Só tem seca no nordeste? Efeitos das mudanças climáticas no mundo

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A ONU definiu 17 de Junho como o Dia Mundial do Combate à Desertificação e à Seca em 1994. A ação é uma iniciativa para conscientizar sobre a utilização do solo e para estimular soluções para a problema nos países mais atingidos. Mas é importante destacar que a questão da seca passou a envolver outros elementos nos últimos anos, uma vez que pode ser agravada pelas mudanças climáticas.

O fenômeno não está restrito à região nordeste do Brasil, nem a países da África. Até regiões frias ou que sofreram enchentes sofrem com a seca. É o caso da América do Sul e da Europa. A última, mesmo tendo sido atingida pelas enchentes no último ano, está com níveis subterrâneos de água muito baixos. 

Neste texto, a Politize! vai te mostrar um quadro geral sobre a seca no mundo e no Brasil, além de explicar como ela pode se relacionar com as mudanças climáticas.

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A seca como um problema global

Desde 2018, a Europa Central vem sofrendo com uma estiagem. Uma pesquisa do Instituto de Geodésia da Graz University of Technology constatou que o nível das águas subterrâneas está baixo e não houveram aumentos. Além disso, tem-se observado que as chuvas são insuficientes e que o calor é mais intenso. 
Em 2022, a seca no continente foi sentida com mais intensidade, sendo a pior dos últimos 500 anos. A pesquisa do Observatório Global da Seca (GDO) demonstrou que quase metade do continente estava sofrendo com falta de umidade no solo, queda do nível de água em rios e reservatórios. Essa seca prejudica os transportes fluviais e a produção de energia e alimentos.

A imagem apresenta um canal da cidade de Veneza, na Itália. Ele está seco e tem um barco no leito do canal. ao fundo pessoas atravessam uma pequena ponte a pé e olham para o canal vazio.
Canais de Veneza sofrem redução no volume de água por conta da seca. Imagem: The Independent

Outras consequências mais graves também foram sentidas. No verão de 2022, incêndios florestais atingiram pelo menos 25 mil hectares de floresta em países como França, Portugal e Espanha. Além disso, as altas temperaturas do período, que chegavam a passar dos 40°C, causaram cerca de mil mortes, segundo os órgãos de saúde espanhol e português.  

Mas  a seca não está restrita ao verão. A falta ou a pouca incidência de neve no inverno também é um indicador do problema. Para o CIMA Research Foundation, as temperaturas amenas e a falta de precipitação de neve, que ocorreu nos anos de 2022 e 2023, levam a uma diminuição no armazenamento de água na forma de neve. Isso significa que recursos hídricos oriundo da água da neve são comprometidos.

A seca no Brasil

No Brasil, é comum pensar que a seca seja um fenômeno exclusivo da região nordeste. Nessa região, os períodos de estiagem são comuns e a chuva em certas faixas pode chegar a menos de 750 mm por ano. Em um levantamento da década de 50 foi criado o termo polígono das secas, que compreende a região atingida por secas periódicas, que podem durar entre 2 e 3 anos. Ele inclui os estados do Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e a parte norte de Minas Gerais. 

O Maranhão é o único estado nordestino que não estaria no polígono das secas e, portanto, não sofreria com períodos longos de estiagem. Entretanto, nos últimos 20 anos, o estado também passou a sofrer com esse problema. 
O aumento da área de seca pode ser explicado pela exploração dos recursos naturais, como o desmatamento e o uso predatório da terra. A retirada de vegetação  reduz a capacidade de retenção de água do solo, tornando-o cada vez mais árido. Além disso, as nascentes de rios ficam desprotegidas e podem secar.

Leia também: o papel das florestas na contenção das mudanças climáticas 

A seca no nordeste é um problema  conhecido desde o período do Império. Desde então, ações para mitigá-la são feitas, o que inclui a criação de açudes e órgãos ligados ao Governo Federal. No entanto, as políticas públicas criadas são paliativas, não preventivas.

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Só tem seca no nordeste?

Mas mesmo que essa região seja a mais conhecida por essa problemática, ela não é a única que sofre com isso no Brasil. Todas as regiões do país sofrem, em alguma medida, com a seca, com características diferentes. 

O relatório de janeiro de 2023 do Monitoramento de secas e impactos no Brasil mostrou a situação hídrica do país e apontou para permanência da condição de seca nas regiões norte, sul e centro-oeste. Os estados do Acre, Pará, Rondônia e Tocantins estão com status de seca moderada e severa. Já no Rio Grande do Sul, o status é de seca extrema. 

