O Muro de Berlim foi construído em 1961 e dividia a Alemanha em duas partes: a Ocidental e a Oriental. O muro foi um dos grandes símbolos da Guerra Fria e foi construída por decisão das autoridades da Alemanha Oriental e da União Soviética. Seu objetivo era isolar Berlim Ocidental da Alemanha Oriental.
Neste texto, a Politize! te explica o que significou o Muro de Berlim na história, como ele surgiu, quem a construiu e as consequências de um símbolo tão poderoso. Vamos lá!
O que foi o Muro de Berlim?
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O Muro de Berlim (em alemão Berliner Mauer) foi a construção de uma barreira de concreto que dividiu a cidade alemã em duas áreas: uma administrada pela República Federal da Alemanha (RFA), com influência do capitalismo ocidental, e outra pela República Democrática Alemã (RDA), na esfera de influência da União Soviética (URSS). O objetivo da construção era evitar fugas de cidadãos alemães.
A construção se estendia por cerca de 155km, dividindo a cidade em seu centro – 43km de fronteira fechada entre os dois lados com muro, cercas, torres e outros aparatos de segurança, e 112km na parte externa da cidade para impedir o acesso por outros lados.
A instalação, que começou a ser construída em 13 de agosto de 1961, passou por modificações até os anos 1980 e foi derrubada em 1989, tinha 302 torres, 20 bunkers e 259 recintos para cães de guarda. Suas 127km de cercas com detectores transformaram Berlim Ocidental em uma ilha praticamente inacessível.
Contexto histórico
Para entender a construção do Muro de Berlim é preciso voltar ainda mais no tempo para o período da Guerra Fria. Este período foi marcado pelo conflito político-ideológico em que o bloco comunista e o bloco capitalista disputaram a hegemonia mundial.
O combate começou logo após a Segunda Guerra Mundial e enraizou-se a partir de 1947. A Alemanha foi um dos países que mais sofreu com a guerra, especialmente por ter sido a grande causadora do conflito. A Alemanha foi ocupada pelas nações Aliadas, em 1945, quando os nazistas renderam-se.
Essa ocupação fez com que o país fosse dividido em quatro zonas: francesa, britânica, americana e soviética. Com a Guerra Fria e a luta entre norte-americanos e soviéticos, a Alemanha acabou se dividindo em duas nações. A divisão foi confirmada em 1949, quando surgiram as duas repúblicas seguintes:
- República Federal da Alemanha (RFA): também conhecida como Alemanha Ocidental, tinha em Berlim Ocidental a sua capital. Aliada dos EUA, integrava o bloco capitalista.
- República Democrática Alemã (RDA): também conhecida como Alemanha Oriental, tinha em Berlim Oriental a sua capital. Aliada da URSS, fazia parte do bloco comunista.
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Por que o Muro de Berlim foi construído?
O Muro de Berlim foi construído por uma decisão conjunta do governo da Alemanha Oriental e da União Soviética. Na época os países eram governados por Walter Ulbricht e Nikita Khrushchev, e a decisão de construir o muro foi tomada para impedir que os moradores de um lado fugissem para o outro.
Por que os moradores da Alemanha Oriental tentavam fugir?
A condição vantajosa da Alemanha Ocidental se tornou notória na Alemanha, o que levou moradores da Alemanha Oriental a tentar fugir para o outro lado. A situação da Alemanha Ocidental era considerada melhor que na Oriental devido à prosperidade da economia. Essa prosperidade era resultado de diversos fatores que incluíam:
- Investimentos significativos dos Estados Unidos por meio do Plano Marshall: os indicadores econômicos da Alemanha Ocidental eram consideravelmente superiores em comparação aos da Alemanha Oriental. No lado Ocidental estavam concentradas 464 empresas das 500 maiores empresas alemãs, enquanto as 36 restantes localizavam-se no lado Oriental;
- Maior população e recursos: com maiores números e investimentos, a Alemanha Ocidental contava com uma população maior e recursos mais abundantes;
- Repressão intensa: A Alemanha Oriental era submetida a uma forte pressão exercida sob a coordenação da polícia secreta Stasi (“Ministerium für Staatssicherheit”, que significa Ministério da Segurança do Estado em alemão).
