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A história do Sudeste do Brasil: política, economia e cultura

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Responsável por mais da metade do Produto Interno Bruto (PIB) do país e berço da maior cidade da América Latina, a região Sudeste abriga os estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo. Quer saber mais sobre a história da região que é a força econômica do Brasil? A Politize! preparou um material especial para você!

Saiba mais: Descobrimento do Brasil em 1500: descoberto ou invadido?

O Sudeste do Brasil pré-colonial: como era antes de Cabral?

O povoamento da América do Sul aconteceu muito antes da chegada dos portugueses no Brasil. Antes de Cabral, os povos originários já eram os verdadeiros donos dessas terras.

Assista: A história que não te contaram sobre o “descobrimento” do Brasil

Como viviam os indígenas brasileiros no período pré-colonial?

Ritual tupinambá. Gravura publicada no livro Viagem à Terra do Brasil, de Jean de Léry, em 1578. Domínio público.

O arqueólogo e pesquisador Eduardo Góes Neves destaca que:

“Os povos indígenas que habitam o continente Sul Americano descendem de populações que aqui se instalaram há dezenas de milhares de anos”.

Veja mais em: Heranças e manifestações culturais indígenas no Brasil: entenda

No Brasil, existem indícios de seres humanos desde 16.000 a.C. Aos poucos, com o aumento de homens dentro dos grupos, a dispersão dentro do território foi acontecendo. Foi ao longo desse processo que houve a diferenciação linguística e social que deu origem aos troncos Macro-Jê e Macro Tupi.

A partir do tronco Tupi que surgem as nações Tupi e Guarani, que tiveram um contato mais próximo com o homem branco. Na época, os tupis ocupavam a região mais costeira, que vai do Ceará a Cananeia, em São Paulo, passando por quase todo o litoral sudestino.

Já os Guaranis ocupavam o litoral Sul do país, adentrando também na região da bacia dos rios Paraná e Paraguai. Ambas nações eram parecidas em termos de costumes e, apesar da divisão geográfica, se ligavam por meio de parentescos.

E, por último, os Jês chamados de tapuias pelos povos tupis-guaranis – ocupavam os territórios do interior do Sudeste e de parte do litoral do Rio de Janeiro e do Espírito Santo.

Dentro dessas vertentes linguísticas, segundo a doutora em História Social, Kalna Mareto Teao, na época que antecedeu a chegada dos portugueses, havia quase 1.200 idiomas indígenas distintos, divididos em 4 a 6 milhões de habitantes.

Os povos tupis, que eram o grupo dominante da época, viviam de caça, pesca, extrativismo e da agricultura, em um regime semi-sedentário. Nesse sentido, permaneciam em um mesmo local há cerca de quatro anos. Além disso, tinham preferência para regiões próximas de rios navegáveis, onde conseguiam obter solo fértil.

Taba Indígena – História Geral do Brazil – 1º ed. – Francisco Adolfo de Varnhagen.

Suas aldeias, que eram chamadas de tabas, abrigavam centenas de pessoas e funcionavam como pequenas vilas compostas pelas ocas. Essas várias aldeias eram ligadas por trilhas e chegavam a unir também o litoral com o interior do país.

O exemplo mais famoso é Peabiru, que concentra uma rede de trilhas que liga o oceano Atlântico ao Pacífico, com 4 mil quilômetros de extensão.

Leia mais em: As civilizações pré-colombianas e o desenvolvimento da América

Quando as mudanças começaram?

Com a chegada dos colonos, o Sudeste brasileiro passou por mudanças econômicas, políticas e geográficas.

Quadro de Oscar Pereira da Silva, de 1922, chamado “O desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro, 1500”, feita em óleo sobre tela (190 x 330 cm), e disponível no Museu Histórico Nacional.

Durante as três primeiras décadas da colonização, o convívio entre os indígenas brasileiros e os colonos foi pacífico. Os portugueses se incorporaram, aprendiam e trocavam experiências com os nativos. Na época, a principal atividade era o escambo de pau-brasil.

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Com o crescimento da produção açucareira, isso mudou. Com a produção agrícola, a busca por mão de obra e a escravidão indígena começou.

