Ilustração de várias pessoas representando culturas diferentes, de mãos dadas ao redor do globo.

Você sabe o que é multiculturalismo?

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Você já ouviu falar no termo multiculturalismo? Se não, muito provavelmente você já ouviu falar em globalização, certo? Ou, ainda, já ouviu falar que, atualmente, existe uma cultura única no mundo, como se existissem menos hábitos e traços culturais específicos em cada nação e mais um “tipo comum” de cidadão global.

Dessa maneira, podemos pensar que estamos todos interconectados, fisicamente e virtualmente. A existência de fronteiras nacionais estão em declínio cada vez mais.

Com isso, se torna importante entender o conceito que conecta todo esse pensamento por trás de uma sociedade “global”: o multiculturalismo.

Vem entender este conceito com a Politize!

O que é o multiculturalismo?

Em síntese, multiculturalismo nada mais é que uma maneira de entender que diferentes práticas culturais coexistem em um mesmo local. Por exemplo: provavelmente na cidade em que você mora existe um restaurante de comida japonesa, um outro que sirva comida mexicana e um que sirva comida italiana – e, potencialmente, todos se localizam no mesmo bairro e numa mesma rua.

Em uma cidade qualquer do Brasil, nos grandes centros urbanos ou no interior, em um mesmo reduto, você é capaz de encontrar vestígios culturais de diversos lugares do mundo!

Portanto, o multiculturalismo está presente em nosso dia a dia de maneiras tão simples que as vezes nem nos damos conta.

Imagem de várias pessoas reunidas em um salão, sentadas em volta de cadeiras de plástico, em cadeiras de plástico, com várias bandeiras de nações diferentes penduradas pelo salão. Texto: Você sabe o que é multiculturalismo?
Festival de gastronomia “Festa das Nações” em Rio Pardo – MG. Imagem: Divulgação por Minha São José.

Em verdade, existe uma série de conflitos e embates que contornam muitas outras interfaces do multiculturalismo.

A história do mundo é a história do multiculturalismo

O mundo como conhecemos é construído constantemente por um processo de ação e reação dos indivíduos. As práticas culturais estão cada vez mais presentes na forma como vivemos, principalmente se levarmos em conta que além da vida física, existe um extenso encargo social que passa pelo virtual/digital.

Sem sombra de dúvidas, as redes sociais e a internet são um ponto importante para compreendermos como o multiculturalismo se tornou um ponto central da nossa sociedade nos dias de hoje.

Contudo, se voltarmos um pouco no tempo, conseguiremos ver que esse processo de acúmulo de informação, conhecimento e transitoriedade entre os territórios costumava ter mais impacto.

Ou seja, os conflitos que eram desencadeados pelas diferenças sociais e culturais eram muito maiores e alteravam as dinâmicas das civilizações de maneira muito mais profunda: delimitando língua, território, fronteira e tudo que somatiza na construção de uma “nação”.

Stuart Hall (2003), pensador influente em torno dos estudos sobre a globalização, definiu que uma nação é constituída por três elementos essenciais: história, literatura e linguagem.

De acordo com essa visão, o multiculturalismo pode ser entendido como um desafio imposto às sociedades, desde as mais remotas notações de deslocamentos populacionais.

Seja na pré-história, nas primeiras civilizações com a constituição dos primeiros impérios, até mesmo nos processos migratórios da atualidade: toda organização social, implica em uma formação cultural, como a citada por Hall, o que, por consequência, sempre gerou conflitos.

Um exemplo de como essas disputas culturais foram moldando o mundo como ele é hoje é o período das grandes navegações. O continente americano era povoado por nativos e uma gama de organizações societárias, cada uma com sua respectiva cultura.

Posteriormente, temos a chegada dos portugueses e estabelecimento de contato com esses povos, junto de suas culturas e suas formas de ocupar o território.

Aos poucos, esse intercâmbio cultural levou a uma dinâmica de conflito na qual os portugueses passaram a influenciar, de forma física e social, as formas organizacionais dos indígenas.

Dessa forma, vemos que o multiculturalismo fez e ainda faz parte do processo histórico de construção das nações. A cultura, nesse caso, opera um papel nas dinâmicas de conflito e nas disputas por poder.

Essa imposição de poder (de uma cultura sobre a outra) também pode ser chamada de hegemonia cultural.

Seguindo o exemplo sobre o encontro das culturas indígenas com a europeia no século XVI, veremos que nada do que forma uma “cultura brasileira” descendeu puramente de uma dessas raízes.

Houve um processo de simbiose e mistura dessas culturas – para além do apagamento de uma sob a outra – para que fosse formado o que podemos denominar de uma cultura, ou identidade brasileira.

O multiculturalismo hoje

Ainda se tratando da dinâmica cultural no território brasileiro, vemos que a predominância cultural deixada pelos portugueses.

É claro que não podemos nos esquecer do advento da globalização, como sinalizado no início do texto, mas, particularmente na história brasileira, houve uma contribuição significativa da cultura portuguesa nos costumes e nas maneiras de se organizar socialmente.

Recentemente, a pauta indígena circulou em destaque nacional retomando as discussões sobre o marco temporal dentro da Lei nº 14701 que prevê a demarcação das terras que podem ou não ser ocupadas pelas diversas aldeias indígenas brasileiras.

