O Partido dos Panteras Negras foi um movimento político e social negro dos Estados Unidos, fundado em 1966 por Huey P. Newton e Bobby Seale na cidade de Oakland, Califórnia. O partido tinha como objetivo combater a violência policial e a opressão racial, além de promover a igualdade de direitos para os afro-americanos.
No entanto, o partido foi alvo de perseguição e repressão por parte do governo e das autoridades policiais, o que contribuiu para seu declínio na década de 1970.
Neste texto vamos conhecer a história do partido dos panteras negras desde a sua criação até o término de suas atividades, seus principais personagens e como o partido se tornou um símbolo de luta da população negra por direitos à igualdade.
O Partido dos panteras negras
O movimento dos Panteras Negras, foi criado em 1966 e ficou conhecido como uma organização de autodefesa contra a violência policial e a opressão racial enfrentada pelos negros nos Estados Unidos.
O crescimento da popularidade e influência do grupo fez deles uma referencia na luta pela justiça racial e direitos civis.
Os Panteras Negras tiveram grande impacto na luta pela justiça social e direitos civis nos Estados Unidos, inspirando outros movimentos sociais no mundo, dando voz à comunidade negra.
Para organizar melhor suas ações e avançar em suas demandas, o movimento se transformou em um partido político em 1968, oficialmente conhecido como Partido dos Panteras Negras para Autodefesa (Black Panther Party for Self-Defense).
Como partido político, os Panteras Negras buscaram promover suas ideias e programas através de campanhas eleitorais, coalizões políticas e programas sociais direcionados na assistencia social e educação.
Seu principal objetivo era combater a opressão racial e promover a igualdade para os afro-americanos nos Estados Unidos. Eles defendiam a autodefesa armada como forma de proteger as comunidades negras da brutalidade policial.
Além disso, promoviam programas sociais para ajudar a combater a pobreza, a falta de acesso a serviços básicos e a desigualdade econômica enfrentada pelas comunidades negras.
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Poder para o povo: a visão política dos panteras negras
O Partido dos panteras negras tinha uma visão política que combinava elementos do nacionalismo negro, do socialismo revolucionário e da luta contra a opressão racial. Eles acreditavam que a libertação dos afro-americanos só poderia ser alcançada através de uma transformação radical da sociedade.
O lema “Power to the people” (“Poder para o povo” em português) sintetizava essa visão e se tornou um dos símbolos mais conhecidos do movimento. Esse lema representava a ideia de que a população negra deveria ter controle sobre seus próprios destinos e lutar por sua liberdade, igualdade e justiça, e que isso só poderia ser alcançado através da organização e da ação política.
Em termos de nacionalismo negro, os Panteras Negras defendiam o orgulho racial e a valorização da cultura afro-americana. Eles enfatizavam a importância de uma identidade negra forte e se opunham à assimilação na cultura dominante.
Também buscavam construir alianças com outras comunidades marginalizadas para combater a opressão sistêmica. A luta contra a opressão racial era um elemento central na visão política dos Panteras Negras. Eles denunciavam a violência policial e a discriminação racial, e buscavam combater essas injustiças através da ação direta, incentivando uma política de defesa e protagonismo da população negra.
A liderança do partido dos panteras negras
Embora naquele momento, as leis de direitos civis que buscava garantir a igualdade racial, tenham sido aprovadas na década de 1960 nos Estados Unidos, a realidade para a comunidade negra continuava a ser marcada pela violência policial, linchamentos, discriminação no trabalho e na moradia, e limitações ao direito ao voto.
Inspirados por um amplo movimento das comunidades negras, como Malcolm X, a Martin Luther King, os movimentos de independência na África e por intelectuais anti colonialistas como Frantz Fanon, alguns estudantes universitários como Huey P. Newton e Bobby Seale fundaram o movimento dos panteras negras para a luta anti-racista.
Huey P. Newton
Huey P. Newton, nasceu em Monroe, Louisiana em 1942. Durante a Segunda Guerra Mundial sua família migrou para Oakland, na Califórnia, em busca de oportunidades econômicas. Já um jovem estudante proeminte, Newton foi ativista pela diversificação do currículo e contratação de mais professores negros na Faculdad Comunitária de Oakland Merritt.
