“Tigres Asiáticos” é um termo referente à Hong Kong, Singapura, Coreia do Sul e Taiwan, quatro territórios que tiveram um grande desenvolvimento econômico no meio do século XX.
Mais do que isso, assim como os tigres —ágeis e velozes—, estes países desenvolveram-se com rapidez impressionante a partir dos anos de 1950. Tanto que, atualmente, a presença dos Tigres Asiáticos é muito importante para a o mercado internacional.
Então, que tal parar um pouco o seu dia para ler mais sobre estes países e seu curioso caso de crescimento econômico? Aposto que irá se surpreender com as informações deste texto!
Em que contexto se encontravam os Tigres Asiáticos depois da Segunda Guerra Mundial?
Para compreender o desenvolvimento dos Tigres Asiáticos, é importante analisar o cenário em que esses países se encontravam após a Segunda Guerra Mundial. O conflito deu origem à Guerra Fria, uma disputa político-ideológica entre os Estados Unidos da América (EUA) e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que se manifestou globalmente entre 1945 e 1989.
O mundo foi dividido em zonas de influência, com o bloco capitalista liderado pelos EUA e o socialista pela URSS. Durante esse período, a Ásia testemunhou o crescimento de movimentos nacionalistas e anti-imperialistas, além de uma onda de descolonização entre as décadas de 1940 e 1960, marcada por revoluções com características socialistas (China, Coreia e Vietnã) ou nacionalistas (Índia e Indonésia).
Assim, um continente marcado em sua história por imperialismos e interferências externas desde o século XIX, agora se via na luta por libertação.
Se interessou? Veja também: Imperialismo na Ásia.
Agora que entendemos o contexto a qual estes países se encontravam no pós-Guerra, é necessário explicar os governos deste período e os apoios os quais possuíam antes de relatar seu processo de desenvolvimento! Então vamos lá?
Tigres Asiáticos: nacionalismos, revoluções e governos
O surgimento de Taiwan como uma região autônoma tem origem na Revolução Chinesa (1927-1949), uma guerra civil entre nacionalistas chineses, socialistas chineses e imperialistas japoneses, culminando na vitória do Partido Comunista Chinês (PCC) em 1949.
Nesse mesmo ano, o PCC, sob a liderança de Mao Zedong, controlava a maior parte da China continental e, em 1º de outubro, proclamou a República Popular da China (RPC) como o governo legítimo do país, estabelecendo um regime socialista e de partido único.
Em resposta, os nacionalistas, liderados por Chiang Kai-shek, fugiram para Taiwan, onde fundaram o governo da República da China com apoio dos EUA, declarando Taipei como a capital. Sob Kai-Shek, Taiwan passou por 38 anos de autoritarismo, lei marcial e perseguições contra comunistas. Após sua morte em 1975, seu filho Chiang Ching-Kuo assumiu o poder até 1988, quando iniciou-se a democratização do território.
Enquanto isso, outro caso também relacionado a China é o de Hong-Kong. Atualmente Hong-Kong é considerado uma Região Administrativa Especial (RAE) da RPC, porém, isto nem sempre foi assim. Entre 1842 e 1997, a região era considerada uma colônia britânica, inicialmente focada na utilização de seus portos para a exportação de ópio no século XIX.
No século XIX, a China, governada pela dinastia Qing, enfrentou tensões devido ao comércio de ópio, levando às duas Guerras do Ópio (1839-1842 e 1856-1860). O Império Britânico venceu ambas as guerras, garantindo a continuidade do comércio de ópio e expandindo suas colônias em torno de Hong Kong.
Em 1898, a dinastia Qing assinou um acordo com o Império Britânico, estendendo a presença britânica em Hong Kong por 99 anos, até 1997. Mesmo após a revolução de Mao Zedong, esse acordo foi mantido, e Hong Kong permaneceu sob administração colonial britânica até a data limite definida anteriormente.
