Imagem de uma mão adulta segurando uma mão de criança.

O que é parentalidade positiva?

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Através da criação de leis como a Lei Menino Bernardo, que garante às crianças e adolescentes o direito de serem educados e cuidados sem o uso de castigos físicos, tratamentos cruéis ou humilhantes, surge uma nova maneira de educar: a parentalidade positiva.

É comum ouvirmos histórias de familiares ou amigos sobre suas infâncias, muitas vezes mencionando o uso da violência como forma de discipliná-los. No entanto, segundo publicação do Comitê Científico do Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI), a violência prejudica o desenvolvimento infantil e suas consequências afetam toda a sociedade.

Neste artigo, vamos abordar sobre o que é essa estratégia, suas críticas, como ela pode ajudar no desenvolvimento integral de crianças e adolescentes e a inclusão de suas práticas na rotina diária.

O que é parentalidade?

Segundo a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, parentalidade se refere ao conjunto de atividades realizadas pelos adultos de referência de uma criança para garantir sua sobrevivência e desenvolvimento completo. Essas atividades podem ser exercidas por pais, juntos ou separados, ou por outras pessoas, mesmo sem laços de sangue.

Os adultos de referência de uma criança são aqueles que estão presentes em sua rotina diária e estabelecem os vínculos afetivos mais próximos durante os primeiros anos de vida.

A parentalidade abrange diferentes tipos de famílias, como as homoparentais, formadas por casais do mesmo gênero, e aquelas que envolvem adoção ou quando parentes, como avós, tias ou padrinhos, assumem esse papel.

Mas, é importante não confundir parentalidade com a rede de apoio. A rede de apoio é um grupo de pessoas que ajuda no desenvolvimento e bem-estar da criança, mas sem ter responsabilidades legais. Essa rede pode incluir amigos, vizinhos, professores e outros membros da comunidade.

Enquanto a parentalidade cuida das responsabilidades formais e legais de criar uma criança, a rede de apoio complementa com suporte emocional, educacional e prático, colaborando para um ambiente de crescimento saudável e a formação da criança.

O que é parentalidade positiva?

Em 2024, foi sancionada a Lei nº 14.826, que define a parentalidade positiva como uma estratégia para prevenir a violência contra crianças e adolescentes, baseada no respeito, acolhimento e não violência. A lei reforça que crianças e adolescentes têm direitos, como o de brincar, que devem ser garantidos da mesma forma que os direitos dos adultos.

A lei determina que o Estado, a família e a sociedade devem promover essa forma de cuidar. Isso inclui proteger a vida da criança, incentivar uma educação sem violência e lúdica, estimular sua autonomia e ajudar no desenvolvimento do cérebro e das habilidades cognitivas.

Ela surge no contexto de pesquisas que mostram os danos do estresse tóxico, que é a exposição contínua da criança a eventos negativos, como brigas frequentes e outras situações de grande vulnerabilidade, que afetam seu desenvolvimento, principalmente se ocorrerem na primeira infância.

Imagem mostra uma criança aparentemente coagida, e se relaciona com a parentalidade positiva.
Imagem: Freepik.

Nessa fase, que vai da gestação até os 6 anos de idade, o cérebro é mais sensível ao ambiente, e a qualidade dos cuidados e das interações nesse período pode afetar a capacidade da criança de aprender, se adaptar e formar boas relações pelo resto da vida.

Quando a criança vive em um ambiente de estresse tóxico, a violência – seja física, psicológica, sexual ou negligência – pode levar ao aumento da agressividade, dificuldade de atenção, ansiedade, depressão, problemas na escola e até transtornos psiquiátricos, como fobia e estresse pós-traumático.

Críticas à parentalidade positiva

Embora a parentalidade positiva seja muito elogiada por focar no respeito e no desenvolvimento saudável das crianças, ela enfrenta críticas. Uma das principais é que essa abordagem pode parecer idealista e difícil de aplicar na prática.

Críticos afirmam que, em momentos difíceis, pode ser complicado manter os princípios da parentalidade positiva, como a disciplina não violenta e o acolhimento emocional.

Outra crítica é que essa abordagem pode aumentar a culpa e a pressão sobre os pais. Muitas vezes, eles se sentem sobrecarregados se não conseguem atender todas as expectativas, em especial sem uma rede de apoio. Isso pode criar um ambiente mais tenso e menos acolhedor para a criança.

