Você sabe qual a diferença entre os termos “negro” e “preto”? Será que existe alguma distinção entre essas palavras? Você vai descobrir agora, neste texto da Politize!. Acompanhe a leitura!
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Qual a diferença entre negro e preto?
No contexto brasileiro, os termos “negro” e “preto” possuem significados relacionados, mas não idênticos. De acordo com a classificação adotada pelo IBGE, “negro” é uma categoria ampla que engloba tanto as pessoas autodeclaradas pretas quanto as pardas. Essa definição é utilizada por políticas públicas, como o Estatuto da Igualdade Racial, e por diversos movimentos sociais como forma de unificar os grupos racializados não brancos.
O termo preto, por sua vez, é uma das cinco categorias de cor ou raça utilizadas oficialmente pelo Censo Demográfico, junto a branco, pardo, amarelo e indígena. Ele designa pessoas com tons de pele mais escuros, geralmente associadas à ascendência africana.
Atualmente, pessoas negras representam 56% da população brasileira, segundo o IBGE. Esse percentual resulta da soma de 10,2% de brasileiros que se declaram pretos e 45,3% que se identificam como pardos, grupo que se tornou, inclusive, o maior do país.
Segundo a classificação do IBGE, o termo “negro” é utilizado como uma categoria abrangente que reúne pessoas autodeclaradas como pretas e pardas, representando, juntas, o grupo racial majoritário no Brasil.
Apesar da definição institucional, o uso do termo “negro” ainda é alvo de debate. Muitos pardos não se reconhecem como negros: uma pesquisa Datafolha de 2024 revelou que 60% dos autodeclarados pardos não se consideram negros, enquanto 96% dos pretos se veem dessa forma. Isso mostra que, embora o termo “negro” tenha uma função política importante, a percepção individual sobre identidade racial varia amplamente, refletindo a complexidade do racismo e das relações raciais no Brasil.
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O poder da linguagem: preto x negro
Após ter seu vídeo viralizado nas redes sociais, o ganês, Nabby Clifford, considerado embaixador do reggae no Brasil, país onde reside desde 1983 fez um vídeo sobre o que ele havia percebido a respeito do uso das palavras negro e preto no vocabulário dos brasileiros. O vídeo, na época, alcançou 6 milhões de visualizações, e mais de 200 mil compartilhamentos. Nele, o cantor constatou que:
“Um país, o Brasil, usa palavras como lista negra, dia negro, magia negra, câmbio negro, vala negra, mercado negro, peste negra, buraco negro, ovelha negra, a fome negra, humor negro, seu passado negro, futuro negro (…). Pega o dicionário de língua portuguesa, está escrito: negro quer dizer infeliz, maldito. Brasileiro quando valoriza alguma coisa não fala negro, ele fala preto.”

Então, de acordo com a interpretação apresentada por Clifford, os brasileiros, quando querem emitir juízos negativos normalmente associam ao uso do termo negro, como nos exemplos citados acima, e quando o juízo é positivo convencionou-se o uso do termo preto, para ele, o brasileiro:
“Ele não come feijão negro, come feijão preto, o carro dele não é carro negro, o carro dele é carro preto, ele não toma café negro, toma café preto, a fome é negra, quando ganha na loteria, ganha uma nota preta. Se branco não é negativo, preto também não é negativo.”
Tal observação, inevitavelmente, esbarra na discussão a respeito do colorismo, que compreende “a maneira pela qual compreendemos a condição negra, inferiorizada e subjugada ao branco; mas também tem como solução a compreensão dessa mesma condição negra, desde que liberta de sua grade racista.” (DEVULSKY, 2021, p. 12).
O que implica dizer que no imaginário social do brasileiro contemporâneo a primeira definição compreende o uso do termo negro e a segunda prevê a condição de enaltecimento do termo preto.
Contudo, quando pensamos no âmbito da linguagem, “é na e pela linguagem que o homem se constitui como sujeito, dado que somente ao produzir um ato de fala, ele constitui-se como eu” (BENVENISTE, 1996, p. 259). Desse modo, se compreende que o homem se torna sujeito no mundo através da linguagem.
Além disso, a língua é mutável, o que significa que ela se adapta as nossas necessidades enquanto falantes. Nesse sentido, observamos que há uma mudança em curso, sobretudo advinda dos movimentos negros que visam ressignificar positivamente ambos os termos, preto e negro.

