Imagem de um robô segurando um livro.

O uso da Inteligência Artificial nas dublagens: perigo ou avanço?

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Provavelmente você já viu algum filme dublado. Seja uma animação ou um filme estrangeiro traduzido para o português. Mas você sabia que é possível utilizar a inteligência artificial nas dublagens?

As dublagens são feitas por dubladores ou por atores. Porém, com o avanço da tecnologia e, principalmente, das inteligências artificiais, os estúdios acharam uma nova forma de inovar.

Se você quer saber mais sobre o uso de inteligência artificial nas dublagens e como ele levanta questões éticas e fundamentais da tecnologia, continue lendo este texto! Aqui, a Politize! explica tudo para que você fique por dentro do assunto.

A Inteligência Artificial nas dublagens

As dublagens, em geral, permitem adaptar o entretenimento visual para diferentes idiomas, conectando culturas de países ao redor do mundo.

No processo de uma dublagem são contratados atores ou dubladores para dar voz aos personagens, traduzindo filmes, séries, programas e animações.

O avanço da tecnologia no meio do audiovisual permitiu que as técnicas de produção fossem aprimoradas para otimizar o trabalho e aumentar a qualidade dos projetos.

Dessa forma, a Inteligência Artificial começou a ser utilizada nas dublagens para melhorar a qualidade do som, tornar as vozes mais semelhantes às originais e agilizar o processo. Essa é uma técnica que está sendo usada principalmente por plataformas pagas de streaming.

Em meio a isso, algumas pessoas começaram a levantar questões éticas que atravessam o uso da inteligência artificial nas dublagens. Uma delas é até que ponto as vantagens da IA compensam a artificialidade que substitui o trabalho humanizado.

A evolução da dublagem: de humanos a máquinas

A dublagem que conhecemos surgiu no início da década de 30, logo atrás dos primeiros filmes falados. Os estúdios de Hollywood estavam na famosa era de ouro e precisavam de uma maneira de exportar seus filmes para outros países.

Até então, com o cinema mudo, o idioma não era algo que fazia diferença na experiência dos espectadores. Com a chegada do som nas telas, eles precisaram inovar para manter o público estrangeiro.

Alguns diretores hollywoodianos chegaram a gravar filmes duas vezes, uma no Estados Unidos e outra em países como a França, mas o custo era muito alto.

Então Edwin Hopkins e Jacob Karol lançaram o primeiro filme que utilizava um sistema de som que permitia substituir as vozes originais por vozes gravadas no estúdio.

A partir daí, os países europeus foram no mesmo caminho, lançando filmes dublados no começo dos anos 30. No Brasil, a invenção só chegou no final da década, com o lançamento de Branca de Neve e os Sete Anões, de Walt Disney.

Imagem de matéria de jornal falando sobre a dubladora de Branca de Neve de 1938. Texto: O uso da Inteligência Artificial nas dublagens: perigo ou avanço?
Elenco e Elenco Técnico da Dublagem do Filme Branca de Neve em 1938. Imagem: A Memória da Dublagem.

Na época, as dublagens demoravam até três vezes mais para serem feitas. Com o avanço da tecnologia, práticas foram adotadas para otimizar o que era feito e diminuir esse tempo.

Uma das principais tecnologias que influenciaram o setor foi o uso de software de edição e aprimoramento de voz, que modifica a voz do ator sem alterar a trilha sonora e os efeitos sonoros.

Mas então, como funciona o uso da inteligência artificial nas dublagens?

De acordo com o site da Captions, uma empresa especializada em edição de vídeo e pesquisa de inteligência artificial, a IA usa algoritmos de aprendizado de máquina para escanear partes do áudio e gerar scripts traduzidos.

Esses modelos então usam vozes sintéticas para dublar o que é falado e sincronizam na tela o áudio traduzido com os movimentos do alto-falante.