Além disso, alguns argumentam que a parentalidade positiva pode restringir a liberdade dos pais. Por exemplo, o Projeto de Lei nº 4275/19, do ex-deputado Delegado Waldir, busca revogar a Lei Menino Bernardo.

Esse projeto estabelece deveres para crianças e adolescentes, refletindo a preocupação de que essas leis invadem a liberdade dos pais de escolher como disciplinar seus filhos.

Punir e disciplinar: qual é a diferença?

A diferença entre punir e disciplinar é um ponto comum de confusão entre pais e cuidadores. Entender essa distinção é essencial para aplicar práticas de parentalidade positiva de forma eficaz e saudável.

A punição está ligada ao castigo por comportamentos errados, enquanto a disciplina ensina a criança a lidar melhor com as situações, focando no desenvolvimento de boas condutas.

Punir geralmente busca encontrar um culpado e aplicar uma consequência negativa quase imediata pelos seus erros, sem considerar o contexto ou a compreensão da criança. Isso pode gerar medo e ressentimento, sem promover uma verdadeira aprendizagem.

Por outro lado, a disciplina envolve diálogo e compreensão. Ao disciplinar, o objetivo é entender a situação, promover uma comunicação aberta e responsabilizar a criança de forma construtiva.

O foco é ajudar a criança a reconhecer suas ações, refletir sobre suas consequências e aprender a corrigir suas atitudes, estimulando sua autonomia e responsabilidade.

Foco no desenvolvimento completo

O modelo Nurturing Care, em português Atenção e Cuidado Integral, desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e o Banco Mundial, destaca que práticas parentais positivas são uma condição importante para garantir o pleno desenvolvimento das crianças. Vale ressaltar que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é a principal fonte legal que garante os direitos das crianças e adolescentes no Brasil. Nos últimos três anos, mais de 15 mil crianças e adolescentes foram mortos de forma violenta, conforme dados do UNICEF e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o que evidencia a urgência de fortalecer a proteção deles.

Segundo o modelo de atenção e cuidado integral, esse pleno desenvolvimento só é possível com cinco componentes interligados e indivisíveis: boa saúde, nutrição adequada, segurança e proteção, cuidados responsivos (pais que percebem e respondem às necessidades dos filhos) e oportunidades de aprendizado.

Um adulto e uma criança estão sorrindo ao brincar. A criança veste uma blusa rosa e o adulto uma blusa branca. Estão em um ambiente interno, possivelmente uma casa.
Imagem: Freepik.

Quando essas condições são atendidas por políticas públicas, corporativas e práticas diárias, assegura-se o bem-estar infantil e a formação de adultos saudáveis. Evidências científicas mostram que fortalecer a parentalidade positiva por meio de programas e políticas ajuda a prevenir a violência e promover o crescimento saudável das crianças.

Exemplo disso é o Programa ACT, que auxilia famílias a melhorarem suas formas de cuidado. Através de um estudo sobre seus efeitos em mães do município de Ribeirão Preto, o programa mostrou ser capaz de melhorar as práticas parentais e diminuir os problemas de comportamento dos filhos após a participação na iniciativa.

Cuidar de quem cuida e de si mesmo também é fundamental. Criar uma criança pode ser desafiador, especialmente para as mais de 11 milhões de mães solo no Brasil, que equilibram trabalho, tarefas domésticas e as responsabilidades com os filhos. Por isso, é importante praticar o autocuidado e contar com uma rede de apoio ativa para garantir bem-estar e saúde emocional.

Afinal, essa rede deve oferecer suporte significativo. Contar com amigos e familiares pode ajudar a aliviar a pressão diária e permitir que mães e pais sobrecarregados tenham momentos de pausa. Além disso, essa troca de apoio e experiências não só fortalece as relações, mas também promove novas maneiras de enfrentar os desafios da parentalidade.

Aplicação prática no dia a dia

Ao final deste artigo, deve surgir uma dúvida relevante: como aplicar os princípios da parentalidade positiva na rotina? O UNICEF sugere o modelo CONFORTE, que apresenta ações simples para ajudar pais e cuidadores a criar um ambiente familiar mais positivo e acolhedor.

Segue então um resumo dessas ações, disponíveis na cartilha “O Cuidado Integral e a Parentalidade Positiva na Primeira Infância”, que é um material desenvolvido para formação de profissionais que atuam com primeira infância, mas que traz dicas importantes de cuidados com as crianças para o público em geral.

