As queimadas no Brasil refletem uma complexa interação entre interesses econômicos, políticas públicas e a necessidade urgente de conservação ambiental, tornando-se um grande desafio para o país. Desde os tempos coloniais, o uso do fogo para “limpar” terras tornou-se uma prática comum.
Durante o século XX, houve a expansão das fronteiras agrícolas para o interior do país, processo impulsionado por políticas desenvolvimentistas. A migração intensa da agropecuária para o centro-oeste e o norte do Brasil resultou no aumento das queimadas, do desmatamento e da degradação ambiental nessas regiões.
Se você deseja compreender a situação das queimadas no Brasil e seus impactos socioambientais, continue a leitura!
Por que ocorrem queimadas no Brasil?
As secas prolongadas, as temperaturas elevadas, os ventos fortes e a descarga elétrica dos raios tornam o ambiente mais propício a incêndios. Na época de estiagem das chuvas, especialmente em regiões como a Amazônia, o Cerrado e o Pantanal, a vegetação torna-se extremamente seca, facilitando a propagação do fogo.
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O aumento das temperaturas globais combinado com mudanças nos padrões de chuva têm intensificado o período de seca no Brasil. Essas condições mais favoráveis para a ocorrência de incêndios florestais, torna-os mais frequentes e intensos.
No entanto, em entrevista à Agência Brasil a doutora em geociências Renata Libonati, coordenadora do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa) da Universidade Federal do Rio de Janeiro informa que a maioria dos incêndios é iniciada por ações humanas. Nos centros urbanos, o fogo é frequentemente utilizado para a queima inadequada de resíduos sólidos (lixo), mas também para matar a vegetação nativa de terrenos que posteriormente serão utilizados tanto para a construção civil quanto para atividades agrícolas.
As atividades agropecuárias são a principal responsável pelas queimadas na Amazônia brasileira, como apontam estudos publicados desde 2009. O uso do fogo é uma prática comum para limpar áreas de vegetação nativa, facilitando a preparação do solo para o plantio ou a criação de pastagens.
Essa técnica é barata, mas causa grande destruição ambiental. O uso descontrolado e sem planejamento ocasiona incêndios fora de controle. O fogo acaba atingindo áreas vizinhas, inclusive ecossistemas preservados e protegidos pela legislação.
Soma-se a tudo isso, a contribuição do desmatamento enquanto agravante das mudanças climáticas, retroalimentando um ciclo de desequilíbrio.
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Qual é a situação atual das queimadas no Brasil?
Em meio às queimadas intensas, o Brasil enfrenta grandes desafios no combate aos incêndios, que atingem diversas regiões do país. Dados do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam que, até o dia 15 de setembro de 2024, o país tinha registrado 184.363 focos de incêndio. Esse número representa um aumento de 104% em relação a 2023.
De acordo com o Inpe, as queimadas no Brasil chegaram a representar 71,9% de todas as queimadas registradas na América do Sul. Os estados que apresentam maior número de focos de queimada são Mato Grosso, Pará, Amazonas e Tocantins.
Em Goiás, as chamas consumiram 10 mil hectares do Parque Nacional Chapada dos Veadeiros. No estado de São Paulo, durante apenas 2 dias do mês de agosto, foram registrados 2.316 focos de calor. Isso equivale a sete vezes o valor registrado durante todo o mês de agosto no ano anterior.
Brigadistas
Os brigadistas brasileiros são capacitados para combater as chamas, lidar com animais peçonhentos e atender primeiros socorros. Esses profissionais atuam com equipamentos de proteção resistentes a altas temperaturas e veículos que facilitam o acesso a locais difíceis.
Apesar da proteção, os brigadistas estão expostos à inalação de fumaça tóxica, acidentes com galhos e árvores, queimadura, exaustão térmica e desidratação
Algumas brigadas são convocadas somente em períodos críticos de incêndios e outras, o ano inteiro. Durante o período de chuvas, quando a incidência das queimadas é menor, atuam com atividades de educação ambiental, plantio e manutenção de mudas em áreas de recuperação.
Segundo o “Boletim#10“, publicado pelo governo federal no dia 3 de setembro de 2024, o Ibama e o ICMBio contam com aproximadamente 1.400 brigadistas na Amazônia Legal. Para o Pantanal, foram deslocadas 16 aeronaves, 51 embarcações e 907 profissionais para auxiliar no combate aos incêndios — entre brigadistas do Ibama, integrantes das Forças Armadas, da Força Nacional e da Polícia Federal. No total, o país dispõe de 3.299 brigadistas federais. Embora seja o maior número já registrado, ainda parece insuficiente para conter a atual crise das queimas no Brasil.
