Você se lembra da frase de efeito “Vote no Tiririca, pior do que tá não fica”? Essa frase foi utilizada em 2010, na propaganda eleitoral para deputado federal do humorista Francisco Everardo Tiririca Oliveira Silva (PL), conhecido como Tiririca.
Na época Tiririca foi o deputado federal mais votado do país recebendo mais de 1,3 milhão de votos. Esse é um exemplo de puxador de voto, que além de se eleger consegue levar outros candidatos para ocupar as cadeiras no congresso.
Para você entender a importância dos puxadores de votos, a Politize! preparou este texto para te explicar melhor. Vem com a gente!
O que é um puxador de voto?
O puxador de votos normalmente é um nome conhecido pela maioria da população brasileira, por ter muita popularidade ele é escolhido pelo partido para que consiga muitos votos. Dessa forma, além de se eleger, o candidato popular, sozinho, consegue alcançar a “meta de votos” ajudando outros candidatos do partido a conseguirem as vagas na Câmara, é daí que vem o termo “puxar”.
Anteriormente, o puxador de votos também poderia ajudar os candidatos da coligação a ingressar na Câmara. Coligação é a união de dois ou mais partidos que faz a apresentação conjunta de candidatos a uma determinada eleição. Desde 2017, as coligações partidárias tiveram fim nas eleições proporcionais, que elegem deputados federais, estaduais, distritais e vereadores.
Se por um lado tem o puxador de votos, que consegue levar para a Câmara os candidatos bem posicionados na lista do partido, por outro lado tem os candidatos que não conseguem se eleger, mas consegue somar votos para o partido. Esses candidatos são chamados de “escadinha” porque servem como apoio para que mais candidatos do seu partido ocupem a Câmara.
Na prática, o puxador de votos é bem cobiçado pelos partidos políticos, ele consegue números de votos acima da quantidade necessária para se eleger e os votos que sobram são transferidos para outros candidatos. Por conta disso, os partidos tentam filiar “celebridades” conhecidas pelo público para que possam concorrer nas eleições. Ainda neste texto, iremos conhecer alguns puxadores de votos que garantiram mandatos a outros candidatos que não seriam eleitos somente pelos votos recebidos.
Primeiro, vamos entender como é formada a Câmara de Deputados
A Câmara dos Deputados é formada por 513 deputados federais, eleitos pela população a cada quatro anos. As 513 cadeiras são divididas entre os 26 estados e Distrito Federal com base na proporção populacional de cada estado, de acordo com os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é o responsável por distribuir de forma proporcional as cadeiras para cada partido político. Essa distribuição ocorre em cada eleição seguindo a regra de mínimo de 8 e máximo de 70 representantes por unidade federativa.
Como funciona a eleição de deputados no Brasil?
O sistema eleitoral do Brasil, para a eleição de deputados federais, estaduais e vereadores, adota o sistema proporcional, que são os votos dos eleitores que vão para os candidatos que votaram e também vão para os partidos políticos, ou seja, quando você escolhe um candidato para votar, também está dando o seu voto para o partido do candidato.
Para saber se um candidato foi eleito, o sistema proporcional envolve a matemática do Quociente Eleitoral e o Quociente Partidário. Precisamos lembrar que o sistema proporcional não funciona para o que ocorre nas disputas para presidente da República, governadores e senadores, que usam o sistema majoritário, no qual vence quem obtém mais votos.
Saiba mais: Entenda tudo sobre a distribuição de votos por partidos
A lógica do quociente eleitoral funciona quando cada partido elege um número de candidatos proporcional ao número total de votos que o partido recebeu em todos os seus candidatos a deputados. Por exemplo: se um estado tem 10 vagas na Câmara dos Deputados e 100 mil pessoas votaram, cada cadeira vale 10 mil votos.
Nesse sentido, se um partido conseguiu 26 mil votos, ele tem direito a 2 vagas na cadeira da Câmara de Deputados (no exemplo seriam 10 mil votos por vaga). Esse número de vagas que cada partido tem direito é chamado de Quociente Partidário.