No caso da Coreia do Sul, entre 1910 e 1945 a península coreana foi anexada como colônia do Império do Japão, período em que seu povo sofreu com crimes contra a humanidade e sua economia foi estruturada para a agroexportação.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial se aproximando, a URSS invadiu o norte da península em agosto de 1945 para combater os japoneses, enquanto os EUA ocuparam o sul, resultando na divisão da Coreia ao longo do paralelo 38º. Essa divisão criou duas áreas administrativas distintas: a Coreia do Norte, sob influência soviética e liderada por Kim Il Sung, e a Coreia do Sul, sob influência americana e liderada por Syngman Rhee.
Em 1950, a Coreia do Norte atacou a Coreia do Sul, mas a intervenção dos EUA ajudou a encerrar o conflito em 1953, mantendo a divisão da península. Após a guerra, a Coreia do Norte continuou sob um regime autoritário, enquanto a Coreia do Sul, inicialmente também autoritária e apoiada pelos EUA, passou por um processo de democratização nos anos 1990, transformando-se em uma democracia.
Para saber mais detalhes leia aqui: Guerra da Coreia
Por sua vez, Singapura, uma ilha no sudeste asiático, foi uma colônia britânica estratégica para o comércio marítimo e a marinha britânica. Com o aumento do sentimento nacionalista, a Inglaterra iniciou um processo de independência gradual, concedendo autonomia em 1959 e a independência total em agosto de 1963.
Após um referendo, Singapura uniu-se à Malásia em setembro de 1963 para formar a Federação da Malásia, mas em 1965 separou-se pacificamente devido a discordâncias políticas e econômicas. Desde então, Singapura tem sido governada pelo Partido de Ação Popular (PAP).
O governo de Singapura é amplamente descrito como autoritário, e seu líder mais proeminente foi Lee Kuan Yew, que atuou como primeiro-ministro entre 1959 e 2015, consolidando o país como uma das economias mais fortes da região.
Leia mais: Um continente em disputa: o que foi o imperialismo na Ásia?
O desenvolvimento dos Tigres Asiáticos: a revoada dos gansos e interferência estatal
O desenvolvimento dos Tigre Asiáticos está conectado em grande parte pela relação da Ásia com o Japão e os EUA no pós-Guerra.
Com o apoio dos Estados Unidos, o Japão passou a ser um líder regional durante a Guerra Fria. Sendo responsável pelo estabelecimento de uma nova divisão regional do trabalho entre os países asiáticos: A revoada dos gansos
Esta divisão é nomeada de tal forma, pois, em um vôo de gansos há o formato em V invertido, a qual existe um líder na frente guiando o caminho enquanto os outros o seguem. Similarmente a isto, o Japão era considerado aquele que guiaria o desenvolvimento dos países das alas posteriores.
Assim, a economia japonesa seria a primeira a desenvolver sua tecnologia e indústrias mais complexas e, em seguida, repassaria para as alas traseiras. Aqueles que ficassem na segunda fileira do voo, predominantemente os Tigres, por sua vez, também fariam o trabalho de repassar os conhecimentos para os outros países asiáticos que ficassem mais atrás na formação.
Para além disso, o desenvolvimento dos Tigres também está relacionado com as políticas econômicas adotadas. Em todos os quatro durante a Guerra Fria, os governos poderiam ser caracterizados como autoritários e intervencionistas na economia. Também deve-se considerar o forte apoio econômico Ocidental, especialmente na Coreia do Sul e Taiwan, para garantir a influência capitalista na região.
A estratégia adotada pelos Tigres então se caracterizou por um “capitalismo intervencionista”. A qual inicialmente possuía uma política de substituição de importação, proteção das empresas nacionais e participação conjunta do capital privado, além de massivos investimentos em infraestrutura e educação.
Enquanto os outros três Tigres focaram na maior participação de empresas nacionais de médio porte, a Coreia do Sul focou nas grandes. Foram criadas conglomerados das maiores empresas privadas coreanas a qual conseguiam proteção e investimento estatal para se desenvolverem, os chamados “chaebols”.
