Nova crise do petróleo e Bolsa de Valores: qual a relação?

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Na imagem, plataforma de petróleo da Petrobras. Conteúdo sobre nova crise de petróleo e bolsa de valores
Foto: Tania Regô/Agência Brasil/Fotos Públicas.

Você provavelmente já ouviu falar sobre algumas crises do petróleo ao longo da história, certo? Além disso, você já deve ter percebido que aquilo que ocorre no mercado de petróleo afeta diversos setores da economia, desde o mercado de ações até o preço da gasolina na sua cidade!

Hoje, explicaremos aqui no Politize! sobre a recente queda do preço do barril do petróleo, ocorrida em Março de 2020 e ocasionada por atritos entre Arábia Saudita e Rússia. Além disso, explicaremos o papel dos dois países no mercado petrolífero e como o conflito entre eles afetou a bolsa de valores.

Começando pelo contexto: O que aconteceu?

No dia 9 de março de 2020, o preço do barril de petróleo despencou devido ao não acordo entre a Rússia e a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). Os envolvidos não concordaram porque um dos membros da OPEP, a Arábia Saudita, sugeriu a redução da produção de petróleo, uma vez que a pandemia do coronavírus, faria com que a demanda por petróleo diminuísse. A ideia seria acompanhar a redução da demanda diminuindo a oferta para que não houvesse muito impacto nos preços.

A Rússia, porém, rejeitou o acordo e, diante dessa resposta, a Arábia Saudita reagiu aumentando a produção e ofertando barris com descontos. Esse acontecimento fez com que preço do barril de petróleo tivesse a maior queda desde 1990, quando ocorreu a Guerra do Golfo.

A partir dessa introdução, vamos explorar quem são e a importância dos países envolvidos!

O petróleo na economia Russa

Um fator chave que está por trás da queda de braço entre Arábia Saudita e Rússia é um jogo geopolítico, isto é, a possibilidade da Rússia “abocanhar” fatias maiores do mercado de petróleo, dado o contexto de queda da demanda devido ao novo coronavírus.

Atualmente, o setor petrolífero na economia russa produz cerca de 10 milhões de barris por dia. Além disso, o país é aliado, desde 2016, da Arábia Saudita e da OPEP, a fim de ajudar a fortalecer o mercado de petróleo.

Mas… quando teve início essa crescente atuação da Rússia nos mercados globais?

Para entendermos sobre a Rússia e o setor petrolífero, utilizaremos como fonte a tese de Mestrado de Kristina Sentyurina de 2019, cujo título é: “Política Estatal Petrolífera da Rússia e do Brasil no século XXI: Os casos da Rosneft e da Petrobrás.

Segundo a tese, o crescimento econômico russo sempre foi dependente das exportações de gás natural e de petróleo e, consequentemente, vulnerável às alterações dos preços no mercado mundial.

Retomando a história da Rússia, após a queda da União Soviética em 1991, todos os indicadores da Federação Russa encontravam-se em um nível extremamente baixo: a economia apresentava perdas de muitas fontes de rendimento devido ao desmembramento da União; a política estava fortemente enfraquecida e a sociedade vivenciou uma qualidade de vida reduzida, condições precárias de saúde e uma crise demográfica.

Em outubro de 1991, o então Presidente Boris Yeltsin avançou com programas de privatizações e liberalização econômica na tentativa de transformar a economia socialista em uma economia de mercado. Nesse cenário, a produção de petróleo passou a ser administrada por companhias privadas.

Tais companhias petrolíferas, favorecidas pelo aumento dos preços e pela procura de petróleo a nível global, foram essenciais para o crescimento da economia. Atualmente, a Rússia é um ator ativo das relações internacionais e possui vasto território rico em matéria prima, principalmente o petróleo.

Sugestão: Confira nosso post completo sobre a história da União Soviética!

OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo foi fundada em setembro de 1960 como resposta às reduções aleatórias e unilaterais dos preços de petróleo cru. A OPEP foi estabelecida como uma organização intergovernamental permanente com status internacional, visando “coordenar e unificar as políticas de petróleo de seus países membros e garantir a estabilização dos mercados de petróleo”

Inicialmente, os membros da OPEP eram 12 países: Arábia Saudita, Argélia, Emirados Árabes Unidos, Equador, Indonésia, Irã, Iraque, Kuwait, Líbia, Nigéria, Qatar e Venezuela. Atualmente, Indonésia, Equador e Qatar não estão mais presentes e a Organização conta com a adesão de Angola, Guiné Equatorial, Gabão e República do Congo. Em setembro de 2018, os então países membros representavam 44% da produção global de petróleo e 81,5% das reservas de petróleo “comprovadas” do mundo, dando à OPEP uma grande influência nos preços globais de petróleo.

A Arábia Saudita, por sua vez, além de ser um dos países criadores, é detentor da segunda maior reserva de petróleo cru mundial (267,03 bilhões de barris, em 2018 – 22,4% das reservas da OPEP, segundo dados do grupo publicados em 2019).

