como qualquer inovação em ascensão, o Metaverso é alvo de muitas expectativas e ainda são estudadas possíveis aplicações que futuramente serão comumente utilizadas. Nos resta aguardar o progresso, participar das discussões éticas acerca do uso e experimentar as novas funcionalidades.

O Metaverso apresenta perigos?

Imagem: Freepik.

Claro que algo tão imersivo não pode ser benéfico diante de longos períodos de utilização. Como fica a saúde dos usuários, em especial os mais jovens que são atraídos pelos games e não disciplinam o tempo de uso?

Além disso, questões trabalhistas advindas de problemas de saúde, desde fadiga ocular até lesões por esforço repetitivo pela manipulação de teclado, mouse e controle, ou de pescoço pelo uso dos óculos VR, são iminentes. Estes trabalhadores terão alguma proteção especial? As empresas estão preparadas? Como fica a regulação governamental frente a essas novas tecnologias?

Na esfera trabalhista ou não, os riscos de assédio moral e sexual precisam ser considerados com o agravante do metaverso ainda não possuir suas próprias ferramentas de vigilância, denúncia e punição.

É certo que o direito digital já prevê crimes cibernéticos, bem como as autoridades policiais já possuem experiência na investigação desse tipo de delito, mas descobrir a identidade de um usuário ou provar que um crime ocorreu são desafios de todas as plataformas virtuais e isso inclui o metaverso.

Vale lembrar que não é suficiente falar em crimes cibernéticos ou usar qualquer nomenclatura generalizante. O metaverso possui suas particularidades e, como qualquer plataforma massivamente utilizada e de relevância mundial, precisa desenvolver alguma(s) ferramentas que fomentem uma experiência saudável para os usuários.

Privacidade de dados é um tópico diretamente relacionado com quem gerencia a plataforma e com a regulação existente. Julia Peranovich, advogada na AP Digital Services, concedeu uma entrevista sobre o assunto ao canal Future of Money, da revista Exame.

Segundo ela, ao solicitar dados pessoais para cadastro em suas plataformas, metaversos centralizados podem se enquadrar na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) sendo exigida transparência em relação ao gerenciamento dos dados dos usuários.

Veja também nosso vídeo sobre Lei de Acesso à Informação!

Mas afinal, o que são Metaversos centralizados?

São aqueles em que as empresas donas deles armazenam sozinhas e possuem todo o direito sobre os seus dados. Diferentemente dos descentralizados, que pertencem à própria comunidade. Ou seja, os dados não estão sobre a posse de alguém.

Mas, será que isso exime os Metaversos descentralizados, de qualquer responsabilidade sobre os dados? Não seria importante a manutenção da plataforma para evitar ataques aos dados da comunidade?

Aspectos políticos do metaverso

Você lembra do escândalo da empresa Cambridge Analytica? Em suma, segundo a denúncia, feita pelos jornais The New York Times e The Guardian e por um ex-funcionário da empresa, Christopher Wylie, a empresa usou os dados de milhões de usuários do Facebook para o mapeamento psicológico e posterior manipulação de opinião política, sem seu consentimento.

Cliques, acessos e a forma como costumamos nos expressar nas redes traçam nosso rastro digital e podem dizer sobre nós, como pensamos e quais nossos posicionamentos políticos por exemplo.

Uma vez que isso já é possível na internet como conhecemos hoje, que tipo de sutis direcionamentos podem ser feitos em um ambiente que promete se confundir com a realidade? Além disso, junto da melhora dos hologramas e animações realistas, podem surgir fake news refinadas com a montagem de discursos de candidatos para enganar o eleitor.

Não só a manipulação eleitoral, mas a difusão de discursos de ódio pode não só aumentar como se fortalecer, tornando-se mais complicada a desvinculação do indivíduo deste tipo de pensamento.

Imagine um grupo internacional que difunde mensagens de ódio e cunho discriminatório contra alguma minoria. Diante do metaverso, pessoas mal intencionadas se sentirão mais abraçadas e pertencentes a estes grupos, uma vez que terão a sensação de convivência, bem como poderão por meio da psicométrica alcançar mais adeptos

E você, pensou mais alguma coisa sobre o Metaverso lendo esse texto? Aqui, não pude prever todos os perigos nem todas as funcionalidades que o metaverso pode apresentar mas que tal você deixar seu palpite nos comentários? Aproveite e deixe suas dúvidas e opiniões!

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Conteúdo escrito por:
Estudante de Direito, curiosa, falante e reflexiva. Encantada pelas infinitas conexões entre filosofia, direito, política e questões do dia a dia, buscando sempre conhecer o que há de mais novo sem abrir mão da história. Empenhada em discutir os detalhes ocultos e a raiz da problemática. Natural de Imperatriz-MA com uma mente sem fronteiras.
Brito, Maria. Metaverso: o que saber para não subestimar a nova camada da realidade. Politize!, 26 de fevereiro, 2023
Disponível em: https://www.politize.com.br/metaverso/.
Acesso em: 21 de nov, 2024.

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