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O perfil político do Centro-Oeste do Brasil: uma região de contrastes e oportunidades

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No Centro-Oeste brasileiro, o agronegócio encontra a política, e a natureza se choca com os desafios do desenvolvimento sustentável. Aqui, cada hectare de terra cultivada não só alimenta o Brasil, mas também molda o cenário político nacional.

Se você quer entender mais sobre a política do Centro-Oeste, continue a leitura!

O Centro-Oeste e suas características

O Centro-Oeste do Brasil compreende os estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e o Distrito Federal, onde se localiza a capital nacional, Brasília. A região ocupa cerca de 18,86% do território brasileiro e possui 16,3 milhões de habitantes, representando cerca de 8% da população total do país, de acordo com dados do IBGE.

No Censo Demográfico de 2022, a região foi a que registrou maior taxa de crescimento entre todas as outras. A taxa foi de 1,23% ao ano, mais do que o dobro da média do país, de 0,52%.

Mas isso nem sempre foi uma realidade! 

Historicamente, o Centro-Oeste era uma área pouco povoada. Foi somente a partir da expansão agrícola e a construção de Brasília na década de 1960, que a região passou a ter um rápido crescimento populacional e econômico.

De um ponto de vista ambiental, o Centro-Oeste é marcado por uma vasta diversidade geográfica, incluindo biomas como o Cerrado e o Pantanal.

A economia do Centro-Oeste é fortemente impulsionada pelo agronegócio, sendo um dos principais “celeiros” do Brasil. A produção de soja, milho, algodão e a pecuária extensiva são as principais atividades econômicas, contribuindo significativamente para o PIB nacional.

Além disso, a região enfrenta desafios sociais, como a desigualdade econômica e o acesso limitado a serviços públicos em áreas mais remotas.

Histórico político do Centro-Oeste

Nos primeiros anos após a independência do Brasil, o Centro-Oeste era pouco povoado e subordinado às regiões mais populosas do país. A ocupação do território do Centro-Oeste iniciou no século XVII, quando os bandeirantes começaram a explorar o interior do país, ultrapassando as linhas do Tratado de Tordesilhas.

Estavam em busca de ouro e pedras preciosas, o que pautou a atividade econômica da região pelos próximos anos, principalmente no estado de Goiás. Várias cidades, como Cuiabá, Pirenópolis e Corumbá, datam da época da mineração.

Durante o século XVIII, a atividade mineradora entrou em declínio, abrindo lugar para a atividade rural. Foram fundadas algumas fazendas de gado na região, mas o Centro-Oeste ainda permanecia pouco povoado.

A República Velha e a Era Vargas

No início do século XX, o Brasil passava pelo período da República Velha. Esse momento foi marcado pelo Coronelismo, um movimento que consistia em uma “troca de favores” entre a população e os chamados coronéis.

Esse movimento teve grande impacto no Centro-Oeste, deixando seus “ecos” na estrutura de poder da região até hoje.

Quanto a continuidade da ocupação territorial, o primeiro marco oficial para a ocupação do Centro-Oeste foi o anúncio da Marcha para o Oeste, um programa criado por Getúlio Vargas no Estado Novo para ocupar e desenvolver as regiões interioranas do país.

A Marcha teve como consequência o crescimento populacional e o desenvolvimento da malha rodoviária. No entanto, na época, a população e infraestrutura do Centro-Oeste ainda era pouco densa, o que se traduzia em pouca influência política em âmbito nacional.

“A capital da esperança” – o que mudou com a construção de Brasília?

Catedral de Brasília. Imagem: Pixabay.

“Yuri Gagarin, o famoso astronauta, disse-me ao ver Brasília pela primeira vez: “A ideia que tenho, Presidente, é a de que estou desembarcando num planeta diferente, que não a Terra.” – Juscelino Kubitschek, Por que construí Brasília?”.

