Imagem de uma mão segurando uma lupa ao analisar o globo, com imagem de várias bandeiras de países

O que são países em desenvolvimento?

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A classificação de países em desenvolvimento significa comumente categorizá-los como países que possuem uma base industrial em desenvolvimento e um padrão de vida variando entre baixo e médio.

Esta é, definitivamente, uma caracterização bem genérica. Isso se dá porque não existe uma definição universalmente aceita assim como não existe um acordo claro sobre quais países se enquadram nesta categoria. O que existe são métricas aplicadas para classificar os países e, a depender da fonte que se recorre, essas métricas variam.

Se você quer entender mais sobre este tema, continue com a leitura deste conteúdo da Politize!.

Como surgiu a classificação de países em desenvolvimento?

Os termos usados para classificar os países usualmente vêm das teorias e políticas que dominam a academia e a arena política de então. A questão em torno do desenvolvimento, por exemplo, não é diferente.

Durante a Guerra Fria entre a União Soviética (URSS) e os Estados Unidos da América (EUA), desencadeou-se um crescimento maciço no trabalho de ajuda internacional com o objetivo de apoiar os países a alcançar um melhor padrão de vida. Inicialmente direcionada aos países que necessitavam de fundos para a reconstrução do pós-guerra, esta ajuda rapidamente expandiu-se para incluir outras partes do mundo.

Tanto os EUA quanto a URSS ofereceram ajuda, o que resultou em uma explosão de estudos e pesquisas sobre como fazer os países progredirem. Ambos os lados visavam ajudar os países mais pobres para alinhá-los à ideologia do país doador.

Texto: O que são países em desenvolvimento?
Classificação de acordo com o FMI e ONU em 2022. Em azul, países desenvolvidos; em laranja, países em desenvolvimento; em vermelho, países menos desenvolvidos. Imagem: Wikimedia Commons.

O termo país em desenvolvimento surgiu nas décadas de 1950 e 1960, ainda durante este clima de disputa de ideologias. O historiador econômico estadunidense Walt Rostow (1916-2003) tornou este termo popular em seu livro de 1960, The Stages of Economic Growth: A Non-Communist Manifesto.

Nele, Rostow afirma que as sociedades passam por estágios lineares e mensuráveis de crescimento econômico até se tornarem desenvolvidas. Conforme as suas teorias ganhavam popularidade, o termo país em desenvolvimento foi sendo cada vez mais difundido. Já na década de 1970, passou a ser utilizado em documentos oficiais de organismos internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU) e o Banco Mundial.

A forma mais comum de identificar um país em desenvolvimento é por meio de uma métrica econômica como, por exemplo, o Produto Interno Bruto (PIB) ou a renda per capita. É definido um ponto de corte que separa os países que estão acima ou abaixo deste ponto. O Banco Mundial, por exemplo, é uma das mais reconhecidas instituições internacionais que usa de métricas como estas para classificar os países.

Essas classificações mensuráveis possuem diferentes vantagens. Facilitam análises e estudos, ajudam na avaliação do sucesso dos esforços de ajuda internacional e na comparação internacional. Países como Coreia do Sul e Cingapura são casos de sucesso do Banco Mundial. Ambos cresceram exponencialmente depois de se juntarem ao Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) nas décadas de 50 e 60, respectivamente.

Quer saber mais sobre a Coreia do Sul? Confira o texto Coreia do Sul: história, política, economia e cultura.

Entretanto, nas duas primeiras décadas do século XXI, essa classificação passou a ser alvo de críticas crescentes, especialmente de acadêmicos da área. Como, por exemplo, o fato de que a divisão dos países em categorias pode obscurecer a enorme variação entre eles, mesmo que se encontrem na mesma classificação.

Além disso, é plausível os países identificarem os seus próprios objetivos de desenvolvimento, como argumenta a ONU na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. E tais objetivos podem não ser totalmente econômicos. Butão, por exemplo, sugere um índice de felicidade para encontrar um equilíbrio entre tradição e modernização, materialismo e espiritualismo, riqueza e qualidade de vida

Classificações mais comuns de países em desenvolvimento

Cada organização internacional aborda a construção de métricas para classificar países em desenvolvimento de forma diferente. Essa diversidade pode ser atribuída ao fato de que as instituições têm demandas e objetivos diferentes. Portanto, abordam a questão do desenvolvimento de forma a atender a esses objetivos.

Fundo Monetário Internacional

O Fundo Monetário Internacional (FMI) divide o mundo em dois grandes grupos. O primeiro, o das economias avançadas e, o segundo, das economias emergentes e em desenvolvimento. Segundo o FMI, o grupo dos países emergentes é muito diversificado, o que limita o estabelecimento de uma definição formal e definitiva sobre o tema.

Para saber mais sobre o FMI, dê uma olhada em: Fundo Monetário Internacional (FMI): quais as suas principais funções?

