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A história do Sul do Brasil

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O que os três estados da região Sul possuem em comum além de estarem naquela subdivisão geográfica? Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul são os únicos em que predomina o clima subtropical na totalidade do território. 

Além disso, são estados de povoamento tardio que receberam milhares de imigrantes. No entanto, os aspectos em comum não param por aqui. Neste texto, a Politize! traz para você uma breve história do Sul do Brasil, em três diferentes períodos até a atualidade.

Além dos aspectos históricos, o texto também abordará as características geográficas, sociais e econômicas de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Você verá que a  história do Sul do Brasil foi dos conflitos bélicos ao desenvolvimento, embora este tenha sido concentrado e gerado certa desigualdade social.

História do Sul do Brasil pré-colonial: terra dos filhos de Tupã

Indícios arqueológicos encontrados sugerem que a história do Sul do Brasil começou por volta de 10 mil anos atrás. As terras sulistas eram repletas de mata atlântica em suas porções litorâneas e serranas. Nestas áreas de serra, nascem rios que banham boa parte dos territórios da região Sul. 

Aliás, o Sul do Brasil é rico em cursos hídricos. As bacias hidrográficas do Paraná, Atlântico Sul e Uruguai reúnem dezenas de rios que foram cruciais para o deslocamento e as comunicações entre os povos da região.

Os três principais grupos indígenas que viviam naquelas terras eram os jês, os tupi-guaranis e os kaingangs.  No entanto, dentro de cada grande grupo existiam também variações, como os xokleng (dentro dos jês), que vivem em terras catarinenses. Também existiam outros grupos minoritários em territórios específicos, como os sambaquis e os pampeanos. Os primeiros viviam no litoral de Santa Catarina e os segundos nos pampas gaúchos.

A maioria destes grupos era semi-nômade, pois dependia da caça, da coleta e da pesca para obter alimentos. Alguns, como os guaranis, puderam se sedentarizar a partir do desenvolvimento da agricultura. É dos guaranis, aliás, que vem o cultivo da erva-mate e o consumo do chimarrão. Mandioca, pinhão e tubérculos também faziam parte da dieta destes povos.

Estes grupos nativos se organizavam de forma descentralizada, em que cada aldeia contava com a sua própria liderança. Em tempos de conflito, era comum o estabelecimento de alianças entre aldeias. No entanto, isso não implicou a constituição de Estados centralizados.

Falantes de uma grande variedade de línguas, estes povos eram politeístas. As divindades cultuadas estavam relacionadas com elementos da natureza, como o Sol, a chuva, o trovão etc. Tendo Tupã como maior divindade, a mitologia indígena mais conhecida é a dos povos tupi-guaranis. Aliás, inúmeras cidades sulistas carregam a herança indígena no próprio nome, como Tupanciretã. Maior produtora de soja do Rio Grande do Sul, o nome da cidade significa “Terra da mãe de Deus”. A história do Sul do Brasil está permeada de termos indígenas.

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História do Sul do Brasil colonial: nativos, jesuítas e tropeiros

A região Sul do Brasil foi o principal palco de disputa entre portugueses e espanhois durante a Colônia. Embora o Tratado de Tordesilhas de 1494 tenha estipulado uma linha divisória entre os estados ibéricos, os lusitanos não a respeitaram. De acordo com aquele tratado, as terras portuguesas terminavam em uma linha que passava onde hoje está a cidade catarinense de Laguna. Isso significa que a região Sul abrigava uma área fronteiriça, instável e periférica nos tempos coloniais.

A maior parte da região Sul correspondia ao Império espanhol.

Por não contar com minas de metais preciosos ou áreas de clima tropical aptas ao monocultivo da cana de açúcar, a região Sul foi periférica tanto para Portugal quanto para Espanha. Os portugueses até se interessaram pelo litoral do Paraná no século XVII. Paranaguá e Curitiba foram fundadas naquele século devido ao curto “ciclo do ouro paranaense”.  No entanto, com o escasseamento do metal, o governo português logo voltou suas atenções para o ciclo aurífero das Minas Gerais. Durante o período colonial, a história do Sul do Brasil permaneceu na periferia.