“Anchieta e Nóbrega na cabana de Pindobuçu”, por Benedito Calixto (1927). Acervo do Museu do Ipiranga.

Segundo a MultiRio, empresa pública ligada à Secretaria de Educação da Cidade do Rio de Janeiro, essa colonização acontecia de três formas:

  • Baseada na força, praticada pelos colonos;
  • Pela aculturação, evangelização e destribalização, praticada por jesuítas e outras ordens religiosas;
  • Integração gradual do trabalhador indígena como assalariado, medida adotada por religiosos e leigos.

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Esses métodos foram utilizados de forma simultânea durante os séculos XVI e XVII. Além disso, os colonos se aproveitavam dos conflitos entre diferentes povos para fortalecer o processo de escravidão. Esses conflitos geralmente envolviam questões culturais e territoriais.

Isso não impediu que movimentos de resistência se formassem. Um exemplo disso foi a Confederação dos Tamoios, revolta que envolveu líderes indígenas do Norte do litoral de São Paulo e do Norte do litoral do Rio de Janeiro.

Aos poucos, com o crescimento do ciclo da cana-de-açúcar, centros urbanos e cidades portuárias foram criadas, pensando na exportação do produto para Europa. Além disso, a criação de cabeças de gado e a necessidade de espaço, a ocupação territorial avançou para dentro do país.

Com esse avanço, novos materiais foram descobertos para a exportação, como o guaraná, salsa, canela e principalmente o ouro. O historiador especialista no período colonial, Anthony John R. Russell-Wood, destaca que:

No século XVII, à medida que os bandeirantes penetravam cada vez mais no interior do Brasil em busca de escravos índios e de metais preciosos, relatos de Paranaguá, Curitiba, São Vicente, Espírito Santo e Pernambuco convenceram a coroa da riqueza mineral potencial da América portuguesa.

Essa nova commodity gerou uma nova expansão territorial, principalmente na região de Minas Gerais.

“Navio negreiro”  Johann Moritz Rugendas, séc XIX.

É importante ressaltar que a escravidão indígena não aconteceu como um fato isolado. Simultaneamente, a história brasileira foi sendo marcada pela escravidão africana, que teve início no século XVI.

Com a defesa dos jesuítas pelos direitos dos indígenas e a necessidade de ainda mais mão de obra, o tráfico de africanos para o território brasileiro perdurou por mais de 300 anos.

Entre os séculos XVI e XIX, cerca de 11 milhões de pessoas foram trazidas a força para as Américas. Cerca de um terço desse número tinha como destino o Brasil. No Sudeste, desembarcavam no Rio de Janeiro e em São Vicente.

Inicialmente, trabalhavam no litoral, no corte de pau-brasil, depois nos engenhos de cana-de-açúcar. Mais tarde, o trabalho escravo foi implementado no interior do território brasileiro, trabalhando na mineração, criação de gado, cultivo de cacau, serviço doméstico e outros.

Segundo o Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBA, os africanos foram altamente responsáveis pela criação da cultura brasileira:

Várias das técnicas de cultivo, de criação de gado, e de mineração do ferro foram ensinadas pelos africanos aos portugueses, além da evidente influência linguística e religiosa, o que nos permite dizer que o africano também foi um elemento civilizador do Brasil.

Aprofunde-se: Você conhece a história da escravidão indígena no Brasil?

A organização política do Sudeste colonial

Durante o processo de colonização, o território ocupado pelos portugueses foi dividido em um sistema conhecido como “capitanias hereditárias”, implementado pelo rei Dom João II.

Na época, o principal objetivo foi consolidar a presença portuguesa no Brasil, controlando as invasões que aconteciam no território, e conceder terras para os colonos povoadores.

Martim Afonso de Sousa. Obra de Leandro Manoel Afonso Mendes, Museu Paulista.

No total, o Brasil colonial foi dividido em 15 capitanias que foram entregues para administração de pequenos nobres portugueses, chamados de donatários. Martim Afonso foi o primeiro donatário da capitania de São Vicente.

O sistema não durou muito. Em 1549, a Coroa Portuguesa enviou Tomé de Souza para o Brasil e implementou o governo-geral.