Vale destacar que, para o cálculo de quociente, são considerados somente os votos válidos, que são os votos dados em candidatos e em partidos, os votos em branco e nulos não influenciam no resultado da eleição.
Então, é por isso que nas eleições você vê muitos candidatos para cada partido porque mesmo que tenha aquele candidato que conseguiu poucos votos e não se elegeu, os votos que ele conseguiu vão se somar aos votos de todos os outros candidatos do mesmo partido. Essa soma de votos ajuda o partido a ter mais chance de colocar os seus candidatos na Câmara dos Deputados.
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Agora que você já compreendeu como funciona o sistema proporcional de votos para que um deputado ou vereador ocupe a Câmara, vamos ver alguns exemplos de puxadores de votos que já tivemos no Brasil. Vamos lá!
Exemplos de puxadores de votos
Considerado uma das personalidades da direita brasileira, ele ficou conhecido por seu famoso bordão “Meu nome é Enéas”. Em 1989, fundou o Partido de Reedificação da Ordem Nacional (Prona), mas um pouco antes do falecimento de Enéas, o partido fundiu-se ao Partido Liberal, transformando-se no Partido da República (PR).
Enéas foi candidato à presidência da República, mas perdeu todas as vezes. Em 2002, candidatou-se a deputado federal sendo eleito com 1,5 milhão de votos, o maior número da história até 2018, quando o recorde passou a ser de Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
Veja também nosso vídeo sobre a história e as ideias de Enéas Carneiro!
O filho do ex-presidente da República Jair Bolsonaro, tornou-se o deputado federal mais votado nas últimas eleições. Em 2018, Eduardo Bolsonaro teve mais de 1,8 milhão de votos, recorde que até então pertencia a Enéas Carneiro. O número expressivo de votos fez com que ele levasse sete candidatos à Câmara.
O comediante Francisco Everardo Tiririca Oliveira Silva foi o deputado federal mais votado do país, com 1,3 milhão de votos em 2010. O número de votos de Tiririca beneficiou os candidatos de sua coligação, formada por PR, PSB, PT, PR, PC do B, PT do B. Já em 2014, para o seu segundo mandato, ele recebeu mais de um milhão de votos que elegeram também mais dois candidatos do PR.
Em 2010, Antônio Carlos Magalhães Neto foi o deputado federal mais votado no estado da Bahia, com ajuda dos votos que recebeu, o partido DEM conseguiu alavancar seis deputados para Câmara. ACM Neto vem de família de políticos, seu avô foi ex-governador, ex-ministro e ex-senador Antônio Carlos Magalhães.
Celso Russomanno (Republicanos – SP)
Celso Russomanno, na época, pertencia ao PRB paulista e foi o deputado mais votado no Brasil, com 1,5 milhão de votos em 2014. Ele ajudou na eleição de mais quatro parlamentares. Um dos beneficiados por esse resultado foi Fausto Pinato, que recebeu apenas 22 mil votos e mesmo assim garantiu uma vaga na Câmara.
Em 2018, foi a mulher mais votada para a Câmara dos Deputados, com 1 milhão de votos. Ela era uma das principais aliadas de Jair Bolsonaro, mas rompeu em 2019. Em 2022, Joice não conseguiu se reeleger.
E aí, conseguiu entender o que é um puxador de voto? Mande este texto para os seus amigos para que mais pessoas possam saber sobre o tema.
Referências:
- Câmara – Saiba mais sobre a vida de Enéas
- Câmara – Deputados são eleitos pelo sistema proporcional; veja como funciona
- G1 – ‘Eleição de A a Z’: entenda a influência de candidatos ‘puxadores de voto’ e ‘escadinha’
- Politize! – Qual a função do IBGE nas políticas brasileiras?
- Politize! – Como funciona a Câmara dos Deputados?
- Politize! – Para que servem os partidos políticos?
- Politize! – O que é voto?
- TRE – Cálculo de vagas (deputados e vereadores)