De toda forma, os países em desenvolvimento são geralmente identificados com base na renda per capita, no acesso sustentado ao mercado e na maior relevância econômica global. Segundo o FMI (2024), é uma classificação é uma classificação que “não se baseia em critérios rigorosos, econômicos ou não” e que é feita para “facilitar a análise, fornecendo um método razoavelmente significativo de organização dos dados”.

A lista mais recente dos países em desenvolvimento para o FMI data de abril de 2024 e inclui países da América Latina, Ásia, Europa, África e Oriente Médio.

Para conferir a relação entre o FMI e o Brasil, confira o texto FMI e Brasil: como é a relação com o Fundo Monetário Internacional?

Banco Mundial

A classificação das economias em desenvolvimento pelo Banco Mundial é estritamente numérica e baseada no rendimento nacional bruto (RNB) per capita. Há dois grupos que podemos considerar que compõem as nações em desenvolvimento: as economias de rendimento médio-baixo (lower middle-income economies) e as economias de rendimento médio-alto (upper middle-income economies).

Ficou em dúvida sobre o que o Banco Mundial faz? Dê uma olhada em: Banco Mundial: o que é e como funciona?

Para o ano de 2025, as economias de rendimento médio-baixo são aquelas em que o RNB per capita ficou entre 1.146 e 4.515 dólares em 2023 e as economias de rendimento médio-alto aquelas em que o RNB per capita ficou 4.516 e 14.005 dólares.

Outras terminologias

Talvez você já tenha lido ou ouvido falar de outras categorias de países, tais como países do Terceiro Mundo e países da periferia. Ambas parecem ser similares à categoria de países em desenvolvimento.

Com vias a tentar esclarecer um pouco estes conceitos, esta seção dedica-se a apresentar uma breve explicação de cada um deles.

Países do Terceiro Mundo

O termo Terceiro Mundo foi criado pelo economista, historiador e demógrafo francês Alfred Sauvy (1898 – 1990) no artigo ‘Trois Mondes, Une Planète’, publicado na revista francesa L’Observateur em 1952. O termo faz analogia ao Terceiro Estado francês, isto é, aos plebeus que, antes e durante a Revolução Francesa (1789 a 1799), se opunham ao clero (Primeiro Estado) e aos nobres (Segundo Estado).

Sauvy usou essa expressão para se referir aos países que desempenhavam um papel pequeno no comércio internacional. Em suas palavras, “este Terceiro Mundo, ignorado, explorado, desprezado como o Terceiro Estado, também quer ser alguma coisa”.

Texto: O que são países em desenvolvimento?
The “Three Worlds” of the Cold War. Em azul, Primeiro Mundo; em vermelho, Segundo Mundo; em cinza, países não alinhados. Imagem: Wikimedia Commons.

No contexto da Guerra Fria, porém, ele transmitiu o conceito de não alinhamento político com o bloco capitalista ou comunista. E passou a designar os países que não faziam parte do Primeiro Mundo, isto é, os estados capitalistas e economicamente desenvolvidos liderados pelos EUA, ou do Segundo Mundo, os estados comunistas liderados pela URSS.

Em suma, Terceiro Mundo consistia nos países de África, Ásia, América Latina, Oriente Médio e nas ilhas do Pacífico. E, embora a expressão tenha sido amplamente utilizada durante a Guerra Fria, nunca ficou clara esta categoria de análise. No fim das contas, “a designação de Terceiro Mundo era mais sobre o que tais lugares não eram do que eram” (TOMLINSON, 2003).

Com o fim da Guerra Fria e o aumento da competitividade econômica de alguns países em desenvolvimento, o termo perdeu relevância acadêmica passando a entrar em desuso.

Países Periféricos e Semiperiféricos

O primeiro uso do termo centro-periferia data da primeira metade do século XIX. O pioneiro foi o economista alemão Johann Heinrich von Thünen (1783-1850) na obra The Isolated State publicada na Der isolierte Staat em 1826. Thünen usou a terminologia centro-periferia para se referir a um modelo cartográfico que divide a produção entre atividades urbanas e rurais.

Texto: O que são países em desenvolvimento?
Core Countries, Semi-Periphery Countries and Periphery Countries. Imagem: Wikimedia Commons.

Essa terminologia, porém, foi melhor sistematizada pelo economista argentino Raúl Prebisch (1901-1986). Foi ele quem melhor aplicou-a na análise das relações econômicas entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento.

Prebisch empregou o termo centro-periferia em diferentes momentos da sua vida intelectual. Mas foi na publicação de 1949 conhecida como Manifesto da CEPAL (O desenvolvimento da América Latina e seus principais problemas) que ele avançou na explicação e aplicação de um modelo centro-periferia.

