Navios negreiros: como funcionava o transporte dos escravizados?

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Você sabia que os navios negreiros eram embarcações que realizavam o transporte dos escravizados da África para a América? Entre os séculos XVI e XIX, estima-se que 11 milhões de africanos foram transportados durante o tráfico transatlântico de escravos, entre os quais, 5 milhões tiveram como destino o Brasil.

De acordo com historiadores, o primeiro registro do embarque de um tumbeiro — navio negreiro — no Brasil ocorreu em 1530, com a expedição de Martim Afonso de Souza. Estima-se que os últimos embarques aconteceram quando o tráfico negreiro já era ilegal, entre as décadas de 1850 e 1860.

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Navio em alto mar – Freepik

O que eram oa navios negreiros?

Devemos entender que os navios negreiros fizeram parte do fenômeno chamado de diáspora africana, que foi caracterizada pela imiração forçada dos africanos durante o tráfico negreiro.

Além das pessoas, também embarcavam nos tumbeiros as histórias, as culturas, as práticas religiosas, os modos de vida, as línguas e as formas de organização política que influenciaram nas sociedades que os africanos construíram quando chegaram ao seu destino.

O tráfico negreiro foi uma atividade comercial bastante lucrativa, por isso os traficantes de escravizados criavam alianças com chefes dos povos africanos, com o intuito de ampliar os ganhos.

Eles estabeleceram um comércio firmado no escambo, onde os africanos capturados em guerras com povos rivais eram trocados por joias, metais preciosos, armas, tabaco, cachaça e tecidos de seda.

No início do século XV, os portugueses instalaram diversas feitorias, grandes estabelecimentos comerciais, na costa do continente africano. Por intermédio delas, eles iniciaram suas relações comerciais e diplomáticas com inúmeros reinos africanos.

Com o aumento da produção açucareira no Brasil, os portugueses intensificaram a compra de escravizados para trabalharem contra a sua vontade, sem nenhum tipo de pagamento, sob ameaças de violência e mediante relação de subsistência nos engenhos de açúcar.

Rotas dos navios

A feitoria instalada em Luanda, capital da Angola, foi considerada uma das mais importante para o Império Português. Uma viagem de Luanda para Recife levava 35 dias, para Salvador se estendia por 40 dias e para o Rio de Janeiro durava entre 50 e 60 dias.

Guiné, Mina e Moçambique também eram rotas dos navios tumbeiros que saíam do continente africano para o Brasil.

A Alta Guiné era habitada por diferentes povos, como os balantas, fulas, mandingas, manjacos, diolas, uolofes e sereres. Ela foi um grande núcleo de obtenção de africanos pelos traficantes portugueses no século XVI. O principal destino dos escravizados eram as regiões Norte e Nordeste.

Em 1482, os portugueses ergueram a fortaleza de São José da Mina, na costa da atual Gana, com o intuito de proteger o ouro na região. Ainda no século XVII, ela se tornou um importante ponto de intermédio do tráfico negreiro para o Brasil e para a Europa.

As embarcações saíam dos portos de Lourenço Marques – atual Maputo – Inhambane e Quelimane, localizados em Moçambique, e partiam para o Rio de Janeiro.

Cotidiano dos escravizados nas embarcações

As condições de transporte nos navios negreiros eram cruéis. Os escravizados eram mantidos em porões minúsculos, por essa razão não conseguiam ficar em pé e o espaço era tão apertado que os adultos tinham que ficar na mesma posição durante longos períodos.

Na maioria das vezes, um tumbeiro suportava de trezentos a quinhentos escravizados. Os africanos eram separados por sexo, obrigados a ficarem nus e os homens tinham que permanecem acorrentados para não se revoltarem. Já as mulheres sofriam violência sexual por parte da tripulação diariamente.

Pelas condições nos quais eram mantidos, cerca de 12,5% dos africanos não sobreviveram à viagem, por ter ciência disso, os capitães realizavam seguros em bancos para cobrir os prejuízos. Dessa forma, muitos navegantes permitiam as mortes dos escravizados para receber o dinheiro.

Alimentação escassa e doenças

Por ficarem todo tempo acorrentados, os africanos eram impedidos de realizarem suas práticas religiosas e culturais, apenas tinham horários para o banho de sol. Eles também eram forçados a dormir no mesmo local que realizavam suas necessidades, além do mais, se algum escravizado falecesse, seu corpo apodrecia entre os outros.

