Ilustração de uma moeda com o nome BRICS no meio, e abaixo, cinco braços distintos segurando as respectivas bandeiras que compõem o BRICS.

O que é a moeda do BRICS?

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O bloco dos BRICS, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, é uma das principais alianças econômicas emergentes do mundo. Ao longo das últimas décadas, esses países têm trabalhado juntos para promover a cooperação econômica e fortalecer sua influência no cenário internacional.

Nos últimos anos, a proposta de uma moeda comum, ou seja, a moeda do BRICS, tem ganhado força como uma tentativa de reduzir a dependência do dólar norte-americano.

A seguir, vamos analisar a proposta de uma moeda dos BRICS como uma alternativa ao dólar, além de discutir as oportunidades e os desafios enfrentados pelos BRICS para criar uma moeda comum. Acompanhe a leitura!

Sistema de pagamentos SWIFT

O sistema de pagamentos interbancários SWIFT (Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication) foi criado na década de 1970 e se tornou a espinha dorsal da comunicação entre bancos em todo o mundo, garantindo clareza e eficiência nas transações. É um sistema que facilita a comunicação entre os bancos para realizar transferências de dinheiro entre diferentes países.

Através do SWIFT, os bancos podem enviar mensagens eletrônicas seguras para transferir fundos internacionalmente. Ele é amplamente utilizado para transações internacionais, sendo uma ferramenta essencial para os pagamentos interbancários em diversas moedas, mas especialmente no dólar norte-americano.

As mensagens enviadas pelo SWIFT são altamente seguras, reduzindo o risco de fraudes e garantindo a confidencialidade das informações. Sua infraestrutura é robusta e confiável, e com baixa incidência de falhas.

Entenda mais sobre: Expansão dos BRICS

As transações são enviadas por meio de mensagens de texto que contêm informações sobre a origem, destino, valores e outros detalhes necessários para que as transações sejam concluídas.

Devido à predominância do dólar, o sistema SWIFT é frequentemente utilizado em sanções econômicas, como forma de aplicar políticas internacionais que atendam aos interesses dos países membros do sistema.

As sanções dos EUA, como as aplicadas ao Irã em 2012, evidenciam o poder do sistema SWIFT, que pode restringir transações internacionais de países sancionados. Essa influência tem levado nações como China e Rússia a buscar alternativas ao SWIFT e ao dólar.

Ainda assim, o sistema SWIFT promove a integração global e garante um padrão uniforme de comunicação entre instituições financeiras, facilitando fluxos de capital em economias emergentes.

O dólar como moeda de reserva global

O papel do dólar como moeda de reserva global, consolidado na conferência de Bretton Woods em 1944, promove integração econômica e reduz custos de transação, enquanto confere aos Estados Unidos uma vantagem única no financiamento de déficits.

Eichengreen (2008) argumenta que, apesar da ascensão de outras economias, como a China, a predominância do dólar permanece estável, pois ele é considerado uma moeda segura em tempos de crise econômica, dada a sua alta liquidez e o fato de que a maior parte do comércio internacional de commodities, como petróleo, ouro e gás, é feito em dólares.

Segundo Friedman, a adoção de uma moeda amplamente reconhecida como o dólar cria uma base de confiança no comércio global, algo difícil de replicar em economias emergentes que enfrentam instabilidades internas.

Nesse mesmo sentido, Niall Ferguson defende que a predominância do dólar no comércio internacional é uma consequência de sua capacidade de oferecer segurança e previsibilidade em tempos de crise, algo que sistemas alternativos ainda não conseguiram demonstrar.

No entanto, essa dependência do dólar tem gerado desconforto em diversas nações, especialmente as economias emergentes, que veem no dólar uma fonte de vulnerabilidade, pois qualquer crise econômica ou política nos Estados Unidos pode afetar diretamente o fluxo de comércio e investimentos globais.

Assim, países como China e Rússia têm se mostrado cada vez mais interessados em reduzir sua exposição ao risco associado à moeda americana, buscando alternativas tanto ao dólar quanto ao sistema SWIFT, como evidenciado em iniciativas como a criação do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB) (Triesman, 2017).

Veja também: Dolarização: por que alguns países adotam o dólar?