Os brigadistas voluntários são cidadãos que se dispõem a combater incêndios sem remuneração. Eles recebem treinamento básico de combate a incêndios e primeiros socorros e atuam em suas comunidades ou em regiões específicas que necessitam de suporte durante emergências.
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Quais são os impactos das queimadas?
Os prejuízos ambientais e sociais provocados pelos incêndios florestais são inúmeros. O impacto mais evidente afeta a saúde pública. Já está comprovada a relação entre as queimadas e o aumento de doenças respiratórias decorrentes, especialmente, da fuligem e fumaça. Além disso, o fogo provoca outros danos sociais, ao diminuir a visibilidade atmosférica, provocando aumento de acidentes em estradas e diversos prejuízos materiais à população.
Em termos ambientais, o fogo também provoca grandes ameaças. As queimadas ocasionam grande perda de biodiversidade, erosões, diminuição da fertilidade dos solos, aumento de emissão de gases de efeito estufa e alterações no ciclo hidrológico. É importante lembrar que todos os impactos ambientais também provocam, inevitavelmente, prejuízos à qualidade de vida dos seres humanos.
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O que fazer?
Diante do aumento de queimadas provocadas intencionalmente pela ação humana, faz-se fundamental o fortalecimento da gestão ambiental dos governos estaduais, pois são os principais responsáveis pela fiscalização e pelo combate ao fogo em áreas privadas. Além disso, o desenvolvimento políticas de valorização e fomento à educação ambiental é imprescindível enquanto ação preventiva e conscientizadora.
Sabia que é possível evitar incêndios em épocas de seca a partir de atitudes simples? Seguindo algumas orientações, todos os cidadãos podem contribuir para a prevenção e o combate às queimadas:
- não jogar lixo ou entulho às margens da rodovia;
- não lançar bitucas de cigarro pela janela;
- evitar usar o fogo para limpar terrenos ou queimar o lixo;
- evitar fogueiras em época de seca;
- sempre que avistar um foco de incêndio, avisar imediatamente os bombeiros por meio do número 193.
Sistema ALARMES
A plataforma foi desenvolvida pelo Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (LASA/UFRJ), em parceria com o IDL/ULisboa, para servir de alerta rápido e ágil sobre o avanço da área afetada pelo fogo, de forma a apoiar órgãos ambientais nas ações de combate aos incêndios florestais. O sistema combina imagens de satélite, focos de calor e inteligência artificial para identificar diariamente a localização e extensão das áreas queimadas.
MapBiomas
O MapBiomas é uma iniciativa do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima (SEEG/OC) e é produzido por uma rede colaborativa colaborativa que envolve diversas instituições de pesquisa, ONGs e empresas de tecnologia para mapear e monitorar as transformações no uso e cobertura da terra no Brasil.
Ele utiliza imagens de satélite e ferramentas de análise geoespacial para criar mapas e séries temporais que mostram como o território brasileiro tem mudado ao longo do tempo, inclusive as “cicatrizes de fogo” com dados desde 1985.
A Coleção 3 do MapBiomas Fogo apresenta uma análise abrangente sobre a área queimada no Brasil, somando um total de 199 milhões hectares queimados entre 1985 e 2023. Segundo a Rádio Agência, o Brasil está prestes a ultrapassar 160 mil focos de incêndio em 2024, número 104% maior em comparação ao mesmo período de 2023.
Você já conhecia alguma dessas ferramentas que auxiliam o monitoramento dos focos de calor ou conhece outras plataformas que monitoram o meio ambiente? Compartilhe nos comentários!
Referências:
- Agência Brasil – Brasil concentra 71,9% das queimadas na América do Sul nas últimas 48h
- AMDA – Brigadas de Prevenção e Combate a Incêndios Florestais
- Aos Fatos – Quais são as causas das queimadas que afetam o país e como se proteger dos efeitos
- BBC News Brasil – Queimadas: o drama dos brigadistas na mais grave crise de incêndios em 14 anos
- ClimaInfo – Brasil em chamas: país tem cerca de 60% de seu território coberto por fumaça das queimadas
- Mundo Educação – Queimadas: causas, tipos, consequências, soluções
- Plataforma ALARMES – Lasa/UFRJ
- Projeto MapBiomas – Mapeamento das áreas queimadas no Brasil entre 1985 a 2023 – Coleção 3, acessado em 07 out. 2024 através do link: Histórico do fogo no Brasil
- Quero Bolsa – Queimadas no Brasil: quem são os profissionais que atuam no combate aos incêndios?
- Radioagência Nacional – Brasil registra aumento de 104% nos focos de queimadas em 2024
- Radioagência Nacional – Monitoramento mostra que 99% dos incêndios são por ação humana