De onde veio essa tal de sustentabilidade que todo mundo fala?
Sustentabilidade é um assunto muito atual e exaustivamente repetido em tempos de crise climática, não é mesmo? O que poucos sabem é que o seu conceito foi construído por um grande movimento de união internacional, pactos globais e cooperação, visando a busca de um futuro promissor para a humanidade.
Mas quando e onde começou essa conversa? Por que ganhou tanta notoriedade? Essa palavra hoje está associada apenas ao meio ambiente ou também a outros temas?
Como surgiu o termo “Sustentabilidade”
Toda economia é baseada na “administração X escassez” de recursos e como distribuí-los à população de forma organizada. Mas e se a população cresce e devasta numa velocidade muito maior do que a natureza pode se regenerar, o que fazer?
Essa problemática já foi constatada há muito tempo. Inclusive, no primeiro Tratado sobre Silvicultura, escrito por Carl von Carlowitz, por volta dos anos 1700, a necessidade de pensar em uma solução para a rápida degradação ambiental foi levantada com preocupação. Afinal, o estudioso percebeu que a velocidade com que a humanidade cortava árvores era muito maior do que o tempo que levaria para que fossem replantadas e crescessem novamente.
Apesar dessas antigas considerações, apenas em 1972 o assunto foi tratado como uma preocupação global graças à ONU, que convocou representantes de várias nações para discutir a relação do Homem com o Meio Ambiente na Conferência de Estocolmo (Suécia), intitulada de Primeira Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente.
Imagina só chegar com notícias e dados inconvenientes de que o consumo desenfreado e a exploração ambiental estavam prejudicando a saúde e o equilíbrio sistêmico do planeta! Reduzir a industrialização e a poluição não pareceram ser boas alternativas para muitas nações, principalmente para os países em desenvolvimento.
Veja também nosso vídeo sobre queimadas no Pantanal e na Amazônia!
Apesar de tudo, os dados acerca do secamento de rios, lagos, ilhas de calor, efeito de inversão térmica e outros serviram de alerta mundial. A busca pelo equilíbrio entre o social, ambiental e econômico deram origem ao que posteriormente passou a ser chamado de Desenvolvimento Sustentável.
E essa expressão passou a ser usada quando?
Na década de 1980, o documento mais conhecido e difundido com esse termo foi o Relatório Brundtland (1987), intitulado de Nosso Futuro Comum.
A carta conceitua o Desenvolvimento Sustentável como o “desenvolvimento que atende às necessidades atuais sem comprometer a habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades”.
Leia também: Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: o que são?
O direito ao maio ambiente equilibrado na lei brasileira
No ano seguinte, a Constituição Federal Brasileira de 1988 reservou uma sessão para a temática e considerou o meio ambiente equilibrado um direito fundamental reconhecido, sendo classificado como de terceira dimensão (ligado ao valor de fraternidade e solidariedade), com caráter intergeracional e coletivo. Portanto, é dever da República Federativa do Brasil zelar pelo meio ambiente equilibrado conforme o artigo 225 e incisos, vamos analisar o caput?
“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”
Vale destacar que este é um direito indisponível, ou seja, você não pode abdicar, nem escolher se isso é importante ou não para você, pois envolve muito mais do que só a sua individualidade, mas um coletivo abstrato, de atuais e futuras gerações.
Após esse respaldo legal, o IBAMA – órgão fiscalizador federal – foi fundado no ano seguinte e várias outras normas regulamentadoras, programas de governo e compromissos internacionais surgiram e se mantêm até os dias atuais.
Economia e sustentabilidade são felizes juntas, mas muita gente quer separar
Ninguém falaria de sustentabilidade se não fosse a Economia. Essa frase parece estranha? Talvez no discurso popular seja comum ouvir que a conservação do meio ambiente atrasa o desenvolvimento econômico, mas a verdade é que um conceito está intimamente ligado ao outro.
Alguns pontos em comum dos dois conceitos é que ambos lidam com o problema da gestão de recursos, das decisões humanas, dos imprevistos ambientais e do mercado global.
Para entender melhor o que é economia, vale acessar este artigo completo da Politize sobre o tema!
A sustentabilidade na prática é um comportamento moldável e não fixo, pois busca a melhor solução para situações atuais, emergenciais, futuras, sejam elas concretas ou abstratas. O que norteia as decisões neste âmbito são os princípios, valores, necessidade, adequação, oportunidade e, principalmente, a razoabilidade.
Em síntese, se, para conservar o meio ambiente em determinado aspecto, a solução mais rápida demandar um grande retrocesso social, ela não será interessante.