Essa lei retoma o artigo 231 da Constituição Federal, que diz:

São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens (Brasil, 1988)

Assim, à parte as disputas que se seguem sobre a demarcação de suas terras, o Estado brasileiro encontra dificuldades de mediar os limites culturais em torno da questão indígena no território até os dias de hoje.

Por mais que existam significativos traços culturais indígneas, sobretudo linguísticos, dentro dos costumes que podem ser identificados como “autenticamente” brasileiro, o multiculturalismo não escapa dos entraves das disputas de poder e das influências exercidas pelas dinâmicas das culturas que fazem acontecer o processo de construção nacional.

Portanto, o multiculturalismo não deve ser enxergado apenas como um “estágio” dentro do processo civilizatório no cenário global, no qual as culturas caminham para uma planificação e pacificação de suas conexistências.

Vamos a alguns exemplos que mostram como o multiculturalismo opera de maneira difusa e controversa em diferentes lugares do mundo.

Israel x Palestina

Um dos conflitos mais midiatizados e polarizados em tempos recentes advém de uma histórica questão multiculturalista. O conflito entre árabes e judeus no território da Palestina ao longo dos séculos XIX e XX culminou em uma guerra que vem se alastrando e ganhando corpo até os dias de hoje.

Se nos atentarmos às questões que envolvem o conflito, para além da disputa territorial e da dinâmica colonial exercida pelas nações europeias sob o território árabe, veremos que as inúmeras tentativas de demarcação de território dividindo o território palestino com o Estado de Israel contorna os princípios culturais de cada povo.

Norteado pelas diferenças religiosas (o islamismo de um lado e o judaísmo do outro), o conflito em torno do pertencimento sob o território que cerca Jerusalém – território sagrado para as principais religiões monoteístas – alçou patamares violentos em torno do estabelecimento do poder cultural que um exerce sob o outro. E, para além disso, o que cada cultura significa para a geopolítica global.

Dessa forma, o multiculturalismo presente nas interfaces do povo palestino e do povo judaico corrobora para a perseverança de uma intolerância religiosa junto de xenofobia. Tal questão vem se desdobrando em constantes conflitos.

Assista este vídeo da Politize! sobre Israel e Palestina.

O mais recente teve início em 7 de outubro de 2023 quando o grupo radicalista palestino Hamas realizou uma série de ataques e sequestros contra o Estado de Israel, o que desencadeou repressão por parte do governo de Netanyahu.

Quer se aprofundar? Leia: Faixa de Gaza em foco: a complexa dinâmica da região no Oriente Médio

Segundo governo Trump

Em 2016, quando Trump foi eleito pela primeira vez, a maré política estava agitada em torno dos movimentos anti-imigração, um cenário advindo da alta nos conflitos do Oriente Médio que se arrastavam nas últimas décadas aumentando, por consequência os fluxos migratórios.

Imagem de Donald Trump em uma coletiva. Texto: Você sabe o que é multiculturalismo?
Donald Trump. Imagem: REUTERS by Kent Nishimura.

Nesse sentido, devemos nos lembrar do Brexit, movimento de saída do Reino Unido da União Europeia, que, além de ter tido motivações econômicas, passava por uma grande reavaliação nacional dos ingleses em torno dessas novas dinâmicas sociais que vinham surgindo com as migrações.

Voltamos a observar, com a volta de Trump à presidência dos Estados Unidos em 2025, um cenário em que as nações sinalizam para uma indisposição em lidar com os tratados humanitários mundiais, sobretudo os fluxos migratórios fronteiriços.

Trump novamente se elegeu sob seu famoso discurso “make american great again”, que incorpora uma série de propostas para tornar cada vez mais a “américa para os americanos”.

Logo, podemos notar que a questão migratória para os Estados Unidos é um significante histórico em sua formação cultural, absorvendo muito do multiculturalismo alcançado pelos povos originários que ocupavam o território pré-colonização e das nações vizinhas, como o México e Canadá.

Saiba mais: A história mundial é uma história de migrações

Conclusão

Como foi possível ver, o multiculturalismo possui diversas faces, seja ela a que impulsiona as sociedades para uma maior aceitação e harmonia entre as culturas, seja para o tensionamento e realce das diferenças culturais que estão dispostas nas identidades nacionais.

Estamos em constante interação com aquilo que nos é diferente e estranho, assim como o que nos é estranho está em interação direta conosco, corroborando, então, com a roda que move o mundo para um local com menos fronteiras e mais cruzamentos nacionais – esses que alguns sociólogos gostam de chamar de transnacionais.

O que a teoria de multiculturalismo afirma é que existe uma mistura cultural deslocada de seus lugares de origem, que não são destituídas e diluídas deles. Elas existem e compõem um vocabulário que se somatizam em um processo constante de estranhamento, troca e adaptação.

Viu como o conceito de multiculturalismo está presente em diversos temas de nossa vida cotidiana? Então já conta pra gente nos comentários um exemplo próximo a você, de como o multiculturalismo opera em sua cidade!

Referências:

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Conteúdo escrito por:

Juliano Dias Guimarães

Bacharelado em Ciências Humanas – Universidade Federal de Juiz de Fora; Bacharelado em Ciências Sociais – Universidade Federal de Juiz de Fora; Licenciado em Ciências Sociais – Universidade Federal de Juiz de Fora.
Guimarães, Juliano. Você sabe o que é multiculturalismo?. Politize!, 31 de março, 2025
Disponível em: https://www.politize.com.br/o-que-e-multiculturalismo/.
Acesso em: 1 de abr, 2025.

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