No período entre 1948 e 1961, cerca de 2,7 milhões de pessoas migraram da Alemanha Oriental para a Ocidental. A perda de mão de obra, especialmente a qualificada, começou a afetar negativamente a economia da Alemanha Oriental. Para conter esse fluxo migratório, a Stasi, a agência de inteligência da Alemanha Oriental, foi mobilizada.
Essa migração em massa ficou conhecida entre as autoridades da RDA como “Republikflucht” (fuga da República, em tradução livre), e a atuação da Stasi mostrou-se insuficiente para controlar a situação. Foi a própria polícia que sugeriu a construção de uma barreira física para conter a fuga.
Levando essa sugestão em consideração, Walter Ulbricht, líder da RDA, buscou aprovação em Moscou para fechar a fronteira. Os soviéticos então deram início aos preparativos do que chamaram de “Operação Rosa” e o comando foi entregue a Erich Honecker (presidente da Alemanha Oriental de 1976 a 1989).
A construção do Muro de Berlim foi monitorada 24 horas por dia, assim como o muro continuou a ser vigiado após sua conclusão. O Muro se estendia por 155 km de extensão pela cidade, dividindo-a ao meio, com torres de observação, cercas eletrificadas e presença policial constante.
Durante o período em que o muro esteve erguido, cerca de cinco mil pessoas conseguiram fugir, enquanto 136 perderam suas vidas, 200 ficaram feridas e 300 foram detidas. Aqueles que buscavam escapar usavam diversos métodos, incluindo a escavação de túneis (cerca de 70 túneis foram cavados entre os dois lados), balões de ar quente, ultraleves e, na maioria dos casos, eram escondidos em carros que atravessavam os pontos de controle.
Um dos túneis mais famosos foi o túnel número 57, com 130 metros de extensão, por onde 57 pessoas conseguiram fugir para Berlim Ocidental em 1964.
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Por que e como o Muro de Berlim foi derrubado?
A queda do Muro de Berlim foi resultado da crise política e econômica que atingiu a Alemanha Oriental na década de 1980. Esta crise gerou revolta e protestos contra a RDA buscando o fim do autoritarismo e da falta de liberdade.
Muitas pessoas optaram por fugir para outros países, o que acabou forçando as autoridades a tomar uma decisão. Como resultado, as fronteiras foram abertas, permitindo que as pessoas se dirigissem para Berlim Ocidental. Na noite da virada do dia 10 para 11 de novembro de 1989, a população se reuniu em torno do muro e começou a depredá-lo. Esse foi o ato simbólico que marcou a queda do Muro de Berlim. No ano seguinte, a Alemanha foi reunificada.
O muro não caiu da noite para o dia, mas foi resultado de um “processo longo e complexo”, de diversas negociações diplomáticas, afirmou a então porta-voz do Departamento de Estado americano, Margaret Tutwiler.
Segundo Tutwiler, um dos momentos que contribuíram para a queda do muro foi o discurso do presidente americano Ronald Reagan em 12 de junho de 1987. Na ocasião, o líder americano se dirigiu ao último líder da União Soviética, Mikhail Gorbachev, e disse: “Senhor Gorbachev, derrube esse muro”.
Apesar da destruição do muro e o fim da divisão da Alemanha, o muro foi retalhado, preservando seus grafites, e vendido em leilões ou em souvenires.
Linha do tempo
1961 13 de agosto: O Muro de Berlim é contruído, da noite para o dia
24 de agosto: Acontece a primeira morte em consequência do muro: Gunter Litfin, 24 anos, estava do lado Oriental e foi morto.
1962 17 de agosto: Peter Fecher, 18 anos, da Alemanha Oriental, é baleado tentando cruzar para o lado Oeste e deixado sangrando até morrer. Ele se tornou a vítima mais famosa do Muro.
1963 26 de junho: John F. Kennedy, então presidente dos EUA, visita Berlim e faz um dicurso dizendo ‘Eu sou um berlinense’, para enfatizar o apoio de Washington à Alemanha Ocidental.
1987 12 de junho: Ronald Reagan, então presidente dos EUA, visita Berlim e pede que o líder soviético Mikhail Gorbachev destruir o Muro de Berlim.