Benefícios do uso da Inteligência Artificial nas dublagens

  • Velocidade e eficiência: com o uso da IA, as dublagens podem ser feitas em muito menos tempo. O aprendizado dos algoritmos torna o processo mais prático a cada vez que é feito e isso permite agilizar a distribuição de filmes e séries;
  • Redução de custos para produtoras: as produtoras conseguem economizar ao usar apenas sistemas de software, sem a utilização de mão de obra humana. Além disso, as empresas lucram mais com o aumento da produção audiovisual;
  • Acessibilidade para línguas menos faladas: com a IA traduzindo as vozes por algoritmo, as possibilidades multilinguísticas da dublagem se expandem. Uma maior diversidade de países podem ter acesso ao que é produzido no exterior;
  • Precisão e naturalidade: através do reconhecimento de vozes, a IA consegue reproduzir com precisão a voz original. Assim, a voz se encaixa melhor com a imagem, trazendo naturalidade para quem assiste.

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Desafios e controvérsias do uso da Inteligência Artificial nas dublagens

  • Qualidade e autenticidade: as ferramentas de inteligência artificial ainda não conseguem reproduzir por completo as emoções presentes na voz humana, o que pode deixar a dublagem artificial;
  • Perda de identidade cultural: as IA’s trabalham com algoritmos que aprendem, mas que ainda são padronizados. Assim, as características de cada voz não conseguem ser transmitidas, podendo fazer com que as dublagens percam sua identidade;
  • Xenofobia e regionalismo: as dublagens de IA podem apresentar problemas com sotaques, nuances e particularidades regionais. Além de mal interpretá-los, podem excluí-los das vozes gravadas;
  • Questões éticas: com essa nova tecnologia, foram levantadas muitas preocupações éticas, como o uso não autorizado de vozes de atores e dubladores por IA e a desumanização do cinema dublado.

O papel da IA na greve em Hollywood

Em 2023, os roteiristas dos Estados Unidos entraram em greve, lutando por melhores salários e melhores condições de trabalho. Milhares de pessoas foram às ruas protestar pedindo por mudanças em Hollywood.

Uma das principais pautas debatidas na greve era o uso da inteligência artificial nas produções. Roteiros escritos e revisados por IA estavam sendo usados em filmes, sem a autorização dos escritores.

Atores e dubladores se juntaram à greve, pedindo a regulamentação do uso de IA nas produções audiovisuais. A alegação era que seus empregos estavam desprotegidos com o avanço das novas tecnologias. Além disso, pediam proteção contra o uso não remunerado de suas vozes por IA.

Já o sindicato dos atores Screen Actors Guild (SAG-AFTRA) entrou na greve pedindo medidas contra a exploração da imagem dos atores.

De acordo com eles, negociações estavam sendo feitas para que os atores pudessem ter suas imagens escaneadas e vozes gravadas, ganhando apenas o pagamento de um dia de trabalho.

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Com essas pautas sendo protagonistas no cenário hollywoodiano, muito se comentou sobre as questões éticas do uso da Inteligência Artificial nas dublagens no meio trabalhista.

A greve culminou em muitos acordos. Dentre as propostas aceitas estavam que estúdios e produtoras deveriam sempre informar quando fosse utilizada a IA na produção e que os respectivos atores e dubladores deveriam ser devidamente remunerados pelo uso de sua imagem.

Imagem de pessoa protestando, com placas na mão, em defea de escritores de roteiro de Hollywood. Texto: O uso da Inteligência Artificial nas dublagens: perigo ou avanço?
Pessoas protestando na greve de Hollywood. Imagem: Seu Benefício Digital.

Momentos da IA no entretenimento

Mesmo com toda a discussão em torno do assunto e os potenciais riscos levantados, a IA continua crescendo nas produções e traz inovações um tanto quanto inesperadas.

Recentemente a Globoplay usou a inteligência artificial nas dublagens das entrevistas estrangeiras em sua série documental “Rio-Paris: a tragédia do voo 447, trazendo o debate para o Brasil.

Um ponto considerado interessante no uso da IA em produções audiovisuais é a forma como a memória pode ser eternizada a partir da tecnologia.