Em resumo, Prebisch defende que existe uma bipolarização das economias globais. Tem-se o centro, que se refere aos países onde as técnicas capitalistas de produção e o progresso técnico primeiro se desenvolveram. E tem-se a periferia, um conjunto de países onde a produção permanece atrasada, tanto tecnológica, quanto organizacionalmente.

Para entender mais sobre o pensamento de Prebisch, confira o texto Raúl Prebisch: história e pensamento do intelectual da CEPAL.

Na esteira de Prebisch, o modelo centro-periferia continuou sendo desenvolvido por outros teóricos. Um dos mais reconhecidos é Immanuel Wallerstein (1930-2019).

Wallerstein usa a teoria dos sistemas-mundo como uma ferramenta analítica para estudar a realidade. Nela, o mundo é entendido a partir da divisão centro-periferia, um conceito relacional no sentido de que o centro é definido por meio de sua relação com a periferia e vice-versa.

A abordagem de Wallerstein é sobretudo econômica e não geográfica. Ele a usa para inferir sobre os processos de produção do centro e da periferia e, não necessariamente, de países específicos. E, consequentemente, trata também da acumulação de capital do sistema.

O principal elemento que diferencia os processos de produção do centro com os periféricos é o grau em que eles são monopolizados e, portanto, lucrativos.

Ou seja, a produção-centro é um negócio altamente lucrativo, pois se aproxima mais de monopólios. Já a produção-periferia é ao contrário, é um negócio mais competitivo e menos lucrativo.

Assim, a periferia abrange zonas marginalizadas, menos desenvolvidas e economicamente menos produtivas. Zonas que são dominadas por um centro, que está extraindo delas excedente por causa de trocas desiguais. Essa desigualdade é a raiz da tese centro-periferia de Wallerstein.

Além da periferia, tem-se as áreas semiperiféricas. São regiões entre o centro e a periferia em diferentes sentidos: complexidade das atividades econômicas, aparelho estatal, a integridade cultural, entre outros.

Algumas áreas da semiperiferia já ocuparam posições centrais em economias-mundo anteriores. Já outras foram elevadas de sua condição periférica a semiperiférica em razão de mudanças geopolíticas.

Como zonas intermediárias, a semiperiferia desempenha um papel estabilizador absorvendo tensões entre o centro e a periferia. Ao mesmo tempo, enfrenta desafios para influenciar a política dos estados centrais, justamente pelo fato de estarem fora da arena política do centro.

Uma nova classificação?

Além do interesse por terminologias como periferia e economias emergentes, pesquisadores passaram a adotar outros conceitos para se referir às questões de desenvolvimento comparativo entre nações. Um dos termos que mais se popularizou nos últimos anos são as terminologias Norte Global e Sul Global.

Texto: O que são países em desenvolvimento?
United Nations Conference on Trade and Development (UNCTAD)’s classification of economies. Imagem: Wikimedia Commons

Não existe nenhuma obra clássica que marque inequivocamente (ano e autor), o surgimento do termo Sul Global. Entretanto, é possível encontrar quando e onde ele foi utilizado pela primeira vez.

Foi em 1969 pelo ativista político estadunidense Carl Oglesby (1935-2011) em uma edição especial do periódico Commonweal sobre a Guerra do Vietnã. Na publicação ‘Vietnamism has failed… The revolution can only be mauled, not defeated’, Oglesby se refere ao Sul Global como um conjunto de países assolados pelo domínio do Norte Global por meio da exploração política e econômica.

Com o declínio do uso do termo Terceiro Mundo após o fim da Guerra Fria, o termo Sul Global se tornou uma alternativa mais neutra e atraente. Porém, a sua popularidade acadêmica e política só aconteceu a partir de 2004, quando a ONU publicou o relatório Forging a Global South.

Neste relatório, defende-se que o uso de Sul Global se baseia no fato de que todos os países industrialmente desenvolvidos do mundo, com exceção da Austrália e da Nova Zelândia, ficam ao norte dos países em desenvolvimento.

O termo tem o objetivo de destacar que os países em desenvolvimento compartilham um conjunto de vulnerabilidades e desafios e que Norte e Sul Globais são nomenclaturas geopolíticas e não demográficas.

De acordo com a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTADstat – Classifications; Handbook of Statistics 2022, p. 21), fazem parte do Norte Global os países da América do Norte e a Europa, Israel, Japão, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia. E do Sul Global os países de África, América Latina e Caribe, Ásia (com exceção de Israel, Japão e Coreia do Sul) e Oceania (com exceção de Austrália e Nova Zelândia).

E, aí? Gostou de conhecer um pouco sobre o tema dos países em desenvolvimento? Qual das terminologias apresentadas você prefere? Deixe a sua opinião ou pergunta nos comentários!

Referências

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Moraes, Mayara. O que são países em desenvolvimento?. Politize!, 14 de janeiro, 2025
Disponível em: https://www.politize.com.br/paises-em-desenvolvimento/.
Acesso em: 14 de jan, 2025.

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