Inspirado por uma vasta gama de pensadores, como Frantz Fanon, Che Guevara, Mao Zedong, Newton se tornou um dos principais fundadores e líder do BPP. Também foi o Ministro da Defesa do partido, responsável por organizar a patrulha armada que ficou logo conhecida como os “Panteras Negras”.
Em base a uma lei da Califórnia que permitia o porte de arma não escondida, os Panteras instituíram patrulhas armadas que monitoravam a atividade policial na comunidade negra. Essa ação elevou a tensão com a polícia, resultando em um tiroteio em Outubro de 1967, o que fez com que Newton fosse acusado de assassinato de um policial na ação.
A prisão de Newton gerou grande movimentação pela sua libertação com a mobilização “Free Huey”. Considerado um preso político, conseguiu a anulação e libertação da prisão em 1970. Novamente no partido, buscou a expansão do BPP (Black Panther Party). Porém já nesse momento as perseguições e prisões, levou a fragmentação do partido e divisões internas. Newton foi assassinado em 1989 em Oakland, tinha 47 anos, e as circunstâncias exatas que levaram à sua morte ainda é um tema controverso.
[H3] Bobby Seale
Foi co-fundador junto com Huey e presidente do Partido dos Panteras Negras. Nascido no Texas, Seale juntou-se a milhares de afro-americanos quando a sua família emigrou para Oakland, na Califórnia, durante a Segunda Guerra Mundial.
Aos 18 anos, Seale entrou para a Força Aérea, onde foi dispensado por má conduta após três anos de serviço. Estudante da Universidade de Merritt, conheceu Huey P. Newton e juntos fundaram o partido.
Seale ganhou proeminência nacional quando foi preso, juntamente com outros sete ativistas, sob a acusação de incitar a um motim à porta da Convenção Nacional Democrata em 1968. Após a sua detenção, frente a situação de saúde de seu advogado que recém se recuperava de uma cirurgia, pediu ao juiz para representar a si próprio no tribunal.
Após a insistência de Seale em se representar, Julius Horffman juiz da corte, além de negar o pedido, ordenou que Seale fosse literalmente amarrado e amordaçado. Hoffman condenou então Seale a quatro anos de prisão por desrespeito ao tribunal.
Quando Seale foi libertado da prisão, regressou a Oakland, onde encontrou o BPP dizimado por prisões, assassinatos e cismas internos. Essa realidade era fruto dos esforços bem sucedidos do FBI para destruir a organização. Em 1974, com o BPP se desintegrando, Seale demitiu-se do cargo de presidente do BPP, referindo que estava física e emocionalmente exausto.
Angela Davis
Angela Davis é ativista, educadora e académica. Nasceu em 1944 no Alabama, um dos estados mais racistas do sul dos Estados Unidos. Militante desde a década de 1960, atuou ativamente entre os movimentos negros e feministas.
Em 1967, Davis foi influenciada pelos defensores do Poder Negro e juntou-se ao Comité de Coordenação Estudantil Não-Violenta (SNCC) e depois ao Partido dos Panteras Negras.
Parte de uma frente pacífica do movimento, nessa época, a ativista participou na campanha de libertação e defesa dos “Irmãos Soledad”, dois jovens afro americanos membros do partido do Pantera Negra presos no início da década de 1970.
Durante a tentativa frustrada de um dos irmãos de libertar dos dois jovens, o Juiz do Tribunal Superior Harold Haley e três outras pessoas, incluindo Jonathan Jackson, foram mortos. Embora Davis não tivesse nenhuma relação com a ação, a investigação do caso revelou que a arma utilizada por Jonathan estava registrada em seu nome.
Davis fugiu para evitar ser presa e foi colocada na lista dos mais procurados do FBI. A polícia capturou-a vários meses depois em Nova Iorque. Seu julgamento durou vários meses e teve grande visibilidade em 1972. Fato que gerou uma grande campanha por sua libertação, chamando a atenção de ativistas, artistas e intelectuais e uma intensa discussão na sociedade sobre a prisão injusta de pessoas negras
Os 18 meses de cárcere e julgamento culminaram na sua absolvição. Angela atualmente é professora de filosofia e história. Foi candidata à vice-presidência dos EUA com um forte ativismo contra o sistema prisional norte americano. Também atua como influência nas lutas contra o racismo e contra a desigualdade de gênero.