Três cargos essenciais foram criados na colônia: provedor-mor, capitão-mor e ouvidor, equivalentes aos atuais Ministros das Finanças, Defesa e Justiça. Assim, começava a se formar um Estado no Brasil, sob a administração de Portugal.

Ao mesmo tempo, a colônia era subordinada à metrópole, que se beneficiava exclusivamente de todas as suas atividades econômicas.

Leia mais: Como era a economia colonial? 

Durante o século XVII, com a necessidade de um controle maior sobre as atividades de mineração, a capital brasileira saiu de Salvador e foi para a cidade do Rio de Janeiro.

Assim, o sistema de governo-geral dura até que a Coroa Portuguesa começa a se enfraquecer:

Período pós-colonial: o protagonismo de uma região

Divisão territorial do Brasil em 1889 – Wikimedia Commons.

Mais de 200 anos depois do grito de Independência dado por Dom Pedro I, o Sudeste brasileiro mudou muito. Para entender a verdadeira história da região, é preciso observar os aspectos políticos, econômicos e sociais que formam o que é conhecido hoje.

O Sudeste e a Monarquia Brasileira

O Sudeste desempenhou um papel fundamental na Independência do Brasil. Além de ter a cidade do Rio de Janeiro como capital, que era o palco do cenário político da época, Dom Pedro I contou com o apoio das elites rurais brasileiras para se tornar imperador.

A monarquia brasileira durou mais de 60 anos e foi dividido entre Primeiro Reinado (Dom Pedro I) e Segundo Reinado (Dom Pedro II). Durante esse período, as diversas mudanças econômicas influenciaram no desenvolvimento dos Estados.

Como estava São Paulo?

O viaduto da Serra (Harper’s Weekly, Vol. 12, nº 623, 05 de dezembro de 1868).
  • A principal atividade econômica era a produção de cana-de-açúcar até meados do século XIX, quando a cultura cafeeira assumiu o protagonismo;
  • Em 1850, com a proibição do tráfico negreiro e a política do branqueamento (baseado no mito da democracia racial), foi preciso encontrar um substituto para a mão de obra. Assim, o governo brasileiro passou a incentivar a imigração de europeus, principalmente italianos, portugueses, espanhóis e árabes;
  • Em 1867, foi inaugurada a São Paulo Railway, que realizava o carregamento dos grãos de café que eram transportados até o porto de Santos e teve grande influência no crescimento do Estado.
  • Como estava Minas Gerais?
  • Com o esgotamento das jazidas de ouro, a população saiu dos núcleos urbanos e começaram a criação de fazendas em todo o estado;
  • Também era destino de imigração, mas com menor volume que outros estados;
  • Suas políticas públicas de imigração não visavam a mão de obra para grandes fazendeiros e sim uma colonização do território;
  • Embora também existissem a produção de café, o foco da economia mineira era a agropecuária.

Como estava o Rio de Janeiro?

  • Assim como São Paulo, a base da economia do Rio de Janeiro era a produção cafeeira;
  • Como capital, houve grande crescimento de núcleos educacionais;
  • Essa situação durou até 1888, com o fim da mão de obra escrava. Com a falta de mão de obra e o esgotamento do solo, a aristocracia foi empobrecendo.

Como estava o Espírito Santo?

  • Assim como os outros estados, foi fortemente influenciada por imigrantes, mas dessa vez alemães;
  • Também cresceu com a produção cafeeira, mas, ao contrário do Rio de Janeiro, não pereceu tanto com a abolição da escravidão, já que sua economia se baseava na pequena propriedade agrícola.

O Sudeste e a República Brasileira

A partir de novembro de 1889, o Brasil deixou de ser uma monarquia para se tornar uma República. Chamada de República Velha, foi nessa época que a região Sudeste assumiu a sua posição de protagonista.

O seu crescimento econômico coincide com a criação de uma política que permitiu que o poder alternasse entre políticos mineiros e paulistas, conhecida como Café com Leite.