No novo filme da saga Indiana Jones, o ator Harrison Ford aparece como sua versão mais jovem, dando continuidade aos filmes antigos, a partir da digitalização de seu rosto.

Assim como a voz do ator Val Kilmer foi recriada por inteligência artificial para o filme “Top Gun: Maverick”. Kilmer perdeu suas cordas vocais após retirar um tumor na garganta.

A aparição do protagonista de Star Wars levou os fãs à loucura e só aconteceu por conta da utilização da IA, considerando a idade do ator.

Na cerimônia do Grammy, que aconteceu no início de fevereiro, tivemos outro exemplo disso. A partir do uso da IA, Paul McCartney e Ringo Starr conseguiram lançar uma música inédita dos Beatles, quase 45 anos depois da morte de John Lennon.

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Isso foi possível com uma demo que John Lennon tinha deixado gravada. Com a IA, isolaram o vocal do cantor e complementaram com as vozes e instrumentais dos outros integrantes.

O futuro da IA na indústria cinematográfica

O site da Academia Internacional de Cinema diz que uma das grandes promessas na tecnologia usada no audiovisual é o software Wonder Studios AI, usado para captar imagens de atores e reproduzi-las em 3D.

Já no Brasil, a produtora O2 Filmes criou um grupo para pesquisar sobre as novas tecnologias, visando melhorar e otimizar os processos de efeitos visuais e pós-produção.

Em meio a debates sobre a ética do uso tecnológico nas dublagens e no entretenimento em geral, é fato que o uso da inteligência artificial nas dublagens tende a aumentar.

A tecnologia, em geral, faz com que novas possibilidades possam ser exploradas. No mundo do cinema, mais pessoas vão ter acesso a filmes e séries, através da reprodução dos idiomas com precisão.

Apesar disso, sites especializados na indústria cinematográfica, como o da academia internacional de cinema, reforçam a necessidade da IA ser um complemento ao trabalho realizado por dubladores.

Enquanto a academia de cinema alerta que a IA pode desvalorizar o trabalho humano sem regulamentação, os criadores dos softwares de inovação apontam que a tecnologia pode ser uma aliada na expansão do mercado audiovisual.

De acordo com o site da GGLOT, a dublagem com tecnologia de IA deles oferece uma alternativa rápida, econômica e versátil. Isso traz a democratização do acesso ao cinema, tornando a produção mais eficiente e acessível. Além disso, a IA pode trazer muitas novidades e benefícios se for regulamentada, levando a dublagem para novos lugares sem deixar de preservar o direito dos artistas.

Produtoras como a Globo, que já iniciou o uso da IA na dublagem, argumentam que a IA pode reduzir custos e permitir que mais conteúdos sejam dublados para diferentes públicos, ampliando a audiência global de filmes e séries.

Então essa tecnologia está vindo para ficar na indústria cinematográfica. E quanto mais ela aparece, mais se comenta sobre como conciliar essa inovação com a garantia e valorização do trabalho humano.

Você já sabia sobre o uso da inteligência artificial nas dublagens? Qual a sua opinião sobre a ética dessa nova tecnologia? Conta para nós nos comentários!

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Conteúdo escrito por:

Isabella Amaral Mancini Fontes Toledo

Olá, meu nome é Isabella, mas pode me chamar de Bella. Sou uma mineira de 21 anos que está cursando Relações Internacionais no Rio de Janeiro. Amo estudar sobre política, estudos sociais e tudo que envolve o porquê de estarmos onde estamos dentro da sociedade. Em um domingo qualquer, vou estar lendo livros de mulheres passando pela fase dos 20 anos, vendo filmes antigos que aquecem o coração e criando playlists tarde da noite.
Toledo, Isabella. O uso da Inteligência Artificial nas dublagens: perigo ou avanço?. Politize!, 6 de março, 2025
Disponível em: https://www.politize.com.br/uso-da-inteligencia-artificial-nas-dublagens/.
Acesso em: 8 de mar, 2025.

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