Com a crise do coronavírus impactando severamente diversos países, os noticiários econômicos citaram com frequência o termo Risco-País. Você sabe o que ele significa?
Neste artigo, nós explicamos essa definição, mostramos como esse indicador é mensurado e também como ele impacta os países.
O que é risco-país?
O Risco-País pode ser definido como um indicador do grau de instabilidade econômica em que o país se encontra. Desse modo, acaba representando o perigo que o investidor estrangeiro está correndo caso deseje aportar recursos financeiros em algum país.
Os fatores que podem ser entendidos como riscos para os investidores estrangeiros estão atrelados a possibilidade de insolvência de uma nação, ou seja, a probabilidade do país em deixar de pagar suas dívidas. Diversos fatores são analisados para se chegar ao indicador, sendo que os mais importantes são os econômicos, especialmente a situação fiscal e a capacidade produtiva do país. Entretanto, aspectos sociais e políticos também entram no cálculo.
Dando exemplos de fatores econômicos, podemos citar o avanço das dívidas públicas em diversos países, por causa da necessidade ao enfretamento do covid-19. Países que já não estavam em situações confortáveis antes da pandemia, como são os casos de Brasil, Argentina e México, acabaram vendo seus riscos de inadimplência saltarem ainda mais.
Em relação aos aspectos sociais, é possível citar manifestações em grande escala, como aconteceram na Primavera Árabe, por exemplo. Essas manifestações promovem diversas incertezas ao país, afastando então os investidores e aumentando a instabilidade econômica do país.
Por fim, na questão política podemos citar a instabilidade gerada pela abertura de um processo de impeachment, por exemplo, pois esse quadro passa ao investidor estrangeiro um cenário de enorme incerteza. Podemos entender essa incerteza como um risco, afinal, se não é possível saber quem será o governante no futuro – até mesmo se o processo de impeachment será aprovado ou não – por consequência, não será possível saber quais políticas públicas serão implementadas no país. Ou seja, não será possível fazer uma análise eficiente de risco-retorno pelo lado do investidor, o que irá ocasionar um afastamento de recursos internacionais.
Como se mede o risco-país?
O Risco-País pode ser mensurado usando diversas metodologias. A seguir, vamos listar as 3 mais importantes:
EMBI+
O EMBI+, sigla para Emerging Markets Bond Index Plus (Índice de Títulos da Dívida de Mercados Emergentes), é calculado pelo J.P. Morgan Chase, um dos maiores bancos americanos, e é o indicador mais comumente utilizado para analisar o risco-país por um investidor que tem interesse em realocar recursos para países emergentes. Dentre as nações que fazem parte deste índice estão o Brasil, Argentina, Rússia, México, Turquia e África do Sul.
Para fazer o cálculo desse indicador, a metodologia adotada foi de comparar os títulos das dívidas do país analisado com os títulos do tesouro americano. Logo, a ideia é de comparar a relação de risco-retorno que o país emergente tem ao se comparar com os Estados Unidos.
A unidade de medida desse indicador é por pontos-base, sendo que cada 100 pontos-base equivalem a 1% de juros. Portanto, ao ver que um país tem um EMBI+ de 500 pontos-base, ele está querendo dizer que o juros dos títulos públicos desse país estão pagando 5% a mais do que os títulos emitidos pelos americanos.
O professor do Insper, Fernando Ribeiro, buscou explicar esse indicador da seguinte forma:
“O risco país mede o spread entre a taxa do bônus soberano público com um dado período de vencimento em relação a um título americano. O spread mostra o quanto você está disposto a bancar para ficar com o risco de levar um default (calote) em cima de um papel”
Vamos criar uma situação hipotética para que o conceito fique mais claro. Imagine que o título da dívida pública brasileira, que é o Tesouro Direto, está pagando 2%, enquanto que o título americano também está pagando os mesmos 2%, em qual país você acha que a relação de risco-retorno seria mais favorável para o investidor? Acredito que a maioria deve ter chegado a mesma resposta: Estados Unidos!