Sugestão: Veja nosso post completo sobre a Arábia Saudita!

Como o conflito entre os países impacta na bolsa de valores?

Na imagem, tela de computador controlando ações da Bolsa de valores. Conteúdo sobre nova crise do petróleo e bolsa de valores

Já explicamos aqui no Politize! como o Ibovespa impacta na sua vida. Retomando alguns pontos importantes, vimos que a bolsa de valores e o Ibovespa, funcionam como um termômetro do mercado de ações, além de refletir as expectativas sobre a economia.

De uma maneira geral, a mobilização no mercado diante de crises ocorre da seguinte forma: os investidores da bolsa de valores procuram vender mais ações do que comprar, uma vez que há preocupação de que a empresa investida perca valor naquele momento. Investidores estrangeiros, por sua vez, intensificam sua saída da bolsa de valores e procuram ir para investimentos mais seguros (como o dólar, por exemplo).

Considerando a crise da qual estamos falando – conflito entre países produtores de petróleo diante da contenção da demanda mundial – a redução constante dos preços dos barris prejudica o lucro das grande companhias. Com o lucro prejudicado, haverá um afastamento dos investidores, levando à uma venda generalizada e saída de investidores estrangeiros. Esse movimento é o que ocorre quando ouvimos falar que “a bolsa de valores caiu”.

Ao longo da história, ocorreram três grandes crises envolvendo o setor petrolífero:

  • Crise de 1973: após a fundação da OPEP, ocorrida em 1960, os países membros, insatisfeitos com o domínio estrangeiro do petróleo, anunciaram um embargo, limitando a produção e exportação à países europeus e aos Estados Unidos. Devido à escassez de petróleo, o preço quadruplicou de US$ 3 para US$ 12.
  • Crise de 1979: essa segunda grande crise ocorreu diante do contexto da Revolução Islâmica no Irã. Nesse período, as exportações diminuíram drasticamente, fazendo com que o barril dobrasse de valor no intervalo de um ano.
  • Guerra do Golfo: esse episódio, ocorrido em 1990, foi resultado da invasão e anexo do território Kuwait pelo Iraque. Posteriormente, os Estados Unidos responderam militarmente contra alvos civis e militares iraquianos e, com isso, iraquianos incendiaram mais de 600 campos de produção de petróleo do país do golfo. O preço do barril de petróleo subiu de US$ 21 para US$ 41,90, contribuindo para a recessão americana no início de 1990.

E o impacto no mercado brasileiro?

No caso do Brasil, a variabilidade do preço mundial do petróleo reflete diretamente nas ações da Petrobrás, a qual representa aproximadamente 10% do Ibovespa.

Nesse conteúdo, vimos que o recente conflito entre a Arábia Saudita e a Rússia levou à redução nos preços de barris de petróleo. Essa redução fez com que os preços das ações da Petrobrás despencassem, ou seja, a insegurança dos investidores estimularam um excesso de oferta frente a um desinteresse pela compra de ações. Outra questão importante é que, como a Petrobrás possui grande relevância no índice, sua queda tende a puxar o mercado para baixo.

Ainda, juntamente com essa incerteza no mercado, estamos vivendo um contexto de redução mundial da demanda devido ao coronavírus, resultando em excesso de oferta de barris de petróleo.

Finalmente, é importante sabermos que essas oscilações na bolsa de valores refletem, mesmo que indiretamente, na nossa vida: os preços dos combustíveis podem apresentar queda, preços finais de itens podem diminuir (uma vez que o custo com deslocamento será menor) e o dólar pode aumentar devido à redução do Ibovespa.

E aí, entendeu a relação entre petróleo e bolsa de valores? Conta pra gente nos comentários!

REFERÊNCIAS

Por que o crash do petróleo pode mudar o mercado de energia

O que está por trás da queda de braço entre Arábia Saudita e Rússia

Qual o histórico das crises mundiais de petróleo

Afinal, por que a bolsa cai tanto? E para onde vai o dinheiro que a derruba?

Política Estatal Petrolífera da Rússia e do Brasil no século XXI: Os casos da Rosneft e da Petrobrás

Wikipedia: Organização dos Países Exportadores de Petróleo

A origem da OPEP

Análise cronológica da indústria petrolífera

Como fica a Petrobrás (e a gasolina) com a crise do petróleo

Como a queda do petróleo impacta sua vida e seu bolso

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Conteúdo escrito por:
Formada em Economia pela Universidade de São Paulo. Pretende ser pesquisadora e está sempre buscando adquirir conhecimento de diversas áreas. Entusiasta de questões socioambientais e feminismo.
Santos, Ana. Nova crise do petróleo e Bolsa de Valores: qual a relação?. Politize!, 18 de junho, 2020
Disponível em: https://www.politize.com.br/nova-crise-do-petroleo-e-bolsa-de-valores/.
Acesso em: 21 de nov, 2024.

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