Mesmo diante de uma situação emergencial, em que seja imprescindível melhorar a economia e o meio ambiente, se a resolução mais efetiva incluir que a sociedade deve parar de consumir um bem essencial à sobrevivência, isso não será cogitado antes de acionar várias outras medidas que podem até envolver tecnologias complexas a serem desenvolvidas em prazos curtos.
Logo, qualquer decisão pautada na sustentabilidade tem que atender satisfatoriamente os seus três pilares: ambiental, econômico e social.
Veja também nosso vídeo sobre economia e sustentabilidade!
O conceito de sustentabilidade não se limita a questões ambientais
Apesar do emprego exagerado da palavra para temas atrelados ao meio ambiente, o termo ‘sustentabilidade’, segundo o dicionário online Priberam, possui duas conceituações:
- Qualidade ou condição do que é sustentável.
- Modelo de sistema que tem condições para se manter ou conservar.
Não há nada demais e até é correto relacionar o termo ao ambiente, afinal ele está sempre na equação, mas não se restringe aos recursos e sim à forma como podem ser utilizados. Na economia e na sociologia a palavra é constantemente falada no sentido de duração e continuidade de políticas e métodos, por exemplo.
Os três pilares da sustentabilidade
A sustentabilidade enquanto solução para as mudanças climáticas defendida no Relatório de Brundtland possui três dimensões, que juntos compõem um macroconceito sistemático.
- A sustentabilidade ambiental engloba a preservação/conservação do meio ambiente de maneira que a sociedade encontre o equilíbrio entre o suprimento de suas necessidades e o uso racional dos recursos naturais, sem prejudicar a natureza.
- A sustentabilidade social, por sua vez, está atrelada à participação ativa da população no desenvolvimento social por meio da elaboração de propostas que visem o bem-estar e a isonomia de todos em consonância com a preservação do meio ambiente.
- Já a sustentabilidade econômica refere-se ao modelo de desenvolvimento econômico que visa a exploração e disposição dos recursos naturais, sem prejudicar o suprimento das necessidades das gerações futuras.
Claro que em situações distintas como dentro de uma empresa, na gestão pública ou na engenharia, esses três pilares serão vistos sob a ótica de cada campo de pesquisa.
Com a evolução do estudo e sucessivas tentativas de implementação, algumas bem sucedidas, outras não, interseções nas dimensões da sustentabilidade foram descobertas e exploradas em distintos ramos de estudo, como no de energias:
A sustentabilidade e o futuro do homem na Terra
Bem, depois de algumas décadas do alerta, é natural querer entender como a comunidade internacional vê a crise climática e o meio ambiente hoje em dia.
Para quem não acompanha muito o assunto, é importante dizer que a situação do meio ambiente não anda tão animadora. Os problemas persistem, mas estão sendo controlados numa velocidade menor do que a pretendida.
Metas estipuladas em convenções globais não conseguiram ser cumpridas, porém algumas conquistas marcantes foram alcançadas, como a redução do buraco da camada de ozônio em 2019, atingindo o menor nível desde 1982, conforme dados da Nasa.
Além disso, os 193 Estados-Membros da Organização das Nações Unidas comprometeram-se a adotar a Agenda Pós-2015, considerada uma das mais ambiciosas da história da diplomacia internacional. A partir dela as nações trabalharão para cumprir 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) com metas nada fáceis para 2030, a exemplo da erradicação da pobreza.
Leia também: Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: quais são as iniciativas brasileiras?
O ponto mais promissor é que tanto no desenvolvimento tecnológico quanto no próprio mercado, a sustentabilidade passou a ser uma preocupação constante e um atributo de valor. Isso, por si só, reflete uma mudança de cultura e uma ampliação no senso de coletividade.
Tal evolução de comportamento pode ser a chave para intervir nas mudanças climáticas, repensar o manejo de recursos e evitar diversas catástrofes naturais que surgem a partir de um desequilíbrio ocasionado pela degradação ambiental. Só assim será possível pensar em um futuro na Terra digno para seres humanos habitarem e coexistirem em harmonia.
E aí, você conseguiu compreender melhor o conceito de sustentabilidade? Conta nos comentários!
Referências:
- LASSU – Laboratório de Sustentabilidade da USP
- Nasa – 2019 Ozone Hole is the Smallest on Record Since Its Discovery
- Priberam – Sustentabilidade
- Politize! – Politize! e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
- Sustainable Development – elatório de Brundtland – Nosso futuro Comum
- Un – Estrutura de sustentabilidade ambiental, social e econômica
1 comentário em “Origem e evolução do conceito de sustentabilidade”
Gostei, sou Ceramista e o assunto Sustentabilidade deve ser pensado e repensado em cada peça criada e colocada no mercado no sentido de uso e descarte!!