A proposta de moeda do BRICS

Diante desse cenário, os países do BRICS têm discutido a criação de uma moeda comum ou, ao menos, um sistema de pagamento alternativo que possa promover uma maior liberdade econômica para tomar decisões sem depender de fatores externos, como o dólar.

A ideia de uma moeda comum, embora ainda em fase inicial, está sendo considerada como uma forma de integrar ainda mais os países membros e possibilitar transações comerciais entre eles sem a necessidade de conversão para o dólar.

Logo do BRICS com cada letra com a ilustração da bandeira do respectivo país que leva aquela inicial.
Imagem: Wikimedia Commons

Como Hurley e Ratha (2019) ressaltam, a criação de uma moeda do BRICS poderia ajudar a promover uma maior integração econômica entre os países membros, possibilitando um ambiente mais favorável ao comércio intra-bloco.

Essa moeda poderia ser usada para transações financeiras dentro do bloco, promovendo maior estabilidade financeira e reduzindo a volatilidade cambial que ocorre atualmente nas transações internacionais entre os membros do BRICS.

Por outro lado, o autor Friedman argumenta que iniciativas como a criação de moedas regionais podem enfrentar dificuldades, especialmente em economias com políticas monetárias centralizadas, o que pode levar a distorções e ineficiências.

Embora a ideia de uma moeda comum dos BRICS tenha potencial, Friedman e Ferguson apontam que a introdução de alternativas ao dólar pode enfrentar obstáculos significativos. Essas iniciativas frequentemente esbarram em falta de confiança, volatilidade e a ausência de uma estrutura econômica unificada entre os países membros.

Entenda mais: Novo Banco de Desenvolvimento: o banco do BRICS

Oportunidades e desafios

Existem tanto oportunidades como desafios, que fazem com que os países do BRICS se voltem para esta solução, mas a passos curtos.

Autonomia econômica

Uma moeda que independa do dólar permitiria maior liberdade econômica aos países do BRICS, reduzindo sua vulnerabilidade a sanções e bloqueios financeiros, como os impostos sobre o Irã e a Rússia. Além disso, essa autonomia ajudaria a mitigar riscos cambiais e a volatilidade associada à dependência da economia dos EUA (Stiglitz, 2002).

No entanto, como destaca Krugman (2012), as diferenças econômicas internas entre os membros do BRICS são um obstáculo significativo. Por exemplo, enquanto a China possui uma economia robusta e altamente industrializada com reservas substanciais, países como África do Sul e Brasil enfrentam desafios fiscais e estruturais que dificultam a coordenação de políticas monetárias.

Estabilidade financeira

Uma moeda comum poderia, teoricamente, reduzir custos de transação entre os membros do BRICS, eliminando a necessidade de conversões para o dólar e promovendo maior estabilidade financeira interna ao bloco. Bresser-Pereira (2009) observa que, para países em desenvolvimento, a dependência do dólar frequentemente resulta em instabilidade financeira.

Por outro lado, a implementação dessa moeda enfrentaria desafios de coordenação política e técnica. A necessidade de alinhamento nas políticas monetárias entre países com prioridades divergentes, como o controle centralizado do yuan pela China e a flexibilidade demandada pelo Brasil para lidar com sua alta inflação, é uma barreira considerável (Eichengreen, 2008).

Além disso, uma moeda comum poderia expor economias mais frágeis a riscos de instabilidade financeira e inflação, como ocorreu na zona do euro com países como Grécia e Itália (Krugman, 2012). Essa lição ressalta a importância de políticas monetárias flexíveis para lidar com crises específicas de cada membro.

Diversificação de reservas

A diversificação de reservas internacionais poderia proteger os países do BRICS das flutuações causadas pela política monetária dos EUA e reduzir a dependência do dólar (Eichengreen, 2008). Esse movimento também facilitaria maior resiliência contra crises financeiras globais.

Entretanto, a ausência de uma infraestrutura financeira sólida que rivalize com o sistema SWIFT é um desafio. Criar uma rede de pagamentos internacional segura e confiável exigiria investimentos significativos e consenso político entre os países membros (Triesman, 2017). Adicionalmente, a falta de alinhamento sobre prioridades econômicas entre os membros, como políticas expansionistas do Brasil versus políticas restritivas da China, dificulta a viabilidade de uma moeda comum (Bresser-Pereira, 2009).

