Neste ano de 2024, em 25 de Abril, Portugal celebrou 50 anos de Democracia, marcando meio século desde que a ditadura de Salazar (1926 – 1974) foi substituída pela liberdade. A data é lembrada como a “Revolução dos Cravos”, em referência à flor que se tornou símbolo da ocasião, e é comemorada por todo o país para relembrar o passado e garantir que os erros não sejam repetidos.
No entanto, um spoiler, Salazar, o chefe de governo de Portugal e responsável pela Ditadura, não viu a Revolução do dia 25 de Abril. Ele caiu da cadeira, literalmente. Em 3 de agosto de 1968, aos 79 anos, Salazar sofreu uma queda que gerou lesões cerebrais e o afastou do comando no país.
Salazarismo e a organização da economia
António de Oliveira Salazar começou na vida política como um ministro das Finanças (1928 – 1932). De família humilde e de agricultores, cursou Direito na Universidade de Coimbra, e fez doutorado em Ciências Econômicas.
Foi professor assistente de Economia Política e Finanças. Entrou na política quando foi eleito deputado, mas o mandato durou pouco. Renunciou em face à turbulência que o Parlamento enfrentava.
Em 28 de maio de 1926, o general Gomes da Costa deu o golpe militar e encerrou o sistema parlamentar, implantado em 5 de outubro de 1910. Em 1932 Salazar foi convidado a ser presidente do Conselho de Ministros, para colocar ordem na economia do país, pós-guerra (2.ª Guerra Mundial, 1939 – 1945).
Ele alcançou bons resultados e tornou-se chefe de governo em 1933 (atualmente o então cargo é chamado primeiro-ministro), fundou então o regime do Estado Novo, de partido único, chamado União Nacional.
Dessa forma, partidos da direita e da esquerda foram encerrados. A permanência de Salazar deu-se por meio de medidas de fortalecimento da Polícia Internacional de Defesa do Estado (Pide), e quem não estava satisfeito, procurava o exílio em outros países.
A Politize! agora, conta como se deu o regime e como uma simples flor de cravo permanece 50 anos convocando os portugueses as ruas para celebrar a democracia e a liberdade.
As duas quedas: da cadeira e do regime
Como já escrevemos, Salazar não viu a Revolução de 25 de Abril. E essa queda, para autores que pesquisam sobre o período como José Pedro Castanheira, António Caeiro, Natal Vaz, em “A Queda de Salazar: o princípio do fim da ditadura” o acidente do chefe de governo, somou a insatisfação da população com a economia portuguesa.
A essa equação, insere as guerras coloniais na Angola (1961), Guiné (1963) e Moçambique (1964), o que resultou na abertura para o caminho de uma nova forma de governo: a democracia.
A queda, primeiro, de Salazar
Em 3 de agosto de 1968, aos 79 anos, Salazar caiu de uma cadeira e sofreu lesões cerebrais que o afastaram do comando no país. Para não demonstrar fraqueza, a história conta que Salazar recusou ser atendido por um médico.
Como o país já passava por instabilidades e o descontentamento da população, principalmente pelos homens jovens que precisavam ir para as guerras coloniais, a queda seria algo trágico para a manutenção do poder. Mas, incapaz de governar, em 1968, o Presidente Américo Tomás nomeou Marcelo Caetano o novo chefe do governo.
Salazar, internado no hospital, achava que ainda governava. Conforme o noticiário português, Diário de Notícias, os ministros iam ao leito hospital e encenavam reuniões políticas para o acamado. Salazar morreu no dia 27 de julho de 1970.
Guerras para a manutenção do poder
Marcelo Caetano, agora no poder, acreditava que a manutenção das colônias africanas era vital para a sobrevivência do regime de ditadura. Angola, Guiné e Moçambique eram os países que viviam sob o domínio de Portugal e buscavam sua independência.
Para ele, perder esses territórios comprometeria não só o prestígio de Portugal como também sua posição no cenário internacional.
Para garantir a continuidade do regime e tentar conter a crescente insatisfação nas Forças Armadas, Caetano promulgou decretos como o 353/73 e o 409/73, que aceleravam a promoção de oficiais menos experientes.
A medida visava suprir os espaços nas tropas e dar reforços para as frentes de batalha. Porém, essas medidas geraram um efeito oposto. O de radicalização das oposições e da contestação social ao Estado Novo.
Muitos dos oficiais mais antigos e experientes sentiram-se desvalorizados e traídos, pois viam seus anos de serviço e dedicação sendo ignorados em favor de oficiais mais novos, promovidos rapidamente.
Em resposta legislação que em setembro de 1973, se constitui o Movimento dos Capitães/Movimento das Forças Armadas.
A Revolução dos Cravos veio pelos… militares e pela arte
Quem contribuiu para o fim da ditadura foram os militares. Era importante para Salazar, politicamente, a manutenção das guerras colônias nos países da África, como dito anteriormente.
Os jovens oficiais do Movimento das Forças Armadas (MFA), cansados dos problemas enfrentados durante dois anos, em que estiveram nas Guerras e viam que a situação era diferente do que a propaganda publicitária explicitava, decidiram se organizar e alterar o curso da história.
