Saiba tudo sobre a PEC da Segurança Pública

Publicado em:

Compartilhe este conteúdo!

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública, recentemente apresentada ao Congresso pelo governo federal, visa modificar e estruturar o sistema de segurança pública do Brasil. 

De acordo com o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, o principal objetivo da proposta é tornar mais eficiente o combate às organizações criminosas, garantindo maior integração entre os diversos níveis de governo e desburocratizando os processos. 

A seguir, a Politize! destaca os principais pontos dessa PEC e os impactos previstos para as políticas de segurança pública no país.

Quais são as mudanças que a PEC da segurança propõe?

A proposta de emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública sugere alterações em cinco artigos da Constituição que tratam de segurança pública. O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, entregou a minuta da PEC ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e aos líderes partidários nesta terça-feira. 

Com o objetivo de reforçar o combate ao crime organizado, a PEC altera esses cinco artigos para ampliar o papel da União na formulação das políticas de segurança pública. O texto ainda está sujeito a modificações pelos parlamentares, mas esses são os principais pontos da proposta:

Alteração das Competências da União (Artigo 21 da Constituição):

  • Atribui à União a responsabilidade de estabelecer a política e o plano nacional de segurança pública e defesa social;
  • Coordena o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) e o sistema penitenciário, promovendo a integração entre os órgãos de segurança pública nos níveis federal, estadual e municipal.

Veja também: O que é organização criminosa armada?

Criação da Polícia Viária Federal (Artigo 22):

  • Substitui as Polícias Rodoviária e Ferroviária Federais pela Polícia Viária Federal;
  • A nova polícia será responsável por patrulhar rodovias, ferrovias e hidrovias federais, sem exercer funções de polícia judiciária.

Ampliação das Prerrogativas da Polícia Federal (Artigo 144):

  • Expande as competências da Polícia Federal, incluindo investigações sobre crimes ambientais e práticas de milícias privadas;
  • Permite à PF atuar em infrações com repercussões interestaduais ou internacionais, como crimes organizados.

Atribuições das Guardas Municipais (Artigo 144):

  • Reconhece as Guardas Municipais como órgãos de segurança pública;
  • Formaliza a permissão para as guardas atuarem no policiamento ostensivo e comunitário nas áreas urbanas.

Criação de Corregedorias com Autonomia Funcional (Artigo 144):

  • Estabelece corregedorias independentes para apurar a responsabilidade dos profissionais de segurança pública;
  • Garantia de maior transparência e responsabilidade por meio de sindicâncias e processos administrativos disciplinares.
Hugo Motta, semblante sério, usando terno. Ricardo Lewandowski, cabelos brancos, aparenta idade mais avançada, de terno. Texto: Saiba tudo sobre a PEC da segurança.
À esquerda, o presidente da Câmara, Hugo Motta e o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski ao seu lado. Imagem: Agência Brasil.

As competências da União

A PEC propõe que a União seja responsável por “estabelecer a política e o plano nacional de segurança pública e defesa social” e por “coordenar o sistema único de segurança pública e defesa social e o sistema penitenciário”. Isso incluiria a constitucionalização do Sistema Único de Segurança Pública (SUSP), criado em 2018. 

O objetivo é integrar as forças policiais com uma base de dados e procedimentos padronizados, como no Sistema Único de Saúde (SUS). A proposta também prevê que as diretrizes de segurança pública sejam formuladas pelo Conselho Nacional de Segurança Pública e Defesa Social, composto por representantes da União, dos estados, do Distrito Federal, dos municípios e da sociedade civil.

Não interferência nos estados

A PEC deixa claro que a União não irá invadir as prerrogativas dos estados, reforçando que a proposta “não exclui” as competências dos governos estaduais. As polícias estaduais e os corpos de bombeiros continuarão sob a subordinação dos governadores, como é atualmente.

Entenda melhor sobre as prerrogativas de cada esfera do governo: Três níveis de governo: o que faz o federal, o estadual e o municipal?

Criação da Polícia Viária Federal

A PEC sugere a criação da Polícia Viária Federal, que será a primeira força policial sob jurisdição federal com função ostensiva. Ela terá a responsabilidade de patrulhar rodovias, ferrovias e hidrovias federais, sem atuar como polícia judiciária, ou seja, sem investigar crimes. 

Além disso, a Polícia Viária Federal poderá apoiar as forças de segurança estaduais ou distritais, com a autorização da União.