Diante disso, o debate sobre a qual é a forma correta de se usar os termos preto e negro vai ao encontro ao que propõe a linguagem inclusiva “é aquela que busca comunicar sem excluir ou invisibilizar nenhum grupo”.
Então, o uso correto dos termos preto ou negro é aquele em que ambos são usados com características positivas sem relegar aos negros a negatividade.
No Brasil ainda não temos um consenso exato a respeito do uso dos termos negro e preto, embora haja um forte movimento de ressignificação positiva de “preto” também temos o caso de lideranças negras que reivindicam seu uso, como é o caso da escritora, Conceição Evaristo:
“Sou de uma geração que assistiu esse esvaziamento negativo da palavra negro. A palavra negro era usada sempre no sentido pejorativo. Quando queria atingir uma pessoa negra, o termo era usado. Houve um trabalho, uma autonomeação da palavra negro para esvaziar o sentido negativo dessa palavra. Foi criada uma semântica de positividade. Isso muito por meio da literatura. (…) Conceição usa com mais frequência o termo negro, mas lembra que, influenciada pelas novas gerações, passou também a adotar o termo preto. “Prefiro o termo negro. É mais enfático por esse trabalho de criar um novo sentido, de rebater o sentido negativo da palavra e se afirmar como pessoa negra em todos os sentidos”, diz. (JORNAL ESTADO DE MINAS, 2020).
E para você, essa reflexão fez sentido? Entendeu mais sobre o tema agora? Deixe sua opinião nos comentários!
Referências
- ARAÚJO, Carla. É Preto ou Negro? Uma releitura e reflexão sobre esta classificação. Instituto de Identidades do Brasil.
- ALEXANDRE, Maxwell – Pardo é Papel.
- BRASIL, CNN. Racismo é mais buscado do que outros temas sociais. (youtube)
- CLIFFORD, Nabby. Negro ou Preto? É preto. (youtube)
- DEVULSKY, Alessandra. Colorismo. Coleção Feminismos Plurais. São Paulo: Jandaíra, 2021.
- HYPENESS. Ganês que vive há 30 anos no Brasil explica por que se considera ‘preto’ e não ‘negro’
- Instituto Socioambiental Povos Indígenas no Brasil: Língua.
- Negro ou preto? Lideranças negras refletem sobre o uso dos termos ao longo da história
- OLIVEIRA, Gabi. Negro ou preto? | DePretas. (youtube)
- PINTO, R. Tania. “É preto ou negro?” – É Letramento racial.
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- RODRIGUES, Dall’Igna, Aryon. Línguas brasileiras: para o conhecimento das línguas indígenas. Edições Loyola, São Paulo, 1986.
- SACRAMENTO, Marcos. “Preto” ou “negro”? O vídeo viral que levantou um debate semântico.
- Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial – A classificação por cor ou raça no Brasil
- UOL ECOA. Preto, pardo, negro: qual o termo correto? Existe diferença? Publicado em 21 out. 2023. Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2023/10/21/preto-pardo-negro-qual-o-termo-correto-existe-diferenca.htm. Acesso em: 2 jul. 2025.
G1. Negro, pardo ou preto? Quando usar cada termo: entenda a definição e os debates. Publicado em 4 jun. 2025. Disponível em: https://g1.globo.com/pop-arte/diversidade/noticia/2025/06/04/negro-pardo-ou-preto-quando-usar-cada-termo-entenda-a-definicao-e-os-debates.ghtml. Acesso em: 2 jul. 2025.
20 comentários em “Preto ou negro: qual é a forma correta?”
Eu discordo de dizer Côr: Branca, pois branco é a cor de fundo desse local de comentário e dizer cor preta, pois preto é a cor do traçado de linha do local deste comentário, o mais certo seria dizer:
Cor da pele: Clara ou escura, simplesmente isso. Porque ninguém é branco ou preto.
As palavras tem sentido em contexto, e não absoluto. Tem que considerar a aplicação histórica, social, regional… . Óbviamente ninguém é branco por ter a cor do papel ou preto por ter a cor da tinta… Tem toda um contexto diferente ao se tratar de relações raciais.
Está correto?
Minha cor é Preta, minha raça é Negra.
Correto?
Sou filha de pai Negro avós Pretos e tenho a cor parda e não tenho problema nenhum com isso. O politicamente correto está gerando exclusão ao invés de inclusão.