Em uma época sem redes sociais online e grupos de WhatsApp, o MFA, liderado por Otelo Nuno Romão Saraiva de Carvalho, coronel de artilharia, utilizou a arte, expressadas nas canções, para comunicar aos outros que o golpe contra o Estado Novo de Salazar seria continuado, então, no dia marcado, dia 25 de Abril de 1974, todos tanques de guerra, disponíveis, deveriam ir para às ruas.
A ideia era fazer os militares se reunirem na Avenida Liberdade, principal endereço de Lisboa, para ocupar os prédios do governo. Mas, para dar certo, o governo tinha que ser pego de surpresa.
Em 40 dias, Otelo arquitetou o plano as escondidas, e distribuiu as unidades. Todos foram convocados, pois, se fosse apenas uma dezena de tanques, por exemplo, o movimento não teria a força necessária.
A comunicação foi feita por emissoras de rádio, duas canções dariam o sinal que o dia 25 poderia entrar para a história, eram elas: a romântica, “E depois do adeus”, tocada às 23h, do dia 24 de Abril e “Grândola Vila Morena”, a 00h20, do dia 25, o sinal tão esperado.
A segunda canção foi analisada pelos sensores da Polícia Internacional e Defesa do Estado (Pide). No entanto, eles não viram nada de “revolucionário” nas letras.
Papel dos Capitães e Salgueiro Maia
Um dos momentos centrais da revolta foi a organização do Movimento das Forças Armadas (MFA), composto por jovens oficiais insatisfeitos com o que era divulgado pela propaganda do Governo.
Entre esses jovens, o capitão Salgueiro Maia foi destaque. Delegado de Cavalaria, desempenhou um papel fundamental na articulação e execução do golpe, sendo um dos rostos mais lembrados. A sua missão no dia 25 de abril de 1974 foi essencial para que a revolução acontecesse.
Salgueiro Maia foi o responsável em comandar a coluna militar, com 240 homens da Escola Prática de Cavalaria de Santarém (EPC), preparar material e viaturas e organizar os quadros que iriam marchar rumo à Lisboa.
Na manhã de 25 de Abril, no Terreiro do Paço e na avenida da Ribeira das Naus, Salgueiro Maia ultrapassou as ameaças das forças do governo comandadas pelo governo, evitou o confronto direto, causador de baixas que ensanguentariam a instauração do regime democrático.
Revolução dos Cravos: Cravo como uma oferta
A quinta-feira do dia 25 de abril de 1974, depois de 48 anos de ditadura, começou diferente para os portugueses. Como o caso da senhora Celeste Caeiro, que na época tinha 40 anos e era garçonete em um restaurante próximo à Avenida da Liberdade
O estabelecimento comemorava o seu primeiro aniversário e, para isso, o dono tinha comprado cravos para oferecer aos clientes. Mas, com a revolução dos militares em curso, Celeste não trabalhou no dia.
Ao chegar no estabelecimento, o patrão disse para retornar, mas que levasse os cravos para não murcharem. No caminho, a dona Celeste desceu no Rossio e caminhou até ao Chiado, onde morava.
Ao cruzar com um grupo de soldados em cima de um tanque, um deles pediu um cigarro, mas Celeste disse não ter, e a única coisa que lhe poderia oferecer era uma das flores do ramo que levava nos braços.
O soldado aceitou a oferta e colocou o cravo no cano da sua espingarda. Os colegas replicaram o gesto e, horas mais tarde, as floristas da Baixa, bairro da Capital portuguesa, empenhavam-se na tarefa de distribuir cravos por todos os soldados.
Revolução dos Cravos dura 50 anos
50 anos depois, os Cravos, foram replicados em arte por todas as ruas da Grande Lisboa, anualmente, no dia 25 de abril, eles são distribuídos nas ruas, empresas, e suas vendas aumentam.
Nas salas de aulas, eles são pintados, colocados como adereços nos cabelos, nas roupas, nas bolsas. Para os portugueses, simboliza a liberdade e a democracia. Lembra que a ditadura, mesmo ficando no passado, precisa ser contada para que não se repita.
O gesto da senhora Celeste Caeiro ficou para história. No dia 25 de Abril, não daquele 1974, mas 50 anos depois, em 2024, com 91 anos, ela foi às ruas, e desfilou pela Avenida da Liberdade. Em entrevista para a TV portuguesa, SIC, recordou o dia e pontuou: “Vou ficar na história”.
Você sabia da história da Revolução do 25 de Abril? Conta nos comentários o que mais chamou a sua atenção!
Referências:
- AGÊNCIA BRASIL. Ditadura militar ou civil-militar: saiba o que está por trás dos nomes.
- LOBATO, Gisele. Avenida Liberdade. Rádio Novelo, S.l.: s.n.], 25 de abril de 2024.
- PORTUGAL. Ministério da Defesa Nacional. Aos líderes políticos.
- RFM. Quem foi Celeste Caeiro, a mulher que deu cravos ao 25 de Abril.
- RTP ENSINA. Salazar.
- SIC. “Vou ficar na história emocionada”: Celeste Caeiro recorda o momento em que ofereceu cravos aos militares de Abril.
- 50 ANOS 25 DE ABRIL. MFA e o 25 de Abril.