Mas por qual motivo? Simples. Como o retorno é o mesmo, você avalia apenas o risco, e ao se analisar histórico e saúde financeira dos países, assim como fatores sociais e políticos, é perceptível que os americanos tem uma condição muito melhor que a nossa, logo, o risco de se investir no Brasil seria muito maior, assim o nosso risco-país seria alto.
A situação do risco-país brasileiro, sob a ótica do EMBI+, segue melhorando, como mostra o gráfico abaixo. Em 2021, no final de março, o indicador brasileira estava com 294 pontos. Antes da pandemia chegar ao Brasil, o EMBI+ estava marcando 247 pontos, todavia, no final do mês de Março de 2020, quando os casos de coronavírus começaram a aparecer, o risco-país brasileiro deu um salto para 476 pontos.
O principal motivo desse aumento repentino no indicador brasileiro foi a enorme migração de capitais estrangeiros de países emergentes para países desenvolvidos, pelo fato deles terem moedas mais resilientes em momentos de crises, e por isso apresentarem menos riscos de colapsos financeiros.
CDS
O CDS, sigla para Credit Default Swap (Permuta de Inadimplência de Crédito), funciona como um seguro para o investidor contra possíveis calotes da dívida pública. Logo, como qualquer operação de seguro, quanto maior for o risco para proteger o investidor, mais caro será o CDS.
É bom deixar claro que esses seguros, normalmente, são adquiridos por bancos, seguradoras e fundos de investimentos, por causa do alto volume de recursos que eles têm em títulos de dívida pública. Para se ter uma ideia, esse instrumento é negociado em lotes de 10 milhões de dólares, ou seja, ele fica restrito aos grandes fundos e empresas.
A negociação desses seguros acabam indicando o quão arriscado é determinado país. Por exemplo, se no mercado de seguros existir uma maior demanda por proteção contra determinado país, quer dizer que há mais pessoas preocupadas em não serem pagas por esse país, sendo assim, o mercado financeiro interpreta que o risco daquele país é mais alto. Vale lembrar que o valor do CDS é calculado com a mesma lógica do EMBI+, sendo que cada 100 pontos-base são 1% de juros.
O gráfico abaixo apresenta com bastante detalhes a evolução do risco-país brasileiro sob a ótica do CDS. Como pode ser visto, no dia 26 de Março de 2021, o nosso índice estava com 217,6 pontos. Além disso, o gráfico evidência momentos marcantes para a história brasileira, como Joesley Day, dia da divulgação dos áudios gravados de uma conversa entre o empresário da JBS e o então presidente, Michel Temer. Na época, essa situação fez com que um clima de incertezas tomasse conta do país, pois poderíamos entrar em um possível processo de impeachment – hoje sabemos que isso não ocorreu -.
Rating Soberano
Por fim, a classificação do risco de crédito de um país através de uma nota é bastante usado por investidores. Agências especializadas em rating – Avaliação -, como Standard & Poor´s (S&P), Fitch Ratings e Moody´s, atribuem uma nota de acordo com a expectativa em que determinada dívida seja honrada. Mesmo que não seja um indicador típico de risco-país, como os citados anteriormente, ele acaba atuando de forma similiar.
Para se dar esse nota aos países, as agências se baseiam na quantidade de reservas internacionais, solidez econômica e estabilidade política. Além disso, questões como liberdade de imprensa e desigualdades sociais também entram na medida.
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As notas que as agências de classificação de crédito dão para os países vão de AAA, que significa o menor risco possível, até a D, quando o país corre risco de moratória – declarar suspensão do pagamento da dívida. Países com notas AAA são Noruega e Canadá, por exemplo, enquanto que um país que apresenta riscos substanciais de não pagamento de sua dívida é a Argentina, na qual tem uma nota de CCC. O Líbano, que já entrou em moratória, apresenta a nota mínima, D.
Outro detalhe interessante são as categorias. A denominada categoria de investimento indica os países mais seguros para se investir, ou seja, os que são mais estáveis socioeconomicamente. As nações que fazem parte desse grupo são as mais ricas, de forma geral.