Outros líderes importantes do Partido dos Panteras Negras incluem Eldridge Cleaver, que foi o principal porta-voz do partido durante um período, Kathleen Neal, que desempenhou um papel importante na visibilidade e na representação das mulheres dentro do movimento. Além de vários membros do partido, se tornaram líderes em suas comunidades locais, promovendo ações de mobilização e conscientização sobre os direitos dos afro-americanos.
O programa de reivindicação do partido dos Panteras Negras em 10 pontos
O programa dos dez pontos foi uma plataforma política que delineava as demandas e objetivos principais do partido. A declaração em formato de documento, manifestava as necessidades e anseios da comunidade negra pela igualdade racial, o fim da opressão e a melhoria das condições de vida da população.
Os principais pontos do programa foram:
- Queremos liberdade. Queremos o poder de determinar o destino de nossa comunidade negra.
- Queremos pleno emprego para o nosso povo. Eles defendiam o direito a um trabalho digno e bem remunerado para todos os afro-americanos.
- Queremos o fim do roubo da nossa comunidade negra pelos capitalistas. Os Panteras Negras demandavam o pagamento de reparação prometido no processo de libertação que incluiu a cessão de terras para o povo escravizado.
- Queremos casas decentes, adequadas para abrigar seres humanos. Os Panteras Negras demandavam a garantia de habitação adequada para todos, sem discriminação racial.
- Queremos educação para o nosso povo que exponha a verdadeira natureza desta sociedade decadente. Eles exigiam uma educação que refletisse a história e a cultura afro-americana, além de ser acessível e de qualidade para todos.
- Queremos que todos os homens negros sejam isentos do serviço militar. O partido se opunha a servir e lutar por um governo que ainda mantinha práticas de segregação racial.
- Queremos o fim imediato da brutalidade policial e do assassinato de pessoas negras. O partido defendia o direito de autodefesa armada contra a violência policial. Os membros dos Panteras Negras organizaram patrulhas armadas para defender a população contra as abordagens truculentas da polícia.
- Queremos liberdade para todos os homens negros detidos em prisões e cadeias federais, estaduais, municipais e de condados. Eles defendiam a libertação dos prisioneiros negros por considerar que eles não tiveram um julgamento justo e imparcial.
- Queremos que todos os negros, quando levados a julgamento, sejam julgados por um júri do seu grupo de pares ou por pessoas das suas comunidades negras, tal como definido pela Constituição dos Estados Unidos.
- Queremos terra, pão, moradia, educação, roupa, justiça e paz. E, como nosso maior objetivo político, queremos liberdade para homens negros e para todas as pessoas negras oprimidas em todo o mundo.
O programa enfatizava a importância do autodeterminismo e do fortalecimento da comunidade negra. Suas ações, como patrulhas armadas para monitorar a polícia e programas de alimentação para crianças, forneceram serviços e apoio direto à comunidade.
O partido ganhou destaque nacional e atraiu a atenção nacional para as questões enfrentadas pelos negros nos Estados Unidos, especialmente em comunidades urbanas pobres. Mas essa atenção também lhes trouxe uma forte oposição do próprio Estado e das forças de segurança que viam nas ações do partido um risco para a segurança nacional.
COINTELPRO: O Plano do FBI para destruir o Partido dos Panteras Negras
O COINTELPRO (Programa de Contrainteligência do FBI) foi uma operação secreta e ilegal conduzida pelo FBI (Federal Bureau of Investigation) nos Estados Unidos, durante as décadas de 1950 a 1976. Combinado com as forças policiais locais, tinha como objetivo localizar, perseguir, desacreditar, infiltrar-se, destruir e desestabilizar grupos dissidentes nos Estados Unidos.
Em relação ao Partido dos Panteras Negras, o COINTELPRO desempenhou um papel significativo em suas atividades. O FBI, liderado pelo então diretor J. Edgar Hoover, considerava os Panteras Negras uma ameaça e uma organização subversiva. O FBI iniciou uma intensa vigilância sobre o partido, utilizando técnicas ilegais de espionagem, como grampos telefônicos, infiltração de agentes secretos e manipulação de informantes.
Além disso, com o objetivo de dividir e enfraquecer o partido, o FBI utilizou táticas de desinformação e difamação. Agentes do FBI enviavam cartas anônimas para criar conflitos internos, espalharam rumores falsos e lançaram campanhas de difamação na mídia para minar a imagem do partido perante o público.