A alimentação dada aos homens, mulheres e crianças presos consistia em uma refeição por dia. De acordo com o historiador Jaime Rodrigues, no início do tráfico negreiro, os traficantes de escravos alimentavam-os com uma quantidade de alimentos ainda menor, com o objetivo de torná-los fracos para que não se rebelassem.

As refeições eram compostas por feijão, arroz, carne seca e farinha. A falta de higiene, a superlotação dos porões e a escassez de alimentos causavam problemas gastrointestinais, escorbuto – causado pela falta de vitamina C no organismo – e doenças infectocontagiosas nos escravizados, levando-os ao óbito.

Revoltas a bordo

Trabalhar em um navio negreiro era considerado perigoso porque a qualquer momento poderia ocorrer uma rebelião, além disso, os próprios marinheiros evitavam ir aos porões por causa dos fortes odores de suor, fezes e da decomposição dos corpos dos escravos.

Eram aplicados diversos castigos aos que lutavam para escapar, contribuindo para o elevado número de mortes. Os outros escravizados eram obrigados a assistirem a punição para que não tentassem realizar os mesmos atos.

Uma das revoltas mais conhecidas até os dias de hoje, ocorreu, em 1839, no navio negreiro intitulado “La Amistad”, quando cinquenta e três africanos conseguiram tomar o controle do navio, ainda acorrentados, mataram a tripulação, deixando vivos apenas os navegadores para que eles pudessem pilotar a embarcação.

Mão acorrentada

Fim do tráfico negreiro

A partir da metade do século XVIII, a Inglaterra iniciou a sua Revolução Industrial. Com o objetivo de aumentar o mercado consumidor internacional para vender os seus produtos, os ingleses começaram a exercer uma forte pressão para acabar com o tráfico de escravizados.

Como a escravidão não era vista como uma forma de trabalho, os escravizados não recebiam salários, portanto, não podiam comprar nenhum tipo de item. A Marinha Real Britânica começou, na primeira década do século XIX, a fiscalizar as rotas no Oceano no Atlântico e a capturar ou afundar os navios negreiros como se fossem embarcações piratas.

Os capitães mandavam que a “carga” – os africanos – fosse jogada ao mar, para que não fossem pegos em flagrante pelos ingleses. Após diversos protestos, a Grã -Bretanha decidiu ter uma abordagem diplomática, já que tinha um poder econômico expressivo naquela época, pressionando os Estados mais fracos economicamente a assinarem acordos que tinham o objetivo de acabar com o tráfico.

Além disso, ganharam força os ideais iluministas herdados da Revolução Francesa que afirmavam que a liberdade e a igualdade perante a lei eram direitos naturais, tanto no Brasil, quanto na Europa.

Seja por razões econômicas ou pela influência dos movimentos pelos direitos humanos, o fato era que a Inglaterra pressionou constantemente o governo brasileiro para que acabasse o tráfico de escravos e a escravidão.

Por causa disso, Dom João VI, rei de Portugal, Brasil e Algarves, assinou o primeiro tratado internacional com a finalidade de diminuir aos poucos o tráfico de escravos para o Brasil.

Leis abolicionistas

O tráfico de escravos era necessário para manter a alta demanda por escravizados no Brasil, mas com a proibição, a população ia reduzir gradualmente até a abolição acontecer. Entretanto, os escravocratas eram contra e tentaram de tudo para que essa transição fosse o mais lenta possível.

A Lei Eusébio de Queirós foi promulgada em 1850, ela encerrou com o tráfico negreiro intercontinental. Os escravos não poderiam mais ser trazidos da África para o Brasil.

Em 1865, eram crescentes as pressões internacionais para que o Brasil cessasse a escravidão, senhor a única nação americana que ainda mantinha a atividade. A Lei do Ventre Livre determinou a liberdade para os filhos de escravas nascidos depois de 1871.

A partir de 1880, aumentou o números de alforrias, documentos que concediam a liberdade aos negros, e, consequentemente, o declínio da escravidão, ao lado das fugas em massa e das revoltas dos escravos, desorganizando a produção nas fazendas.

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Conteúdo escrito por:
Maranhense, graduanda em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal do Maranhão. Apaixonada pela cultura e história do povo preto. Leitora de romances clichês.

Navios negreiros: como funcionava o transporte dos escravizados?

16 set. 2024

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