Diante da lacuna deixada pela administração dos Estados ibéricos, a Companhia de Jesus assumiu a dianteira no desbravamento da região Sul. Os jesuítas espanhóis foram os primeiros a fundar povoações nas terras a Oeste do Sul do Brasil. Aqueles territórios  abrigaram um ousado projeto de missão colonizadora levada a cabo pelos jesuítas.   Incentivados pela Contra Reforma católica, os jesuítas fundaram missões dedicadas a catequizar os nativos.

As ruínas são consideradas Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO.

As reduções jesuíticas reuniam, principalmente, indígenas guaranis, pois eles já tinham conhecimentos agrícolas a serem aproveitados nas reduções. No entanto, a experiência missioneira foi desarticulada pelos bandeirantes paulistas no século XVII. 

Os bandeirantes capturaram milhares de indígenas para vendê-los como escravizados às fazendas do Sudeste. Por outro lado, as expedições bandeirantes abriram caminhos, fundaram vilarejos e expandiram a presença lusitana na região Sul. Mas não foram somente os bandeirantes que inseriram o Sul hispânico ao Império português.

Com a descoberta das minas de metais preciosos no Sudeste e no Centro-Oeste, houve uma demanda por animais de carga. Embora não tivesse riqueza mineral, o extremo-Sul era rico em reservas de gado, cavalos e muares. Assim, os tropeiros conectaram o Sul com o Sudeste por meio das tropas de animais, as quais abasteciam o Sudeste com animais e víveres. “Caminhoneiros” do período colonial, os tropeiros também abriram caminhos, fundaram cidades e inseriram o Sul do Brasil na economia lusitana.

A presença portuguesa naquelas terras foi reconhecida pela própria Espanha. Pelo Tratado de Madri de 1750, quase toda a região Sul foi incorporada aos domínios lusitanos. Mas este processo de expansão não foi pacífico. O governo espanhol tentou impedir este avanço português por meio de invasões, mesmo após o tratado. 

Em 1763, as tropas espanholas conquistaram a Colônia do Sacramento (atual Uruguai) e a cidade de Rio Grande. Em 1777 foi a vez de Santa Catarina receber uma frota espanhola em suas praias. No entanto, o que Portugal perdia nas guerras, recuperava na diplomacia.

Os bandeirantes paulistas atacaram as missões jesuíticas do Sul do Brasil.

Importante mencionar que a história do Sul do Brasil não foi só de conflitos entre europeus. Havia uma “fronteira tríplice”, em que portugueses e espanhóis tinham também que lidar com os indígenas. Alguns grupos chegavam a fazer alianças com portugueses ou com espanhóis, enquanto outros lutaram contra tudo que fosse europeu. Um exemplo disso foi a Guerra Guaranítica (1753-1756), em que os guaranis lutaram contra portugueses e espanhóis unidos.

Assim como em outras áreas do Brasil, as populações nativas do Sul foram duramente atingidas pela colonização europeia. Milhares de nativos perderam a vida em função dos conflitos ou das epidemias trazidas pelos forasteiros. Os que sobreviveram perderam as suas terras e precisaram fugir ainda mais para o interior para escapar da catequização coercitiva.

Na medida em que a fronteira foi estabelecida e as relações entre Portugal e Espanha estabilizadas, a região Sul começou a ser atrativa. Ao longo do século XVIII, ela recebeu milhares de imigrantes oriundos das ilhas dos Açores. A capital gaúcha, aliás, surgiu devido à presença de açorianos às margens do Guaíba. A presença açoriana está manifestada na arquitetura de cidades como Florianópolis (SC) e Santo Amaro do Sul (RS).

O maior fluxo de imigrantes acarretou em um aumento do uso da mão de obra escravizada africana. Os escravizados foram empregados nas práticas agrícolas e pecuárias do interior, mas também nos comércios e domicílios urbanos. 