Assim, os Tigres Asiáticos conseguiram desenvolver suas economias industriais com alta tecnologia e mão de obra qualificada.
Leia também: Qual o papel do Estado no desenvolvimento da economia?
A importância dos Tigres Asiáticos no século XXI
Com o fim da Guerra Fria no final da década de 1990, os EUA reduziram o foco na Ásia, e a dissolução da URSS trouxe pressão por maior democratização aos páises vistos como autoritários.
Hong Kong passou a ser uma RAE da RPC em 1997, como prometido pelos britânicos, mas com certa autonomia política e econômica por mais 50 anos. Enquanto isso, Taiwan e Coreia do Sul passaram por reformas democráticas em seus respectivos sistemas políticos. Por sua vez, Singapura passou por reformas políticas, mas ainda há denúncias de autoristarismo.
De toda a forma, esses quatro países têm se consolidado como pilares essenciais da economia global no século XXI. Esses países têm desempenhado papéis vitais nas áreas de finanças, tecnologia e manufatura, com contribuições significativas para o crescimento econômico global.
Hong Kong e Singapura são centros financeiros de importância global, com Hong Kong ocupando a terceira posição mundial em termos de volume de mercado de ações, atrás apenas de Nova York e Tóquio. Enquanto isso, Singapura se destaca como o principal centro financeiro do Sudeste Asiático, com uma infraestrutura que suporta o fluxo de bilhões de dólares em transações financeiras diariamente.
Por sua vez, a Coreia do Sul e Taiwan são líderes em inovação tecnológica e manufatura de alta tecnologia. A Coreia do Sul, lar de gigantes como Samsung e LG, é o 5º maior exportador mundial de bens de alta tecnologia. Enquanto isso, Taiwan é responsável por cerca de 60% da produção global de semicondutores, desempenhando um papel crucial na cadeia de suprimentos tecnológica global.
Ademais, o seu rápido crescimento econômico, foco no investimento em educação e inovação tecnológicas são fênomenos de estudo em nível global. Portanto, a crescente influência desses países sublinha sua importância na economia internacional.
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Referências
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- BBC NEW Brasil – Cingapura: como país deixou de ser uma ilha pobre para se tornar uma das nações mais ricas do mundo
- Britannica – Opium Trade
- E-INTERNATIONAL RELATIONS – The Asian Tigers from Independence to Industrialisation
- LEE, Fu Lan. AN INTRODUCTION TO THE HISTORY OF TAIWAN. Journal Gdańskie Studia Azji Wschodniej, v.1, n. 5, p.95-105, 2014.
- PACHECO, Diego Cota. Brasil e Tigres Asiáticos: desenvolvimento econômico comparado à luz da Nova Economia das Instituições. Dissertação (Mestrado) – Economia do Setor Público, Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Ciência da Informação e Documentação, Universidade de Brasília, Brasília, 73 f., 2021.
- POMAR, Wladimir. A Revolução Chinesa. 1ª ed. São Paulo: Editora UNESP, 2004.
- SIDDIQUI, K. A Study of Singapore as a Developmental State. Chinese Global Production Networks in ASEAN, 2015, p.157-188.
- SUNO – Crise asiática de 1997: entenda como aconteceu a crise dos Tigres Asiáticos
- The Economist – 1898 and all that—a brief history of Hong Kong
- VISENTINI, Paulo F. As Relações Diplomáticas da Ásia. Belo Horizonte: Fino Traço, 2011.
- VISENTINI, Paulo F.; PEREIRA, Analúcia Danilevicz; MELCHIONA, Helena Hoppen. A Revolução Coreana: o desconhecido socialismo Zuche. São Paulo: Editora UNESP Digital, 2015.
- Wikimedia Commons – Formação do vôo de gansos.
- Wikimedia Commons – Os quatro Tigres Asiátitcos no mapa.