A transferência da capital para o centro do país já era uma ideia desde a Inconfidência Mineira, pois, de acordo com os inconfidentes, a nova capital representaria um centro gerador de uma cultura verdadeiramente brasileira, separada de Portugal.

Embora a provisão para a mudança já estivesse presente na Constituição de 1891, ela só foi ocorrer de fato no governo de Juscelino Kubitschek (1956 – 1961), como parte de seu Plano de Metas.

Brasília tornou o Centro-Oeste o centro administrativo e político do país, trazendo protagonismo à região. Agora, as decisões mais importantes para a República passariam a ser tomadas ali.

Para além do protagonismo político, a construção da nova capital serviu para conectar fisicamente o Centro-Oeste ao restante do Brasil, com o desenvolvimento da (então insuficiente) malha rodoviária e ferroviária. Isso possibilitou, além de deslocamentos ocasionais, o crescimento populacional da região.

O Regime Militar

O Centro-Oeste ganhou mais destaque durante a Ditadura Militar. Nas décadas de 1970 e 1980, a interiorização voltou a ser uma prioridade política, o que estimulou a implantação de projetos de desenvolvimento regional.

Um desses projetos foi a criação da Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (SUDECO), uma autarquia criada em 1967 com o objetivo de promover o desenvolvimento econômico da região.

O cenário agrário no Brasil é marcado por conflitos ambientais, sociais e econômicos e denuncia uma estrutura fundiária desigual. Então, por meio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), bem como por meio do impulso à ocupação gerida por empresas privadas, o governo militar promoveu a colonização da Amazônia e a usou para conter conflitos agrários. É interessante notar que muitos municípios de Mato Grosso, como Sinop, tiveram origem durante esses projetos.

Nesse contexto, com os conflitos de terra se agravando, o governo viu neste projeto a possibilidade de neutralizá-los e, ao mesmo tempo, promoveria a ocupação da região Amazônica.

Com o passar do tempo, sobretudo com o processo de redemocratização, o objetivo de colonização foi sendo substituído pela proposta de reforma agrária.

Agronegócio e poder político

Com essa expansão agrícola, a partir dos anos 1970, a região começou a atrair novos interesses políticos. Grandes proprietários de terra e o setor agroindustrial passaram a ter influência significativa na política local.

Esse período também viu a emergência de figuras políticas como Maguito Vilela e Iris Rezende em Goiás, que moldaram a política estadual com uma plataforma voltada para o desenvolvimento econômico e infraestrutura, grandes demandas que permanecem em voga na política local até hoje.

A revista britânica Economist publicou uma reportagem em que destaca o crescimento populacional do Centro-Oeste e mostra como o setor industrial e de serviços perdeu força, perdendo o destaque para o agronegócio.

“O que mudou é a percepção de que atividade pode oferecer uma vida melhor, antes, era a indústria, agora não mais”, disse o pesquisador da USP (Universidade de São Paulo), Carlos Vian, em entrevista à revista britânica.

A exportação de soja, grãos e carne é a que mais cresce, por exemplo, o que fez com que o agronegócio se tornasse responsável por ¼ do PIB do Brasil e empregando grande parte dos trabalhadores da região.

A cidade de Sinope (MT) que mencionamos aqui, fundada durante o regime militar, hoje fica no centro do cinturão da soja e enriqueceu com a atividade.

De acordo com a Economist, o crescimento econômico do agronegócio tem influenciado a política e a cultura do Brasil, desde a música sertaneja até a eleição de parlamentares ligados ao agronegócio.

Redemocratização e mudanças recentes

Com a redemocratização na década de 1980, a relevância política do Centro-Oeste voltou a crescer.

Novos partidos e líderes emergiram, refletindo a diversidade de interesses da região. O Partido dos Trabalhadores (PT) e o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) ganharam destaque, especialmente no Distrito Federal.

No entanto, a eleição de líderes como o ex-governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, um dos maiores produtores de soja do mundo, exemplifica como se manteve a influência do agronegócio na política regional.