A mão de obra indígena também era frequente nesta região, variando ao longo do tempo entre a escravidão e o trabalho assalariado. No Paraná, a mão de obra indígena foi importante no desenvolvimento do cultivo da erva-mate. Já no Rio Grande do Sul, a mão de obra escravizada africana foi  intensamente empregada na produção de charque no extremo Sul.

As charqueadas produziam carne salgada com o uso da mão de obra escravizada africana.

História do Sul do Brasil pós-colonial: guerras, imigração e modernização

Quando o Brasil se emancipou de Portugal, em 1822, a região Sul tinha outra configuração política. O atual Paraná nem sequer existia: era parte da Província de São Paulo. Santa Catarina, por sua vez, tinha um território muito menor que o atual. O único que já possuía um território semelhante ao da atualidade era o Rio Grande do Sul. No entanto, cabe lembrar que até 1828 havia ainda a Província Cisplatina, atual Uruguai.

A Província Cisplatina pertenceu ao Brasil até 1828 e o Paraná se emancipou de São Paulo em 1853.

Durante a Regência (1831-1840), a história do Sul do Brasil registrou a maior revolta separatista brasileira. Entre 1835 e 1845, a Guerra dos Farrapos mobilizou parte do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina em uma luta contra o Império do Brasil. Embora tenha sido derrotada, a Farroupilha segue sendo exaltada pela cultura popular sul-riograndense.

No decorrer do século XIX, a região Sul passou a receber maior atenção do Império brasileiro. Por ser um território fronteiriço e de escassa população branca, os três estados foram alvo de políticas de povoamento e imigração. Importante destacar que estas políticas imigratórias iam ao encontro da ideia de branqueamento da população. Milhares de  italianos, alemães, poloneses, ucranianos, sírio-libaneses, japoneses etc. se instalaram em áreas de colonização nos três Estados. A arquitetura alemã, por exemplo, pode ser vista em cidades como Novo Hamburgo (RS), Blumenau (SC) e a Colônia Witmarsun (PR).

Blumenau realiza a maior Oktoberfest do Brasil. Imagem: Wikipedia.

A história do Sul do Brasil durante os séculos XIX e XX esteve marcada pelo desenvolvimento e diversificação da economia. Os imigrantes trouxeram novas técnicas de cultivo e conhecimentos fabris e dinamizaram as áreas de colonização. Os italianos desenvolveram as indústrias do vinho e da metalurgia na serra gaúcha. Os alemães, a criação de aves e suínos em Santa Catarina. 

Além da agricultura, no Paraná os imigrantes também atuaram no cultivo da erva-mate e na extração de madeira (pinheiro) para a indústria moveleira. Aliás, o crescimento populacional e o desenvolvimento econômico resultaram na emancipação política do Paraná, em 1853.

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Outro desafio que a região enfrenta é o envelhecimento da população. Nos últimos anos, o Sul apresentou quedas nas taxas de natalidade e aumentos na expectativa de vida. Cidades como Blumenau (SC), Brusque (SC) e Veranópolis (RS) se orgulham de se apresentarem como terras da longevidade. No entanto, a longo prazo isso tende a gerar um sistema previdenciário insustentável devido à transição demográfica.

E você, conhece a história do Sul do Brasil? Segundo a sua opinião, quais são as vantagens e os maiores desafios que a região possui? Responda aqui nos comentários!

Referências

  • CARDOSO, Fernando Henrique. Capitalismo e escravidão no Brasil meridional: O negro na sociedade escravocrata do Rio Grande do Sul. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
  • FAUSTO, Boris. História concisa do Brasil. São Paulo: Edusp, 2008.
  • JUNIOR, Caio Prado. História econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 2012.
  • KUHN, Fabio, Breve história do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Leitura XXI, 2007.
  • SCHWARCZ, Lilia Mortiz. STARLING, Heloisa Murgel. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
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Conteúdo escrito por:
Mochileiro, professor e Mestre em História pela UFRGS. Apaixonado por Filosofia, Política, História e Fotografia. Defensor da Educação Pública, ministra aulas de História, Filosofia e Sociologia na Educação Básica e de Atualidades para Concursos Públicos.

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