A outra categoria é a de investimento de risco, ou comumente chamada de especulativa, que engloba os países mais arriscados para se investir, que de forma geral são os mais pobres. Vale ressaltar que por ser mais arriscados, os investidores também podem gozar de retornos mais vantajosos.
Segundo o site do Tesouro Nacional, essas são as notas dadas pelas agências de rating do mundo ao Brasil:
Pode-se perceber que o país fica com notas entre BBB- e BB-, ao passo que nas principais agências – Standard & Poor´s (S&P), Fitch Ratings e Moody´s – a nota fica mais próxima da menor delas, a BB-. Sendo assim, o Brasil acaba por ser enquadrado na categoria de investimento de risco. Outro ponto que merece atenção é de que somente a Fitch vê tendência negativa ao Brasil, o que pode ser visto como algo positivo, pois todas as outras agências consideram a perspectiva brasileira como estável.
O professor Ribeiro, do Insper, salienta que a situação socioeconômica brasileira, que tem sido bastante afetada pelos problemas internacionais gerados pela pandemia, também está enfrentando dilemas domésticos, pois a agenda de reformas está paralisada desde a aprovação da Reforma da Previdência.
“Eu acho que estamos em uma sobreposição de dois elementos de mal-estar: um lá fora e um doméstico. […] Se estivesse tudo bem no Brasil, o risco país subiria diante dessa turbulência global, mas não subiria tanto”
Como esse indicador impacta em um país?
Acredito que ao chegar aqui você já deve ter entendido os principais pontos referentes ao conceito de risco-país. Agora, será listado os principais impactos que esse indicador pode ter para o país:
- A flexibilidade fiscal é bastante impactada pelas variações do risco-país. Como esse indicador está atrelado com o risco que o investidor estrangeiro está correndo, quanto maior for esse risco, o governo terá que oferecer um retorno maior – aumento da Taxa Selic, ou seja, pagar mais juros aos investidores – para que esses investidores permaneçam, ou, simplesmente, perdê-los para mercados que oferecem uma relação risco-retorno mais agradável;
- O financiamento via setor privado também acaba sendo impactado pelo índice. Isso porque essas instituições, por estarem dentro desse país, acabam correndo riscos sistêmicos dessa nação. Logo, com uma queda no risco-país, o setor privado teria recursos mais abundantes e com mais qualidade, fazendo com o mercado financeiro nacional fosse mais ativo;
- Um dos setores da economia que mais dependem de massivos investimentos para prosperar, e que é de extrema importância para o desenvolvimento de um país, é a infraestrutura. Os governos sempre buscam investir nesse setor, entretanto, como os recursos são limitados, essa área da economia acaba dependendo do capital estrangeiro para se expandir. E como depende de recursos internacionais, o risco-país acaba sendo determinante para o desenvolvimento desse setor;
- Como estamos falando de entrada e saída de capital de um país, o câmbio também acaba sendo afetado por esse indicador. Com um risco-país alto, o país tem uma menor capacidade de atração de investidores estrangeiros, o que diminui a entrada de capital. E essa situação é agravada pela migração de capital de brasileiros ou estrangeiros, que já estavam realocados no país, para outro lugar. Sendo assim, com menos pessoas querendo a nossa moeda, ela desvaloriza em relação as outras, fazendo com que o nosso câmbio se deteriore;
- Por fim, se esse ciclo vicioso de piora do cenário do país não se romper, fazendo com que o risco-país continue se deteriorando, podemos assistir uma degradação a economia dessa nação. Isso seria representado, por exemplo, por quedas no PIB (Produto Interno Bruto) e menor arrecadação fiscal, assim como aumentos na inflação e desemprego. Por fim, essa situação poderia seguir-se para problemas políticos e sociais graves.
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REFERÊNCIAS
Conteúdos XPI – Eu quero investir – IPEA Data – Onze – Clube dos poupadores – Tesouro Nacional – Dinheirama – UOL Economia
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