Ampliação das prerrogativas da Polícia Federal

A PEC amplia as funções da Polícia Federal, permitindo que ela investigue crimes ambientais e atue contra milícias privadas. A proposta também permite à Polícia Federal apurar crimes com repercussões interestaduais ou internacionais, como as ações de organizações criminosas.

Atribuições das Guardas Municipais

A PEC formaliza no texto o papel das Guardas Municipais no policiamento ostensivo e comunitário, baseado no entendimento do STF. 

Isso foi formalizado no texto da PEC, que garante que as guardas municipais possam atuar na segurança urbana, realizando atividades de policiamento ostensivo e comunitário, sem invadir as competências de polícia judiciária.

Corregedorias com autonomia funcional

A PEC propõe a criação de corregedorias independentes, com a autoridade para apurar a responsabilidade dos profissionais da segurança pública. Essas corregedorias conduzirão sindicâncias e processos administrativos disciplinares para garantir maior transparência e responsabilidade.

Constitucionalização dos fundos

A PEC prevê a constitucionalização dos Fundos Nacional de Segurança Pública e Penitenciário Nacional, garantindo recursos contínuos para essas áreas e proibindo o contingenciamento. O objetivo é assegurar financiamento constante para as políticas de segurança pública.

Conselho Nacional de Segurança Pública

A PEC também propõe incluir o Conselho Nacional de Segurança Pública e Defesa Social na Constituição. Com a participação de representantes do governo e da sociedade civil, o conselho visa ampliar a participação popular nas decisões sobre políticas de segurança pública, dando voz a diferentes setores da sociedade.

Críticas à PEC da segurança

A principal crítica à proposta é a centralização do poder nas mãos da União, o que pode enfraquecer a autonomia dos estados na formulação de suas próprias políticas de segurança. 

Parlamentares da oposição, como a deputada Carol De Toni (PL-SC), veem a PEC como um retrocesso. Essa medida concentraria ainda mais poder no governo federal, desconsiderando as realidades locais e os esforços dos estados na gestão da segurança pública.

Além disso, há preocupações com o risco de politização das forças policiais, caso a União passe a ter controle excessivo sobre as diretrizes de segurança pública. Carol também questiona a teoria do “estado de coisas inconstitucional”, mencionada pelo governo como justificativa para a proposta. 

Ela acredita que essa teoria poderia ser utilizada como base para intervenções indevidas nas competências estaduais, o que aumentaria a centralização do poder e limitaria a atuação dos governos locais.

Em julho de 2024, o texto foi enviado pelo Ministério da Justiça ao Planalto para avaliação, mas encontra forte oposição dos governadores. Um exemplo disso é o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), que enviou uma mensagem ao presidente afirmando que não comparecerá ao encontro com o governo federal sobre a PEC. 

Zema argumenta que o encontro corre o risco de ser apenas uma oportunidade para discursos políticos, sem um verdadeiro espaço para construção conjunta e busca de consenso.

Ele também criticou a falta de resposta do governo federal sobre as propostas enviadas pelo Consórcio de Integração Sul e Sudeste (Cosud) para ajustes no texto da PEC, reiterando que ainda não obteve uma resposta satisfatória.

A PEC ainda passará por um longo processo de tramitação no Congresso. Após ser analisada pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), ela seguirá para uma comissão especial, onde será debatida e possivelmente modificada antes de ser levada ao plenário da Câmara dos Deputados e do Senado. Para ser aprovada, a proposta precisa do apoio de três quintos dos parlamentares em dois turnos de votação em cada Casa.

E aí, entendeu o que é a PEC da Segurança Pública? Deixe suas dúvidas e opiniões nos comentários!

Referências

WhatsApp Icon

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Compartilhe este conteúdo!

ASSINE NOSSO BOLETIM SEMANAL

Seus dados estão protegidos de acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD)

FORTALEÇA A DEMOCRACIA E FIQUE POR DENTRO DE TODOS OS ASSUNTOS SOBRE POLÍTICA!

Conteúdo escrito por:

Júlia Christina Gírio Gonçalves

Faço parte da equipe de conteúdo da Politize!.
Gonçalves, Júlia. Saiba tudo sobre a PEC da Segurança Pública. Politize!, 10 de abril, 2025
Disponível em: https://www.politize.com.br/pec-da-seguranca-publica/.
Acesso em: 18 de abr, 2025.

A Politize! precisa de você. Sua doação será convertida em ações de impacto social positivo para fortalecer a nossa democracia. Seja parte da solução!