A imagem abaixo mostra o índice Integrado de seca para o Brasil, medido para três meses (à esquerda) e para 6 meses (à direita). Nele é possível ver as regiões que sofreram com condições de acordo com o tempo.

a imagem apresenta um gráfico que ilustra 2 mapas do brasil e aponta status de seca há 3 meses e há 6 meses.
À esquerda, tem-se uma projeção dos 3 meses passados, com uma concentração no norte, centro-oeste, sul e sudeste  do país. À direita, tem-se a projeção de 6 meses. Nela as áreas atingidas cresceram, mas ainda estão concentradas no norte, centro-oeste, sudeste e  sul do pais. Regiões do nordeste também aparecem em condições de seca fraca.
nos dois gráficos, o estado do Rio Grande do Sul aparece com as maiores gravidades de seca.
Nos últimos 6 meses, registrou- se condições de seca na maior parte do país. Imagem: CPTEC/ INPE

Atualmente, o estado do Rio Grande do Sul é o que mais sofre com a seca. Com uma duração que chega a três anos, o estado possui quatro municípios em condição de seca excepcional e 111 em seca extrema. O que está ocorrendo no extremo sul do país pode ser explicado pelo fenômeno La Niña, que provoca o resfriamento das águas do pacífico e provoca um regime de estiagem no sul.

Vale ressaltar que o país tem a tendência de ficar mais seco. De acordo com o levantamento do MapBiomas Águas, todos os biomas, com exceção do pampa, ganharam água no ano de 2022. Entretanto, desde 2010, esse número vem caindo. O que representa uma propensão para a diminuição do acúmulo de água.

Veja também nosso vídeo sobre as queimadas no Pantanal e na Amazônia!

O papel do Brasil no combate a seca

O Brasil é signatário da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos das Secas (UNCCD) e é tido como uma das maiores lideranças globais na problemática. 

A UNCCD é um documento que orienta para o desenvolvimento de regiões atingidas pela seca de forma sustentável. Além disso, ele estabelece metas, a nível internacional, para a criação de estratégias que supram necessidades surgidas em espaços áridos e semiáridos.

Saiba mais: o que é negacionismo climático?

Agravantes para a seca

O Centro de Previsão Climática da Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos confirmou para esse ano o fenômeno El Niño. Ele promove o aquecimento das águas do pacífico, o que acaba por criar um aquecimento atmosférico que culmina em invernos mais quentes, longos períodos de seca e baixa umidade do ar em determinados locais, enquanto em outros, pode causar chuvas torrenciais. 

Esse fenômeno é global e um dos países mais atingidos por ele é o Brasil. O El Niño aumenta o risco de seca nas regiões norte e nordeste do país. Além de poder provocar umidade de ar semelhante à de desertos em regiões interioranas do país.

Seca, água e mudanças climáticas

Segundo o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), as secas prolongadas e severas são uma das consequências das mudanças climáticas e tendem a se agravar conforme a crise climática for crescendo, o que pode gerar riscos para a vida e para infraestruturas. 

Quer entender mais sobre o combate às mudanças climáticas? Confira o conteúdo do Projeto Direito ao Desenvolvimento: Como combater as mudanças climáticas? Conheça as metas do ODS 13!

A Organização Meteorológica Mundial (OMM), em seu primeiro estudo sobre o fluxo de água, mostrou que cerca de 3,6 bilhões de pessoas não têm acesso adequado à água por pelo menos um mês ao ano. No relatório, estima-se que em 2050 esse número pode chegar a 5 bilhões. 

Ainda segundo a OMM, as mudanças climáticas acabam sendo sentidas com mais intensidades em fenômenos que envolvem a água. Estresse hídrico, secas intensas, inundações e chuvas torrenciais são os principais e representam lados de uma mesma moeda: a crise climática, que tem como uma das causas a exploração predatória dos recursos naturais. 

Desse modo, a melhor forma para conter ou mitigar os efeitos de secas e outras problemáticas é o cuidado com recursos naturais, que se traduz em propostas que incluem a preservação das florestas e vegetações e tratamento adequado da água.

E, aí, conseguiu entender um pouco mais sobre o panorama da seca? Conta aqui nos comentários? 

Referências
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1 comentário em “Só tem seca no nordeste? Efeitos das mudanças climáticas no mundo”

  1. O “El Niño” não é uma agravante para esta enorme seca mundial, ele é a causa!!! Com as estações do ano onde é verão a seca vai ser muito intensa enquanto o fenômeno durar. Aqui na Amazônia está além do normal, o verão aqui, era para começar em setembro mas começou em junho junto com o El Niño. É fácil falar em desmatamento e queimadas quando não se vive na Amazônia. As queimadas aqui na Amazônia são feitas por pequenos agricultores que preparam o solo para o plantio de subsistência os focos são isolados porém são muitos, daí que vem a fumaça que todo mundo vê nas mídias. Então as causas desta seca, não são as queimadas, são as estações do ano junto com o El Niño. Eu acho que governo brasileiro e o mundo deveriam se preocupar mais com o povo que vive na Amazônia do que a própria Amazônia, que a sua integridade vai muito bem!
    Deveríamos nos preocupar com os estrangeiros que estão de olho na “nossa” Amazônia e com os que já estão instalados aqui por meio de ONGs.

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Conteúdo escrito por:
Cearense, estudante de Jornalismo na UFC e alumni da AIESEC. Amo esportes e trabalhos voluntários.
Souza, Lóren. Só tem seca no nordeste? Efeitos das mudanças climáticas no mundo. Politize!, 14 de junho, 2023
Disponível em: https://www.politize.com.br/seca-e-mudancas-climaticas/.
Acesso em: 23 de nov, 2024.

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