  • Converse com a criança. Sempre busque entender o que aconteceu e explique de forma clara o comportamento ideal, em vez de apenas dizer o que não fazer. Isso ajuda a criança a entender melhor suas ações e aumenta as chances dela agir conforme o esperado.
  • Observe a criança. Identifique as situações em que ela tem dificuldade em regular as emoções. Preste atenção também nas suas próprias emoções durante as interações. Compreender esses aspectos ajuda a lidar melhor com os comportamentos da criança.
  • Note as suas emoções. Pergunte a si mesmo quais situações são mais desafiadoras. Mantenha a calma antes de reagir para lidar com a situação de forma equilibrada e, quando possível, reserve um tempo para se acalmar.
  • Faça uma pausa. Em momentos de tensão, em vez de punir, dê à criança um tempo para se acalmar. Explique que alguns comportamentos não são aceitáveis (como bater, por exemplo) e mostre alternativas, como respirar fundo ou pedir um abraço.
  • Organize os espaços. Crie um ambiente seguro para que a criança possa explorar e aprender sem riscos. Quando organizamos os espaços prevenimos que situações de risco ocorram e também comportamentos desafiadores das crianças.
  • Redirecione a atenção da criança quando necessário. Se perceber que a criança vai se comportar de maneira inadequada, direcione-a para uma atividade divertida, como um jogo ou uma nova brincadeira.
  • Tempo para vocês. Dedique momentos para atividades com a criança, como brincar, cantar ou ler, desligando distrações como televisão e celular. Isso fortalece o vínculo e cria memórias positivas que contribuem para a saúde emocional da criança.
  • Ensine sobre as emoções. Ajude a criança a identificar e entender suas emoções e demonstre como lidar com elas de forma saudável. Ouça sem julgamentos e com empatia quando ela expressar seus sentimentos, ajudando-a a encontrar as palavras para descrever o que está sentindo.

Essas ações, quando praticadas regularmente, ajudam a criar um ambiente familiar mais amoroso e promovem o crescimento saudável das crianças, tornando a parentalidade positiva uma realidade no dia a dia.

Mas e as birras, como lidar?

Lidar com birras faz parte do desenvolvimento infantil. Muitas vezes, as crianças não agem para irritar os adultos, mas usam esse comportamento porque é uma das poucas formas de se comunicar que possuem nesse início da vida.

Os pais e cuidadores devem ter expectativas realistas sobre o que é um comportamento adequado para a idade da criança. Bebês e crianças pequenas têm menos recursos emocionais do que crianças maiores.

É importante observar com que frequência a birra acontece e o que a motiva. Bater, castigar ou ameaçar não ajuda, pois as crianças pequenas não entendem a razão da violência e não aprendem com isso. Em vez disso, tente remover o que está causando a birra e ofereça colo ou um abraço. Se a criança não quiser, apenas fique ao lado dela.

É recomendável que os pais ajam da maneira que acharem necessária durante a birra, sem se preocupar com a opinião dos outros. Ninguém conhece seu filho melhor do que você. Mas, isso não retira a importância de ouvir e trocar experiências com outras famílias para aprender mais.

Imagem de uma criança fazendo birra, relacionando-se com o tema de parentalidade positiva.
Imagem: Freepik.

Evite fazer falsas promessas e não tente negociar com seu filho. A confiança se constrói por meio da honestidade e da transparência. Quando os adultos reconhecem o processo de crescimento das crianças, em vez de focar apenas nos resultados, também fortalecem essa relação de confiança.

A célebre frase “a criança de hoje é o adulto de amanhã.” reflete sobre a importância de nossas ações e escolhas ao criar uma criança. O que é ensinado e como se age influenciam não apenas o desenvolvimento da criança, mas também o tipo de sociedade que se terá no futuro.

Entender a parentalidade positiva e buscar outras maneiras de criar um ambiente saudável e amoroso para o crescimento é fundamental. Cada família tem uma jornada única, mas o objetivo é sempre o mesmo: construir a melhor base para o futuro dos filhos.

E aí, gostou de conhecer mais sobre a parentalidade positiva? Agora que você tem mais informações sobre o tema, compartilhe com seus amigos e familiares. Deixe sua opinão nos comentários!

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Nunes, Messias. O que é parentalidade positiva?. Politize!, 16 de outubro, 2024
Disponível em: https://www.politize.com.br/parentalidade-positiva/.
Acesso em: 17 de out, 2024.

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