O poder da narrativa no Poder Judiciário: o caso da Justina

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Existe uma presunção de que as pessoas devem conhecer os direitos e deveres legalmente estabelecidos, uma vez que são publicados em veículos oficiais. Ou seja, um cidadão brasileiro está submetido às leis independente de ter tido acesso ou não a essa informação. Trata-se de um debate de grande relevância, uma vez que essas são as regras que regem a vida em sociedade.

Um fator que ajuda a tornar as pessoas conscientes dessas regras é a evolução tecnológica. Percebe-se que por meio da portabilidade de dispositivos e da facilidade ao acesso à internet, é possível consultar instantaneamente praticamente qualquer informação. Dessa forma, a internet permite que as informações possam ser acessadas com praticidade, gerando um fenômeno chamado de democratização da informação.

Surge, então, um interessante debate: será que as instituições públicas estão preparadas para se apoiar nas novas tecnologias e comunicar à população os direitos e deveres dos cidadãos?

Justina – a vida de uma trabalhadora como você

A Justiça do Trabalho é o ramo do Poder Judiciário que lida com matérias relacionadas ao trabalho e emprego. Sua estrutura é composta pelo Tribunal Superior do Trabalho (nacional) e os Tribunais Regionais do Trabalho, com suas respectivas varas.

O Tribunal Regional do Trabalho da 2° região (TRT-2) tem sede na capital paulista, exercendo jurisdição na Grande São Paulo. Durante o ano de 2016, a Secretaria de Comunicação do TRT-2 encarou o desafio de humanizar as relações com a população por meio de uma novela em um perfil no Facebook, em que a personagem principal, a Justina, compartilha suas experiências profissionais e pessoais com os seguidores de seu perfil. A equipe do TRT-2 tratou de utilizar uma linguagem compatível com as mídias sociais, difundindo informações de forma agradável, simpática e envolvente.

Foram seis temporadas que representaram as diferentes fases profissionais da Justina: jovem-aprendiz, estagiária, empregada celetista, desempregada, empreendedora e gestora em uma grande organização. Em cada uma das temporadas, Justina passa por experiências comuns aos brasileiros e tem a oportunidade de contemplar as principais dúvidas relativas ao Direito do Trabalho sob diferentes perspectivas da sua vida profissional.

No vídeo a seguir, você confere o making of da produção da Justina:

Como a Justina ajudou a Justiça do Trabalho?

A facilidade para inserir conteúdos nas mídias sociais acompanha a sensação de estarmos sendo “bombardeados” de informações. O TRT-2 entendeu que uma boa história é uma das melhores formas de prender a atenção de alguém. Por isso, incorporou na sua comunicação a técnica storytelling para conseguir esse engajamento.

O storytelling tem o poder de conectar os conteúdos por meio de uma narrativa. Tendo a Justina o papel de “fio condutor” para guiar a história, cria-se uma relação de proximidade com o público e aumenta-se o impacto da comunicação no desafio de transmitir os direitos e deveres no mundo do trabalho para a população, que muitas vezes são desconhecidas.

Veja a reportagem a seguir sobre uma das visitas do TRT-2 ao Instituto Federal de Tecnologia, em São Paulo:

O poder da narrativa

Justina recebeu o apelido de Juzz, casou-se durante a história, tem uma inimiga, é cheia de sonhos e possui uma incrível determinação para seu crescimento profissional. Tudo isso a torna mais humanizada e gera empatia e apreço pela história.

A página recebeu inúmeros comentários e até vídeos dos fãs comentando que já passaram pelas mesmas situações da Justina. Em alguns casos depositando votos de fé e coragem para apoiar a personagem. O ponto central é que a Justina apresenta valores e atitudes que o público identifica como verdadeiros e compreensíveis do seu ponto de vista.

Muitas vezes, (Justina?) encontra-se em situações difíceis no seu dia-a-dia. Como exemplo, o episódio com o colega que trabalhava em uma empresa que estava sendo transferida para outra cidade. Neste caso, surge a dúvida se um funcionário é obrigado a aceitar uma mudança definitiva. O aprendizado dessa lição é dado sob a ótica da Justina, que compartilha o drama da possibilidade do seu amigo ter que morar longe da sua família. Essas brechas do que o personagem acha que vai acontecer e o que acontece de fato instigam os leitores a continuarem acompanhando a história. Por isso, uma boa narrativa alterna momentos bons e momentos de dificuldades.

Justina sofreu um grande acidente de trabalho, acontecimento comum no Brasil mas com poucas informações trabalhistas sobre o assunto. Trata-se do grande clímax da história, onde a personagem Justina ficou entre a vida e a morte. Foi o momento de maior tensão e interação com os seguidores, preparando-os para o fim da história.

O Legado da Justina

O slogan “a vida de uma trabalhadora como você” explicita um elemento fundamental no storytelling – a autenticidade. Um dos maiores legados é uma prestação de um relevante serviço social que humaniza as relações entre o Judiciário e a sociedade. Além disso, a Justina alcançou a marca de 20 mil seguidores e teve aparição na Rede Globo, no Programa “Como Será?”.

Segundo a equipe do TRT-2, o projeto recebeu diversos feedbacks positivos e carinho dos fãs. O que mais chama atenção são os comentários que discorrem sobre como os aprendizados da Justina ajudaram os seguidores nas experiências profissionais reais. Desta forma, é possível validar a estratégia de utilizar um método lúdico para prestação de serviços públicos.

Assim, destaca-se a capacidade de inserir o Poder Judiciário nas mídias sociais com uma abordagem compatível e aderente ao seu público-alvo, fugindo do “jurisdiquês” incompreendido pela população. Reforça-se a necessidade de inovar nos métodos de trabalho do setor público com o objetivo de alcançar melhores resultados, que no caso da Justiça, aconteceu com o storytelling nas mídias sociais disseminando informações sobre o Direito do Trabalho.

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WeGov-logo-politizeA WeGov é um espaço de aprendizado em governo, que dissemina a cultura de inovação no setor público. As ações da WeGov tem como premissas: empoderar os agentes públicos; iluminar ideias e ações que possam ser replicadas; aproximar os agentes públicos das três esferas e dos três poderes. Todas as quintas, novo post da WeGov no Politize!. Fique ligado!

 

 

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Conteúdo escrito por:
Lincon Shigaki trabalha na WeGov e cursa Administração na UFSC. Trabalhou com consultoria em gestão no Movimento Empresa Júnior, onde foi Presidente da Ação Júnior e da Fejesc. Possui uma fé inabalável que podemos viver em um país melhor e não consegue se ver fora do processo de transformação dessa realidade.
Shigaki, Lincon. O poder da narrativa no Poder Judiciário: o caso da Justina. Politize!, 16 de fevereiro, 2017
Disponível em: https://www.politize.com.br/poder-da-narrativa-judiciario-justina/.
Acesso em: 21 de nov, 2024.

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