Panorama atual da política no Centro-Oeste

Atualmente, o principal partido que domina a região é o União Brasil, que contava com 150 prefeituras em 2023, seguido pelo MDB e PSDB. Historicamente, o eleitor do Centro-Oeste demonstra um perfil mais conservador, de centro-direita.

Nas eleições mais recentes (de 2018, 2020 e 2022), o bolsonarismo demonstrou proeminência na região. Em 2022, Jair Bolsonaro (PL) obteve 60% dos votos, e em 2018, 66%.

Após o Censo de 2022 evidenciar o crescimento populacional do Centro-Oeste, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou, em 2023, uma redistribuição das cadeiras na Câmara dos Deputados.

Devido à formação e à organização econômica da região, permanece notória a influência da questão agrária no panorama político do Centro-Oeste. O agronegócio continua a ser um ator central, influenciando políticas públicas e debates sobre desenvolvimento sustentável, infraestrutura e meio ambiente.

O estímulo ao “agro” não só como modo produtivo, mas como cultura, estilo de vida e identidade, é traduzido diretamente em capital político para os representantes e apoiadores do agronegócio. O sucesso explosivo do sertanejo como gênero musical é apenas um exemplo desse fenômeno.

Outro traço marcante da política do Centro-Oeste é o familismo, ou seja, a predominância de nomes que vêm de famílias com tradição política. Alguns exemplos desse fenômeno são as famílias Maggi e Campos, no Mato Grosso; os Caiado, em Goiás; e os Roriz, em Brasília.

Uma característica particular do Distrito Federal é sua forte presença de servidores públicos, que tem impacto na política local e reflete um perfil político mais alinhado com o perfil nacional, dada a esfera de influência de Brasília.

Professores de universidades reivindicando direitos. Imagem: Fotos Públicas.

Análises e perspectivas futuras sobre o futuro político do Centro-Oeste

Para Marília Steinberger, ex-professora e pesquisadora da Universidade de Brasília, o Centro-Oeste ainda está em processo de construção de sua identidade social, cultural e política.

O Centro-Oeste é atualmente a região que mais cresce no Brasil. Nos próximos anos, certamente pode-se esperar um reflexo dessa tendência na política local e nacional, e que a política local adquira contornos mais definidos e característicos.

De acordo com o professor de economia, administração e sociologia na Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP) Carlos Eduardo de Freitas Vian, o Centro-Oeste se tornou um polo de oportunidades.

Para ele, a migração para o Centro-Oeste deixou de ser uma “aventura”, como era no início da ocupação da região. Agora, as pessoas são atraídas pelo forte potencial de geração de emprego, principalmente no agronegócio, mas também na indústria e no setor de serviços.

No entanto, o Centro-Oeste ainda precisa crescer muito em termos populacionais para que sua relevância na política nacional supere a do Sudeste, por exemplo. O Centro-Oeste conta com apenas 11,5 milhões de eleitores, o menor colégio eleitoral do país.

Embora isso possa mudar, caso seja mantida a tendência de crescimento, é provável que nos próximos anos, a relevância política do Centro-Oeste no palco nacional permaneça ligada ao agronegócio e suas demandas.

A política ambiental também deverá continuar sendo ponto central do debate local, visto que a expansão tem seus custos: os biomas locais se encontram em processo de degradação. Esse tema é frequentemente foco de desentendimento entre grupos políticos favoráveis ao agronegócio e grupos ambientalistas.

E aí, se interessou pelo perfil político do Centro-Oeste e quer ler mais conteúdos sobre as regiões brasileiras? Dê uma olhada nos outros artigos do projeto Muitos Brasis!

Referências:

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Conteúdo escrito por:
Brasiliense e cientista política em formação pela Universidade de Brasília (UnB). Atualmente atua na área de Relações Governamentais e, como escritora aspirante, acredita no potencial transformador da palavra para os movimentos políticos.

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