Façam uma pesquisa séria e criteriosa. Ouçam o que meu pai e meus primos dizem: EU SOU NEGRO, RAÇA NEGRA, ORGULHO DE SER NEGRO. Eu me identifico também com estas falas e, já tive uma amiga muito querida que parou de falar comigo porque eu “não usei o termo correto”.
A mudança está incluindo ou excluindo? Sequer há um consenso entre usar preto e negro.
Sua cor é preta, sua raça é humana.
Acredito que quando não se perguntar mais sobre cor de pele, e isso for insignificante,pq tudo seria igual, direitos e etc, acabaria toda essa questão,se somos todos iguais pq classificação de cor de pele?
Pra mim é aí q o racismo começa.
Sua cor é preta, sua etnia é negra e sua raça é humana mb, não é tão difícil, raça negra é banda de música.
Preto, negro, branco, amarelo, vermelho, europeu… nada disto importa… o que importa é que as pessoas devem se respeitar. Em espanhol, preto é simplesmente negro. O Brasil colônia, por 40 anos, entre 1580 e 1640, foi governado pela União Ibérica (Portugal e Espanha) e certamente recebeu a influência da língua espanhola. A escravidão foi aceita como normal desde os tempos bíblicos – José, hebreu, foi vendido pelos irmãos como escravo para os egípcios. As tribos africanas faziam guerra e escravizavam os inimigos, que vendiam para os traficantes de escravos, que foram trazidos para as Américas. Os hebreus foram escravizados pelos mesopotâmios. No entanto, hoje nos repugna esta situação. Somos uma raça única – a raça humana e devemos ter sentimentos humanos/humanitários para com cada semelhante. As crianças não discriminam, por qual razão devemos discriminar? A meu ver, o feriado da Consciência Negra é discriminatório, pois consciência não tem cor.
Certíssima. Temos que ter cuidado com exageros. Negro é um nome lindo. Preto é bonito também, não tão lindo. Só acho feio o “pardo”. Por que não moreno ou morena? São lindos.
Raças são: caucasiano, oriental, negro, índio, etc. Humano está mais ligado à espécie.
concordo
Prefiro usar preto por me parecer mais natural quando penso nas cores. Branco, amarelo, preto e vermelho. Claro, escuro. Alvo, negro.
Em se tratando de coisas, objetos a expressão preto acho correto, mas pessoas são negras, que vem de raça. Ninguém é de cor branca como uma folha xamex e nem preta . Acho essa classificação do IBGE meio estranha.
Pois ontem encontrei um negro num tom de pele tão escuro que parecia um azulão.
Não quero ler tudo isso só quero a resposta.
Sou um homem de pele clara, branco para o IBGE. Li o artigo à espera de algo mais definitivo para a pergunta inicial, justamente para não incorrer em algum equívoco e ofender alguém sem a intenção. Obrigado pelos esclarecimentos. Percebo a necessidade de maior sensibilidade ao usar os termos “preto” e “negro”, e que mesmo a comunidade negra (usando aqui como referência Conceição Evaristo) está caminhando para um uso positivo de ambos os termos. Anseio o dia em que a cor de pele não seja um problema para a humanidade, apenas reflexo de sua diversidade.
Minhas palavras são as suas. Também branca, adoro a palavra “negro, negra”. Para definição da cor, também fico com preto ou preta.
Disse tudo Wladimir,a cor deveria ser um reflexo da diversidade.
Eu me anuncio negra,as pessoas vem e diz ,você não é negra.Enfim eu não acho desrrespeitoso ser negra e sinceramente antes me chamavam de moreninha,detesto essa nominação.
Na única pesquisa que o IBGE fez em que a população podia escolher a cor, ou seja a cor era em aberto, que foi a Pesquisa Mensal de Emprego, em 1998, a classificação ” branca” foi escolhida por 54% da população urbana brasileira e a “morena” por 24% , seguida por 10% de “parda”. “Preta” e “negra” têm 4% e negra 3%. Fica claro que os termos adotados por nós brasileiros devem ser “branco” e “moreno” e não pardos, pretos e negros.
As palavras tem sentido em contexto, e não absoluto. Tem que considerar a aplicação histórica, social, regional… . Óbviamente ninguém é branco por ter a cor do papel ou preto por ter a cor da tinta… Tem toda um contexto diferente ao se tratar de relações raciais.