Desafios estruturais e geopolíticos

A criação de uma moeda comum ou de um sistema alternativo ao SWIFT enfrenta não apenas desafios técnicos e econômicos, mas também geopolíticos. A perda de soberania monetária é uma das preocupações centrais, já que os países membros teriam que delegar decisões monetárias importantes a uma autoridade central, comprometendo sua capacidade de resposta a crises locais.

Além disso, a resistência do Ocidente, liderado pelos EUA, é um fator significativo. A manutenção do dólar como moeda global confere estabilidade e previsibilidade ao sistema financeiro internacional, mas também reforça o poder econômico dos Estados Unidos.

Friedman argumenta que mercados globais livres, ancorados em uma moeda confiável como o dólar, promovem crescimento e eficiência, dificultando a competição de alternativas emergentes.

Imagem da reunião dos membros do BRICS de 2024.
Imagem: Council on Foreign Relations

Barreiras externas

A proposta de uma moeda comum para o BRICS, assim como a criação de um sistema de pagamentos alternativo ao SWIFT, enfrenta considerável resistência do Ocidente, especialmente dos Estados Unidos e da União Europeia.

O controle financeiro global, em grande parte centrado no dólar e no sistema SWIFT, tem sido um pilar da influência ocidental desde a Segunda Guerra Mundial.

A proposta de uma moeda do BRICS desafia o sistema financeiro atual, o que poderia gerar implicações significativas para o comércio internacional e a integração econômica global.

O dólar americano é a principal moeda de reserva mundial, usada em grande parte das transações comerciais internacionais, incluindo commodities essenciais como petróleo e gás.

O sistema financeiro global, dominado pelas instituições financeiras ocidentais (FMI, Banco Mundial e SWIFT), tem permitido que os Estados Unidos exercem considerável influência sobre a economia global, especialmente por meio das sanções econômicas. Assim, a criação de uma moeda do BRICS poderia enfraquecer essa posição.

Conclusão

A proposta de uma moeda dos BRICS surge como uma tentativa de desafiar a predominância do dólar e o controle financeiro ocidental, buscando maior autonomia econômica e estabilidade para os países membros.

Embora a ideia tenha um grande potencial, os desafios são numerosos, incluindo a disparidade econômica entre os membros, os obstáculos técnicos para criar um sistema de pagamentos alternativo ao SWIFT e a resistência geopolítica externa.

No entanto, a crescente insatisfação com a atual ordem financeira global e o desejo de maior controle sobre suas economias podem continuar a impulsionar essa iniciativa, levando a um novo capítulo na história da economia global.

E aí, entendeu tudo sobre a criação da moeda do BRICS? Se tiver ficado alguma dúvida, deixa pra gente nos comentários!

Referências:

BRICS. BRICS e a moeda comum: desafiando a hegemonia do dólar. [S.l.]: [s.n.], 2023. Disponível em: https://www.brics.org.

FMI – FUNDO MONETÁRIO INTERNACIONAL. Relatório anual de 2023. Washington, D.C.: FMI, 2023. Disponível em: https://www.imf.org.

SWIFT. Sobre o SWIFT: Como funciona e qual o seu papel na economia global. [S.l.]: SWIFT, 2024. Disponível em: https://www.swift.com.

STIGLITZ, Joseph E. A globalização e seus malefícios. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2002.

ZUBOFF, Shoshana. A era do capitalismo de vigilância: a luta por um futuro humano na nova ordem digital. São Paulo: Editora Intrínseca, 2019.

KRUGMAN, Paul. The return of depression economics and the crisis of 2008. New York: W.W. Norton & Company, 2009.

SACHS, Jeffrey. The end of poverty: Economic possibilities for our time. New York: Penguin Press, 2005.

FRIEDMAN, Milton. A libertação da escolha. Rio de Janeiro: Editora Record, 1999.

BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. A globalização e o novo desenvolvimentismo. São Paulo: Editora 34, 2009.

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Rufino, Gabriel. O que é a moeda do BRICS?. Politize!, 4 de dezembro, 2024
Disponível em: https://www.politize.com.br/moeda-do-brics/.
Acesso em: 4 de dez, 2024.

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