O COINTELPRO também foi responsável por operações de assassinatos e prisões injustas de líderes dos Panteras Negras. Um exemplo trágico disso é o caso de Fred Hampton, líder do partido em Chicago, morto durante uma operação conjunta entre o FBI e a polícia local.
A COINTELPRO do FBI centrou-se também em outros movimentos como os liderados por Malcolm X, buscou minar, intimidar e caluniar líderes negros declaradamente não violentos, como Martin Luther King Jr., entre outros. Suspeita-se que suas ações tenha contribuído no assassinato de Malcom em 1965.
A ação do COINTELPRO contra os Panteras Negras teve um impacto significativo na desestabilização do partido, prejudicando suas atividades e minando a confiança em sua liderança. Essa repressão implacável contribuiu para a fragmentação e o declínio do partido dos Panteras Negras.
Somente em 1971, quando as atividades do COINTELPRO foram expostas publicamente, o programa foi encerrado oficialmente e posteriormente condenado como uma violação dos direitos civis e constitucionais dos cidadãos dos EUA.
O legado dos panteras negras
Embora tenha sido dissolvido em meados dos anos 1980, o legado do Partido dos Panteras Negras ainda ressoa nos dias de hoje. Sua luta contra a brutalidade policial, a desigualdade racial e a injustiça continuam relevantes em meio aos movimentos modernos por justiça social.
A luta do partido contra o racismo mobilizou movimentos sociais em todo o mundo, incluindo grupos que lutavam por direitos humanos, igualdade racial e justiça social. E inspiram nos dias atuais, subsequentes movimentos ativistas como o Movimento Black Lives Matter, que continua a luta contra a violência policial e a igualdade racial.
Além disso, a conscientização gerada pelos Panteras Negras sobre as questões raciais e a necessidade de autodefesa da comunidade negra moldaram discussões e debates em torno do racismo estrutural, da representação política e do empoderamento da comunidade negra em nossos dias atuais.
E ai, você gostou de conhecer a história dos panteras negras? Fique a vontade para deixar sua opinião e sugestão de temas!
Referências:
- Blackpast – (1966) The Black Panter Party Ten-Point Program
- Blackpast – COINTELPRO [COUNTERINTELLIGENCE PROGRAM] (1956-1976)
- BuzzFeedNews – Estas fotos mostram o impacto dos Panteras Negras nos EUA
- Geledes – Panteras Negras: A história em 27 fatos importantes
- Observatorio do terceiro setor – Messias Negro: o líder dos Panteras Negras morto pela polícia aos 21 anos
- Observatório do terceiro setor – Angela Davis: ativista, ela foi perseguida pelo FBI por sua luta antirracista
- Stanley Nelson – Documentary Black Panthers: Vanguard of The Revolution
2 comentários em “Poder para o povo: História do partido dos Panteras Negras”
Épocas diferentes, porém, na luta pelos mesmos ideais até hoje. Foi um movimento de grande repercussão nacional e internacional, mas que também causou a ira dos opositores. Acredito que desde a existencia dos seres humanos em terra, essa desigualdade racial e injustiça social sempre ganharam espaço e isto se perdura por décadas. Sempre haverá movimentos sociais no combate a estas barbáries, mas será que um dia terá fim? será que haverá o dia em que podemos dizer que estamos verdadeiramente libertos de tamanho preconceito e desrespeito? O que eu vejo hoje é que por mais que existam as lutas na defesa da comunidade negra e oprimida, ainda assim, não está sendo o suficiente para caminhar rumo aos próximos passos, que é o investimento e ação por parte das autoridades. Fico muito entristecida de comparar os fatos históricos com os dias atuais e se deparar com dados chocantes e perversos, que só vem aumentando.
Quanto aos atos até podem ser duvidosos, mas têm uma contribuição incrível na história, e fizeram muita história, esse legado ficará para sempre. Quanto as 10 premissas filosóficas partidárias é de chorar. Imaginem se tivesse um partido desse aqui no Brasil? Imaginem se eles fossem consolidados? Imagina hoje? Imahine deixando rastros originais e fiéis por vários lugares do mundo, inclusive, na África e independente e totalmente imparcial (a penetração) quanto aos países em que eles se instalassem? Eu ainda acredito que não reverteremos a história deles, mas que pode melhorar e muito. Salve para sempre os ‘Panteras Negras’.