Aprenda mais com o nosso conteúdo: República Velha ou Primeira República do Brasil

Em São Paulo, a presença de imigrantes e a mistura cultural favoreceu a criação de uma identidade e de uma força paulista. Até hoje, o último chefe de Estado a chegar à presidência sem ganhar no estado foi Juscelino Kubitschek, o que demonstra a influência do poder econômico e político paulista.

Na época da Primeira República também ficou registrada a chegada da imigração japonesa no Brasil.

Leia também: Voto de cabresto: contexto histórico e práticas atuais

O Sudeste na Era Vargas

Getúlio Vargas. Por Governo do Brasil – Galeria de Presidentes.

Durante a Era Vargas, o Sudeste do Brasil foi fundamental para grandes mudanças econômicas, sociais e políticas. A Revolução Constitucionalista de 1932, embora derrotada militarmente, acelerou a promulgação de uma nova Constituição em 1934.

Além disso, a industrialização, impulsionada por Getúlio Vargas, consolidou São Paulo e Rio de Janeiro como centros industriais. Houve intensa urbanização, com migração para as cidades em busca de trabalho.

Vargas centralizou o poder e instituiu a CLT, ampliando os direitos trabalhistas, o que levou a sindicatos e greves nas capitais. Culturalmente, houve um florescimento artístico notável, com destaque para o modernismo em São Paulo e a efervescência cultural no Rio de Janeiro.

Em Minas, o Manifesto dos Mineiros demonstrou insatisfação e pediu o fim do Governo Vargas.

Entenda: Direitos trabalhistas: um resumo da história

O Sudeste na Ditadura Militar

Protesto contra a Ditadura. Foto: Wikimedia Commons.

Durante a Ditadura Militar no Brasil (1964-1985), o Sudeste foi cenário de transformações econômicas e políticas. São Paulo, como principal polo industrial, atraiu investimentos estrangeiros e foi símbolo do milagre econômico. Mas, ao mesmo tempo, foi palco de intensa repressão.

Nos outros estados da região não foi diferente. Mesmo com as suas diferenças culturais e comportamentais, todos sentiram o impacto de uma era de censura.

Leia mais: Saiba quais foram os crimes da ditadura militar e suas consequências

Assim, apesar do desenvolvimento desigual e da violência militar, surgiram movimentos de resistência na região, desafiando o autoritarismo e buscando mudanças democráticas.

O Sudeste na redemocratização

Durante a redemocratização do Brasil na década de 1980, o Sudeste foi crucial, com São Paulo e Rio de Janeiro sediando grandes manifestações do movimento Diretas Já, que exigiam eleições diretas e o fim da ditadura.

Já Minas Gerais contou com lideranças políticas influentes, e o Espírito Santo participou ativamente de movimentos civis e sindicais, consolidando o Sudeste como fundamental na transição democrática do país.

Leia também: História do sindicalismo no Brasil e no mundo

Como é a região de hoje?

O Sudeste do Brasil é uma região de grande influência política, concentrando mais de 40% da população brasileira e sendo a região com o maior acúmulo de capital.

Geograficamente, a região é diversa, com vastas redes hidrográficas, cadeias montanhosas e belas áreas costeiras. Culturalmente, o Sudeste é um caldeirão de influências, abrigando grandes comunidades de imigrantes e uma rica diversidade étnica.

Bairro da Liberdade, em São Paulo. Imagem: Almeida Rocha / Folhapress

Grande exemplo disso é que, atualmente, o bairro da Liberdade, em São Paulo, uniu a tradição asiática e o turismo, tornando-se um dos pólos mais visitados na cidade símbolo da diversidade cultural brasileira.

Além disso, a imigração de latino-americanos, árabes e europeus adicionou novas influências. Segundo a Agência Brasil:

Entre 2000 e 2015, foram registrados 879.505 imigrantes no Brasil, dos quais 367.436 apenas no estado paulista.

Em resumo, o Sudeste é um grande exemplo das complexidades e potencialidades do Brasil contemporâneo, onde tradição e modernidade coexistem.

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Referências:

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Por ser apaixonada por leitura desde pequena, escrever se tornou minha profissão e parte da minha identidade. Sou caiçara, jornalista e curiosa sobre como as relações sociais e políticas funcionam.

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