1989 5 de fevereiro: Última morte do muro. Chris Gueffroy, 20 anos, da Alemanha Oriental, é baleado.
6 e 7 de outubro: Protestos antigoverno ocorrem em Berlim Oriental, Dresden e Leipzig.
18 de outubro: Líder da Alemanha Oriental Erich Honecker é retirado do cargo.
4 de novembro: 500 mil pessoas protestam em Berlim Oriental.
9 de novembro: Todas as fronteiras entre a Alemanha Oriental e a Alemanha Ocidental são abertas. 10 de novembro: 2 milhões de alemães do lado Oriental cruzam para a Alemanha Ocidental.
Causas e consequências do Muro de Berlim
O fim do Muro de Berlim não acabou com as diferenças entre os alemães. As empresas comunistas da Alemanha Oriental não conseguiram competir com as ocidentais e muitas faliram. A parte da cidade que sediava o lado oriental ainda é menor que a ocidental.
A taxa de desemprego do lado oriental da Alemanha ainda é alta, mesmo após a queda do Muro de Berlim. Isso ocorre porque muitas empresas comunistas faliram e não houve um grande influxo de novas empresas. No lado ocidental, a presença de estrangeiros é maior, criando assim mais oportunidades de emprego.
O lado oriental da Alemanha também tem uma grande presença de partidos extremistas. Isso ocorre porque muitas pessoas no lado oriental se sentem desiludidas com o governo e com a economia. Segundo uma pesquisa de 2019 mostrou que 24% dos eleitores no lado oriental votariam no partido AfD (Alternativa para a Alemanha), considerado de extrema-direita. Nos estados ocidentais, o apoio ao AfD era de 12%.
Isso se deve ao fato da Alemanha Oriental ter sido constituída como um regime ditatorial, em que as pessoas não tinham liberdade política e por isso acreditam que o governo deveria manter-se o mesmo da época do Muro.
Claro que o lado oriental também tem suas vantagens. Por exemplo, a produção de lixo é menor no lado oriental. Por terem convivido com escassez de alimentos até 1989, os moradores aprenderam a economizar e comprar apenas o que consomem, hábitos que parecem ter prevalecido.
Foi também neste lado que se consolidaram as creches. Enquanto as mães do oeste ficavam em casa com as crianças, as do leste trabalhavam fora, precisando deixar as crianças com alguém. Por isso, o governo oriental fez grandes investimentos em creches, que ainda hoje são um legado para a população.
Ostalgie
Mesmo décadas após a queda do muro, os alemães ainda sentem as consequências do muro e de sua queda. Uma expressão resume o sentimento dos alemães, especialmente que viviam na parte oriental que já eram adultos quando veio a reunificação: Ostalgie.
Ostalgie trata-se da junção de duas palavras em alemão: Ost, que significa Leste, e Nostalgie, que significa nostalgia. Muitos que sofrem deste sentimento são pessoas que não se adaptaram à Alemanha reunificada e sentem falta do país que conheceram na infância.
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Turismo
Essa nostalgia combinada com curiosidade leva Berlim a ser uma das cidades mais visitadas da Europa e do mundo: no primeiro semestre de 2022, foram 11 milhões de turistas. Muita gente vai até lá para entender um pouco do Muro de Berlim e ver o que sobrou.
Há diversos museus em Berlim dedicados ao período da divisão da Alemanha, como, por exemplo, o Museu da RDA, o Museu do Checkpoint Charlie e o Memorial da Bernauer Strasse.
Há ainda a East Side Gallery, a faixa mais extensa existente do muro de Berlim, com 1,3 km. Por todos os lados em Berlim são vendidos pedaços do Muro. Alguns deles chegam a custar € 60.
Você conhecia a história do Muro de Berlim? Ela é bem densa e importante para a nossa civilização. Teve alguma curiosidade que você não sabia? Conte aqui nos comentários!
Referências:
- Brasil Escola – O que é o Muro de Berlim?
- Estadão Inforgráficos – O Muro de Berlim
- G1 – Marcas do Muro de Berlim
- História do Mundo – Muro de Berlim
- National Geographic Brasil – Quem construiu o Muro de Berlim?